Lancelote do Lago

Numa das suas famosas máximas teorizantes, Robert Bresson preconizava: "Constrói o teu filme sobre o branco, sobre o silêncio e a imobilidade". Longe da perfeita fidelidade a tais princípios, corporizada em obras-primas absolutas como "O Diário de um Pároco de Aldeia" (1951), "Pickpocket" (1959) ou "Uma Mulher Doce" (1969), a antepenúltima obra do catálogo bressoniano, agora finalmente estreada entre nós, "Lancelote do Lago" (74) oscila entre o rigor da "mise-en-scène" mais despojada e um certo esgotamento de fórmula levada ao limite do insustentável. Por isso, os muitos fulgores da neutralização dramática das personagens esbarram, por vezes, em cenas de acção filmadas ao nível de pés e pernas, que cortam a concentração e não passam de um arremedo do histórico. De qualquer modo, e sem autorismos radicais, bastariam os belíssimos encontros entre os amantes (castos e incandescentes como só o puritanismo jansenista de Bresson poderia conceber) para justificar plenamente esta estreia extemporânea.

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