O Caso de Thomas Crown

Primeira coisa a constatar: raros são os cineastas americanos que, hoje, filmam um plano com um enlevo amoroso como o faz John McTiernan. Segunda: raramente dois actores são contratados para se atirarem desta forma um ao outro e raramente um cineasta se assume, assim, como terceiro vértice de um jogo predador de desejo e sexo. Rene Russo é uma criatura que só por este filme poderia ter justificada a sua carreira; Pierce Brosnan não deixa de nos fazer lembrar 007 mas até pisca o olho a Cary Grant. Mas... já não é possível filmar no estado de graça em que Alfred Hitchcock filmou os vertiginosos divertimentos que foram "Intriga Internacional" ou "Ladrão de Casaca", filmes que sob a sua aparente ligeireza eram tratados sobre a demência do sexo. Os passes de magia que se sucedem em catadupa em "O Caso Thomas Crown" são uma forma de viver essa impossibilidade. Se Hitchcock esvaziava tudo o que estava à volta de Cary Grant e Eva Marie Sant (em "Intriga Internacional") ou de Cary Grant e Grace Kelly (em "Ladrão de Casaca"), McTiernan já não consegue subir até à abstracção pura e prescindir dos mecanismos do cinema de acção (por exemplo, todo o "maquinismo" cinematográfico que antecede o baile em que Brosnan e Russo começam as suas coreografias amorosas).

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