Um Tremor de música em Ponta Delgada

Chama-se Tremor e é um festival dedicado à música portuguesa recente que ocupará durante o dia e a noite deste sábado o centro de Ponta Delgada. “Há um certo fervilhar muito interessante e um potencial a despontar”, diz António Pedro Lopes, um dos organizadores. O Tremor quer pôr a cidade a mexer com Filho da Mãe, Glockenwise, Noiserv ou Jibóia.

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António Pedro Lopes com o Luís Banrezes, em Ponta Delgada Enric Enrich Jr

Haverá concertos na galeria e no ateneu. Haverá concertos na tasca e no teatro. Música na igreja, na sala de concertos, numa camisaria. Haverá mais do que concertos: uma projecção de Música em Pó, de Eduardo Morais, no 9500 Cineclube, os astros ao alcance do olhar no Observatório Astronómico da Ribeira Grande e mais o que as gentes do comércio tradicional de Ponta Delgada, porque é da capital da ilha açoriana de São Miguel que falamos, quiserem providenciar neste dia.

Chama-se Tremor e é um festival. Instala-se hoje na zona histórica da cidade e, a partir das 16h45, não parará (o passe geral custa 12€). São os Açores além “das vacas e das lagoas”, brinca António Pedro Lopes, um dos organizadores. “Há um certo fervilhar muito interessante e um potencial a despontar”, acrescenta.

A ideia de festival nasceu da consciência disso que desponta e do desejo de agitar a população, os agentes culturais e o comércio local, convidando-os a participar activamente. A oferta é variada, tanto quanto a nova geração musical portuguesa que ali se apresentará: do rock’n’roll dos Glockenwise à guitarra com fogo e vida dentro de Filho da Mãe; da melancolia do homem-orquestra Noiserv às digressões orientais de Jibóia; da expressividade pop de Sequin ao blues-rock dos locais Self Assistance e aos ritmos retro-futuristas de Mirror People. “Há uns dias alguém escrevia num blogue que durante anos só vinham cá os Xutos & Pontapés e os Blasted Mechanism”, conta António Pedro Lopes. “Pois bem, agora não há motivos de queixa” pela repetição – a maior parte dos nomes presentes actuam pela primeira vez nos Açores.

O Tremor é co-organizado pela Yuzin, agenda cultural micaelense fundada em 2010 por Luís Banrezes, um portuense radicado em Ponta Delgada, e a Lovers & Lollipops, a editora e promotora responsável, por exemplo, pelo festival Milhões de Festa, em Barcelos. “Há em relação à Lovers & Lollipops uma ligação afectiva e também a admiração pelo trabalho que desenvolvem”, diz António Pedro Lopes, explicando a associação à editora. “Produzem artistas, inventam eventos, lançam discos, organizam festivais. Num cenário de crise como o que vivemos, o que fazem é quase guerreiro.”

Como tantas boas ideias, o Tremor nasceu de um encontro informal. Desde a sua fundação, a Yuzin tem sido também promotora de concertos ou exposições, aproveitando as estruturas já existentes e aquelas que surgiram na cidade mais recentemente. Entretanto, viveu-se a dinâmica de um festival como o Walk & Talk, dedicado à arte urbana, que se realiza em São Miguel desde 2011. E eis que um dia Luís Banrezes encontra António Pedro Lopes na rua. Falam de criar um evento semelhante, “à escala da cidade”. “Duas horas depois”, conta António, “entreguei-lhe um dossier de planeamento e duas semanas depois tínhamos a Lovers & Lollipops envolvida.” O Tremor dava os primeiros passos.

Essencial desde o início era incluir o máximo possível de pessoas e estruturas, “num esquema em rede”. “Dado que não há muito dinheiro disponível, era preciso juntar muitas forças”. Os espaços estavam disponíveis: a Igreja de Santa Bárbara ou a Travessa dos Artistas, o Teatro Micaelense ou o famoso Cantinho dos Anjos, a Galeria Fonseca Macedo, dedicada à arte contemporânea, ou a Londrina, loja de pronto-a-vestir aberta há mais de cinco décadas. As pessoas não tardaram a juntar-se. O dono da Londrina, Carlos Sá, é disso exemplo. “É uma espécie de embaixador do Tremor em Ponta Delgada”, define António, explicando que o lojeiro contratou um grupo de folclore para fazer arruadas e que manterá a Londrina aberta até às 4 da madrugada. “Incentivámos todos os locais que nos acolhem a fazerem as suas próprias programações.”

Quando falámos com António Pedro Lopes, faltavam três dias para o arranque do festival. O trabalho abundava. O entusiasmo crescia. “Até há pouco a nossa dúvida era: ‘Será que vamos ter público?’ Agora acho que estamos a caminho de ter demasiado público”, ri. “É maravilhoso.” O Tremor está a chegar.

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