Google bloqueado na China em véspera do aniversário do massacre na Praça de Tiananmen

A dois dias do 25.º aniversário, o governo chinês é de novo acusado de censurar a liberdade de expressão.

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Há 25 anos, era tirada uma das fotografias mais icónicas do massacre Reuters

Os serviços do Google estão a sofrer perturbações na China, pelo menos há quatro dias, quando se assinala, esta semana, o 25.º aniversário sobre a repressão do movimento pró-democracia da Praça de Tiananmen, onde morreram várias centenas de pessoas às mãos de soldados chineses.

Segundo o site GreatFire.org, que reúne e divulga informação sobre o bloqueio de sites e motores de busca na China, estão bloqueados os serviços de pesquisa, de imagens, de tradução, o Gmail e quase todos os outros produtos da empresa norte-americana, bem como as alternativas Google Hong Kong (a versão chinesa do Google), Google.com e versões de outros países.

O GreatFire.org indica que este é o resultado da “autoridade chinesa de censura” e que será a “mais estrita censura alguma vez desenvolvida”. “Não é claro que o bloqueio é uma medida temporária perto do aniversário ou um bloqueio permanente”, escreve o site, segundo o qual desde a semana passada que se registam as perturbações no acesso ao Google.

O site sublinha que este é o bloqueio mais grave que registou desde a suspensão dos serviços do motor de busca em 2012, quando este esteve sem acesso durante 12 horas.

Charlie Smith, fundador do GreatFire.org, adiantou ao South China Morning Post, que as perturbações verificadas são mais sofisticadas do que há dois anos atrás. “Em 2012, o acesso foi completamente bloqueado. Desta vez, apenas 90% do acesso ao Google está bloqueado. Os utilizadores pensam que se trata de um problema do Google ou do seu computador, quando na verdade é censura”, defendeu Smith.

Ao jornal, o Google Hong Kong recusou comentar estas alegações. À Reuters, um porta-voz da empresa avançou que estão a ser analisadas extensivamente e, até agora, “não foi encontrado nada de errado” no lado do Google.

A censura a sites e redes sociais estrangeiros são frequentes por parte do governo de Pequim. São frequentes os bloqueios ao Facebook, Twitter ou YouTube. A dois dias do 25.º aniversário do massacre na Praça de Tiananmen, quando soldados abriram fogo sobre manifestantes civis que exigiam maior abertura e democracia para o país, parece ter surgido mais uma medida para controlar o acesso a informação e imagens sobre o dia 4 de Junho.

Também nas ruas se verificou a intensificação do controlo sobre a data. Numa manobra apelidada de “manutenção da estabilidade”, dezenas de pessoas forma detidas ou presas. Segundo o jornal The New York Times, perto de uma dúzia de conhecidos académicos, intelectuais e dissidentes foram detidos por actos como publicar “selfies” tiradas na praça e fazendo o sinal de vitória com os dedos. Os jornalistas ocidentais foram advertidos que não devem aproximar-se de Tiananmen nas próximas semanas, caso contrário poderão sofrer consequências, relata o Times. Noutros anos, a praça foi totalmente encerrada.

A Amnistia Internacional compilou, por sua vez, uma lista de 50 pessoas que diz terem sido presas em toda a China nas semanas antes do 25.º aniversário.

De acordo com as organizações de defesa dos direitos humanos, centenas ou mesmo milhares de jovens foram mortos pelo exército chinês durante a repressão em Tiananmen. Pequim justificou a intervenção militar pela necessidade de combater uma rebelião "contra-revolucionária".

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