"Os sul-africanos não gostam de Zuma mas permanecem leais ao ANC"

Entrevista a Prince Mashele

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Prince Mashele: “O ANC ganha eleições porque nos últimos anos fez muito pelos pobres” DR

Investigador no Centre for Politics and Research de Pretória, Prince Mashele é co-autor, com Mzukisi Qobo, do livro The Fall of the ANC (“A Queda do ANC”, edições Pan MacMillan) e colunista do jornal Mail and Guardian da África do Sul.

A uma crónica recente deu o título “África do Sul é demasiado boa para ser destruída por tolos” (“South Africa is too great to be destroyed by fools”). Quem são os tolos que estão a tentar destruir o país?
Na cúpula do partido no poder, o ANC, há uma clique de líderes corruptos. Vários escândalos recentes de corrupção envolveram dirigentes seniores do partido e, no topo, também o Presidente, Jacob Zuma. São tolos porque não comprendem as implicações no longo prazo dos seus actos corruptos.

Essas pessoas estão a destruir o país?
Estão a destruir, sim. Desde que Jacob Zuma passou a liderar o partido, em 2008, e depois foi eleito Presidente, em 2009, enfraqueceu as instituições públicas, para que ele e as pessoas da sua confiança tirassem benefícios da corrupção do Estado.

Estas são as mesmas pessoas que estão ligadas à “Queda do ANC”, o título do livro de que é co-autor? Ou essa queda começou antes de Zuma?
Há certos elementos desta queda que começaram antes de Zuma chegar ao poder. O escândalo da compra de armas [nos anos 1990] decorreu durante a liderança de Nelson Mandela. Envolveu empresas francesas, britânicas e alemãs no pagamento de subornos a responsáveis sul-africanos, e alguns foram julgados e condenados. Mas a corrupção aumentou muito sob a liderança de Zuma. E a queda do ANC está relacionada com isso. Não me refiro a uma queda no sentido eleitoral, que possa ser sentida nos resultados das eleições de hoje, mas no sentido em que a imagem do ANC enquanto organização credível caiu. As pessoas, hoje, associam o ANC a uma organização de pessoas corruptas. É uma imagem muito diferente da que o partido tinha no passado.

E nada disso, segundo as sondagens, virá a afectar o resultado das eleições de hoje. Como se explica isso?
O ANC ainda é popular junto da maioria da população, porque, nos últimos anos, fez muito pelos pobres, que representam cerca de metade dos sul-africanos. Distribuiu gratuitamente casas, serviços de electricidade e água, o que antes as pessoas não tinham. Uma grande parte da população recebe subsídios e ajuda do Estado. Há desemprego, mas também há ajudas sociais. Com isto, percebemos porque é que os pobres continuam a votar no ANC. Essas ajudas mantêm-nos ligados ao partido.

O ANC é popular. E o Presidente, Jacob Zuma?
É muito impopular. Todas as sondagens o colocam abaixo dos 40% de opiniões favoráveis. E essa percentagem, na África do Sul, é extremamente baixa. Os sul-africanos não gostam de Zuma, mas permanecem leais ao ANC.

A oposição ainda não conseguiu descolar para se posicionar como alternativa de Governo?
A maioria dos sul-africanos não confia na Aliança Democrática [DA, na sigla em inglês], o principal partido da oposição. É visto como um partido dos brancos e dos privilegiados. Em resultado disso, não é visto como uma alternativa para governar.

Também porque o apartheid ainda está muito presente?
Na psicologia dos sul-africanos, o apartheid ainda está vivo e capaz de influenciar o resultado das eleições.

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