Trata-se porventura do mais belo filme de Abbas Kiarostami, sem necessidade de se refugiar nos artificialismos do "filme no filme", antes tocando a essência da arte das imagens com a secura da simplicidade. É cinema em estado de graça, filmando maçãs, searas e rostos com o rigor e a ternura de quem entende que a narrativa, mesmo nos grandes filmes narrativos de Hawks ou de Ford, pode não passar de um pretexto para olhar, simplesmento olhar. Por isso a metáfora do osso que se deita fora, sem nunca se desvendar o mistério das escavações, contamina a obra, tornando-a tão-só um acto mais-que-imperfeito de ver o mundo, semelhante à bola de estrume que o escaravelho desloca ou à maçã que rebola ante os nossos olhos. E pensamos no poema de William Carlos Williams, chamado "Perfeição", em que a beleza dos contornos de uma maçã e a sua bela cor acastanhada resultam do facto, desinteressante para o poeta, de ter apodrecido.
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