Twitter dá início ao processo para entrar em bolsa

A rede social submeteu ao regulador norte-americano os documentos para uma oferta pública inicial. Mas fê-lo de forma confidencial.

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Suave. É assim que empresários e investidores em Silicon Valley esperam que seja a entrada em bolsa do Twitter. A empresa de São Francisco anunciou nesta quinta-feira, num tweet (haveria outra forma?), que submeteu à Comissão de Valores Mobiliários (SEC) dos EUA a documentação necessária para avançar para uma oferta pública inicial que, muito antecipada, tem o peso de fazer esquecer a desastrosa IPO do Facebook, no ano passado, e restabelecer a confiança dos mercados nas start-ups tecnológicas.

Dick Costolo está a liderar o processo e sabe que tem toda a indústria a olhar para ele. O presidente executivo do Twitter — que em 2011 foi nomeado por Barack Obama para o Comité Consultivo de Segurança Nacional para as Telecomunicações — está a tomar todas as precauções que lhe são possíveis. A mais visível das quais é, paradoxalmente, o facto de ter optado por submeter de forma confidencial o formulário S-1 na SEC, o primeiro passo do processo legal para a entrada em bolsa (IPO).

O Facebook não o pôde fazer. Quando apresentou o mesmo requerimento ao regulador, a 1 de Fevereiro de 2012, a informação financeira da empresa liderada por Mark Zuckerberg, alvo de muita especulação, foi finalmente revelada — incluindo os 3,7 mil milhões de dólares de lucros de 2011. Agora, tudo o que sabemos é que os lucros do Twitter não chegam a mil milhões de dólares (753 milhões de euros), uma vez que a partir desse valor a lei norte-americana impede que seja iniciado em segredo um processo destes.

A lei que permite a confidencialidade nesta fase inicial — o JOBS act — foi criada no ano passado, para afastar do escrutínio público a primeira fase de negociações entre as empresas e a SEC. Um escrutínio que os responsáveis pelo Groupon sentiram na pele em 2011, quando a empresa passou de “the next big thing” a “desastre”, como uma analista da Forrester Research a chegou a qualificar. O Twitter fez, contudo, algo que nenhuma empresa tinha feito até agora: revelou ter feito o pedido em segredo.

O tweet com a esperada notícia surge poucos dias depois de o San Francisco Chronicle ter noticiado, no sábado, que o director financeiro do Twitter, Mike Gupta, estava a negociar com bancos de investimento tendo em vista uma possível gestão das suas acções em bolsa — a Reuters avança que o Goldman Sachs está à frente. Já nesta semana, na segunda-feira, a rede de microblogging comprou a MoPub por 350 milhões de dólares (263,5 milhões de euros) sobretudo em acções, segundo fonte citada pela mesma agência. As empresas não revelaram os pormenores do acordo, mas, a confirmar-se, é a maior aquisição do Twitter até à data.

O negócio faz parte do caminho para a IPO: a MoPub dedica-se à publicidade direccionada em aplicações para telemóveis. É conhecida a estratégia do Twitter que faz do mobile uma prioridade, mesmo em detrimento da versão web. O que esta aquisição demonstra é um total comprometimento com a necessidade de gerar lucro. E de o fazer através do florescente mercado dos smartphones. O Facebook não o tinha feito em 2012 e só quando os números da publicidade nas aplicações móveis se consolidaram no verde é que as acções da maior rede social do mundo começaram a subir.

O posicionamento final do Twitter face aos eventuais investidores começou, todavia, um pouco antes. Não muito, no final de Agosto, quando contrataram Nathan Hubbard para liderar o departamento comercial da empresa. Hubbard tinha acabado de deixar a presidência executiva da Ticketmaster, uma das maiores empresas de venda de bilhetes dos EUA, e tem agora como desafio vender às marcas as virtudes de uma rede social com sete anos de implementação no mercado e 200 milhões de utilizadores.

O Twitter está avaliado em 10,5 mil milhões de dólares (7,9 mil milhões de euros) por um dos seus principais investidores, a GSV Capital. A Emarketer estima, por seu lado, que as receitas da empresa serão de 582,8 milhões de dólares (438,7 milhões de euros) em 2013. A mesma empresa antecipa um crescimento desse valor em 63%, para 950 milhões de dólares (715,2 milhões de euros), em 2014. Serão números idênticos os que os responsáveis do Twitter apresentarão em breve a potenciais investidores — pelo menos, deverão ser tão optimistas quanto estes.

Por essa altura, já a informação financeira tem de ser pública — a lei impõe um prazo de 21 dias entre a publicitação dos resultados da empresa e o início dessas conversas de charme. Falta ainda saber a que preço a tecnológica pretende vender as suas acções, que no mercado secundário rondam os 20 dólares (pouco mais de 15 euros) por unidade. Para já, a empresa recusa comentar. Tudo o que o AllThingsD conseguiu foi confirmar a autenticidade do tweet desta quinta-feira, ao qual se seguiu de imediato um outro, com uma fotografia da equipa do Twitter a trabalhar e uma mensagem: “Agora, de volta ao trabalho”.

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