Mansfield Park

Já faltam poucos romances de Jane Austen (felizmente trata-se de uma obra de curta extensão) para alimentar a voracidade de um consumo audiovisual de ficções ilustradas. "Mansfield Park", um dos textos menos interessantes da autora, origina um sonolento exercício de reconstituição de chazinhos, passeios pelo campo e amores contrariados. Sem estrelas de valor mediático, mas com alguns nomes sólidos do teatro e das séries televisivas, com destaque para Lindsay Duncan no papel da mãe alcoólica, o filme é mais ambicioso do que o interessante "Emma" ou o insuportável "Persuation": mais do que uma simples adaptação, pretende-se enveredar por caminhos do autobiográfico, acrescentando ao romance cartas e outros textos memorialistas de Jane Austen. Para além disso torna-se visível nas relações entre as personagens femininas uma subtil intervenção feminista e um menos subtil substracto lésbico. Não está em questão a possibilidade de aplicar a Austen leituras que permitam a intuição de outras sexualidades, nem sempre associadas aos monumentos literários do passado. O problema é que a realizadora, Patricia Rozema, fica sempre pelas meias tintas, pela piscadela de olho, que nunca chega para abalar a sensaboria do produto engomado e "ready-made", para amantes de livros em versão formatada.

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