Tempestade

Já se tinha percebido (por exemplo, "Na Linha de Fogo" ou "Air Force One") que Wolfgang Petersen, alemão "emigrado" em Hollywood, era um dos mais interessantes realizadores do "cinema de acção" americano. O facto de ser estrangeiro - e de ter sido "educado", no seu país natal, à base de filmes americanos - ainda parece que sedimentou nele um amor mais devoto pelo classicismo de Hollywood do que o dos próprios realizadores americanos. Em "Tempestade", a concisão no tratamento das personagens, da geografia emocional de uma pequena cidade (como na primeira parte de "Tubarão", de Spielberg), a forma como da aparência de realismo se desprende um fôlego mítico - o Andrea Gail e os pescadores que leva a bordo, cedo assumem a sua condição de espectros - ou o facto de os efeitos especiais digitais (obviamente "artificiais", o que carrega tudo de maior carga espectral) nunca nos fazerem esquecer das personagens, não podem deixar de evocar o cinema de Howard Hawks ou o "primitivismo" de Raoul Walsh. É pena que Petersen deite bastante a perder quando, na parte final, traia a secura que até então vinha marcando o filme. Sabe-se que se abateu sobre o projecto um medo: de que o final trágico, com a morte das personagens, como aconteceu na "vida real", em 1991, no Atlântico Norte, pudesse afastar os espectadores das salas. Houve mesmo a sombra de um "happy end". Isso foi evitado, mas à custa de compromissos: tudo o que se segue à morte de Clooney e Wahlberg (a sequência na igreja, por exemplo) é bastante inútil e só se justifica como um acrescento lacrimejante compensatório.

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