"Beleza Americana" trouxe o serial-killer preferido de todos nós, Kevin Spacey, para o espaço familiar, transformando-o numa estrela, convertendo-o. Não tarda muito está a fazer comédias familiares, embora, por agora, seja preciso admirá-lo, a ele e ao seu narcisismo. Quanto a Annette Bening não arriscava assim desde "The Grifters". Com este material, com estes actores e com este argumento, deve reconhecer-se que Sam Mendes, o encenador que se estreia na realização, não tem muito por onde estragar. Mas, apesar da excelência das várias partes, falta a "Beleza Americana" o deleite do olhar e a perdição que estão na personagem de Ricky, o rapaz da câmara de vídeo que filma pombos mortos e sacos de plástico ao vento - para ser duplo do cineasta Mendes, era preciso que o filme não tivesse esta perversidade tão "clean", como se Mendes encenasse marionetas num palco (mesmo os desvarios oníricos de Spacey são ilustrativos, sem "universo"). Lembram-se de "Felicidade", de Todd Solondz? É que enquanto esse filme recusava qualquer hipótese de epifania para as suas personagens - era profundamente amoral -, "Beleza Americana" faz de cada transgressão uma hipótese de redenção moral - de pacificação.
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