Xanana vai deixar cargo de primeiro-ministro de Timor-Leste

Mudança no executivo anunciada para Agosto, antes de o líder histórico da resistência se retirar. Intenção, disse, é facilitar acesso de novas gerações à vida política do país.

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Xanana acha que é tempo de dar lugar a outros Adriano Miranda

O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, antigo líder da resistência à ocupação indonésia e ex-Presidente, anunciou que abandona o cargo em breve. O jornal Timor Post noticiou que será no próximo mês de Setembro.

O chefe do Governo, primeiro Presidente eleito, disse, esta quinta-feira, que fará mudanças no executivo em Agosto, antes de se retirar. Justificou as mudanças com a intenção de facilitar o acesso de novas gerações à vida política do país. A notícia não foi surpresa. Xanana, de 67 anos, tinha afirmado à agência Lusa, em Novembro de 2013, que deixaria o cargo até 2015.

A intenção de deixar o Governo foi confirmada na discussão do Orçamento do Estado para 2014. Xanana disse ter informado da decisão o actual Presidente de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, antes do Natal. "Informei o Presidente que a minha decisão de sair não se alterou. Apenas mudou a data para algures em 2014. Sinto que primeiro têm de ser preparadas as condições", afirmou numa declaração em tétum, citada pelo site neozelandês Scoop.

"Temos que continuar a ajudar as novas gerações a começar a assumir responsabilidades e a estarem mais bem preparadas”, disse. "As gerações mais velhas têm que desempenhar um papel diferente, não ir descansar, mas cuidar de outras coisas."

Membros dos Governos acusados de corrupção
O herói da resistência ocupa cargos de topo na administração timorense desde 2002. Foi Presidente da República durante cinco anos, até 2007, ano em que se tornou primeiro-ministro. Actualmente lidera o Governo saído das eleições de Julho de 2012.

Nas eleições de 2007, o partido então formado por Xanana, o CNRT (Conselho Nacional de Reconstrução de Timor-Leste) foi o segundo mais votado, atrás da Fretilin (Frente de Libertação de Timor-Leste). Mas acabou por liderar uma coligação que assegurou a maioria dos lugares do Parlamento.

Em 2012, o CNRT venceu as eleições e aumentou o número de deputados, mas não conseguiu maioria absoluta. Constituiu de novo um executivo de coligação. Do Governo fazem também parte o Partido Democrático, do vice-primeiro-ministro, Fernando "La Sama" de Araújo, e a Frente para a Mudança, do ministro dos Negócios Estrangeiros, José Luís Guterres.

Lenda da resistência à ocupação, a imagem de Xanana foi deixando de ser consensual. Membros dos seus Governos foram acusados de corrupção. O Scoop informa que a mulher, Kirsty, australiana, passou a maior parte do ano passado no país onde nasceu, juntamente com os três filhos do casal, por motivos de saúde.

Citado pelo site, o editor do jornal Tempo Semanal, José Belo, identificou três nomes como possíveis candidatos à substituição de Xanana – o ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Ágio Pereira; o ministro da Justiça, Dionísio Babo Soares; e o ministro da Educação, Bendito Freitas.

Timor-Leste tornou-se independente em Maio de 2002, na sequência do referendo em que, em 1999, a esmagadora maioria da população rejeitou a ligação à Indonésia, que ocupava a antiga colónia portuguesa desde 1975.
 

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