Urbanos quer comprar Groundforce à TAP após regresso aos lucros do handling

Depois de oito anos de prejuízos, a empresa de assistência em terra registou um ganho superior a dois milhões de euros em 2013. Grupo de Alfredo Casimiro quer 100% do capital para apostar na internacionalização.

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Groundforce registou lucros superiores a dois milhões de euros em 2013 Rui Gaudêncio

Após uma inversão histórica do ciclo de prejuízos, a Urbanos prepara-se para fazer uma proposta de compra pela Groundforce, operadora de handling cujo capital divide com a TAP. O grupo de logística, fundado por Alfredo Casimiro, quer 100% do capital da empresa para apostar na internacionalização. “Precisamos de ter a companhia disponível para a fazer crescer noutros mercados”, diz o empresário.

No acordo celebrado entre a Urbanos e a TAP em 2012, que só se tornou oficial um ano depois, após uma longa espera por autorização do Ministério das Finanças, ficou estabelecido que o grupo de logística teria direito a comprar os 49,9% detidos pela transportadora aérea. Caso não quisesse avançar, teria de abdicar da participação maioritária que controla. A decisão é avançar para a aquisição de 100% da Groundforce, avançou Alfredo Casimiro ao PÚBLICO.

“Estamos disponíveis para adquirir a participação da TAP”, referiu, acrescentando que “o objectivo é iniciar um processo de internacionalização”, estando já em desenvolvimento projectos em Angola, Moçambique, Cabo Verde, Marrocos e Emirados Árabes Unidos. O fundador e presidente da Urbanos adiantou que “também há possibilidades em aberto no Brasil”.

A proposta de compra ainda não foi formalmente apresentada, até porque o prazo para tomar a decisão termina em meados de 2014 e poderá ser prorrogado pelo facto de o concurso para atribuição de licenças de handling ter sido suspenso. A Groundforce é uma das candidatas à assistência em terra nos aeroportos de Lisboa, Porto e Faro, podendo, neste último caso e se sair vencedora, regressar a uma região onde deixou de ter operação em 2010.

“Estamos disponíveis para avançar mesmo sem saber os resultados do concurso” que está a ser gerido pelo Instituto Nacional da Aviação Civil, garantiu Alfredo Casimiro. O importante é que “nos sintamos livres para iniciar a expansão”, frisou. O empresário acredita que é lá fora que a Groundforce conseguirá ter “sustentabilidade em termos de crescimento”, acreditando que, a partir do momento em que os projectos internacionais estiverem em curso, “será possível crescer 10% ao ano”.

A vontade da Urbanos em ficar com 100% da empresa surge num momento de completa inversão de resultados. No ano passado, a Groundforce registou lucros pela primeira vez nos últimos oito anos, período em que “acumulou prejuízos de 168 milhões de euros”, explicou o dono da Urbanos. Os ganhos ultrapassaram os dois milhões de euros e o EBITDA (resultados operacionais antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) alcançou 3,7 milhões. “É o melhor resultado de sempre”, sublinhou Alfredo Casimiro.

O empresário tinha fixado como meta equilibrar as contas ainda em 2012, mas o atraso na autorização das Finanças não permitiu que a Urbanos assumisse a gestão a tempo de cumprir esse objectivo. Nesse ano, os prejuízos caíram significativamente, mas atingiram quase meio milhão de euros. Alfredo Casimiro acredita que a melhoria registada em 2013 se deve, em grande parte, à revisão do acordo de empresa, negociada com os sindicatos.

Se a compra da Groundforce se concretizar, será mais um passo na já atribulada história da operadora de handling, que a TAP apresentou em 2003 (ano em que foi separada do negócio da aviação) como um projecto para “maximizar o valor” da companhia de aviação. A empresa de assistência em terra dominava o mercado nacional e chegou a ter lucros de 3,1 milhões, quando o capital era dividido entre a TAP e a Globalia, que se separaram por alegados conflitos de gestão.

A fragmentação da assistência em terra foi entendida, em 2003, como parte de uma estratégia de embelezamento junto dos investidores para avançar com a privatização do grupo liderado por Fernando Pinto. Mas, até agora, a venda está por concretizar e não é ainda certo que avance este ano. O Governo já tem, neste momento, em mãos dados mais concretos para decidir se arranca com a segunda ronda da privatização, depois de a primeira tentativa ter fracassado em 2012 com a rejeição da proposta de Gérman Efromovich, e com que modelo. Depois do sucesso da dispersão em bolsa de 68,5% do capital dos CTT, o mercado de capitais é visto como uma hipótese para a TAP, apesar de haver investidores disponíveis para analisar uma venda directa, como aconteceu no caso da gestora aeroportuária ANA.

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