Polícia turca ataca manifestantes da Praça Taksim com gás lacrimogéneo e canhões de água

Intervenção ocorreu depois de o primeiro-ministro ter aceitado receber manifestantes, na quarta-feira.

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Actuação visou limpar a praça, dizem as autoridades DR
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Polícia na zona da praça, esta terça-feira Yannis Behrakis/Reuters
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Alguns manifestantes reagiram Yannis Behrakis/Reuters
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Polícia remove cartazes Osman Orsal/Reuters
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Traça Taksim, na segunda-feira GURCAN OZTURK/AFP
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A polícia anti-motim retomou na manhã desta terça-feira o controlo da Praça Taksim, em Istambul, centro do movimento de protesto antigovernamental que agita a Turquia há 12 dias.

A polícia entrou às 7h30 da manhã. Agentes das forças especiais anti-motins, com carros anti-manifestação, os Toma, avançaram sobre a Praça Taksim, em Istambul, lançando gás lacrimogéneo e jactos de água sobre quem aparecia à frente.

“Vamos atacá-los pela rua Çorbachi”, grita um jovem com uma máscara de gás. “Vocês, por ali. Cercamo-los pelos dois lados”. Grupos de activistas lançam pedras e cocktails molotov de trás das barricadas erguidas com destroços. Correm pelas ruelas à volta da praça, tentam proteger-se das granadas de gás. Alguns aproximam-se demasiado dos carros da polícia, atiram pedras a uma distância de poucos metros.

“Que se passa contigo? Levem-na daqui! O spray! o spray! Levem-na”. A rapariga desmaiou, não suportou o gás tóxico nos pulmões, nos olhos. Alguns jovens estão a vomitar nas esquinas, antes de voltarem para a frente, para incendiar um balde de gasolina ou continuarem a disparar a fisga.

A polícia arranca com os Toma em todas as direcções, lança centenas de granadas de gás, aproxima-se das barricadas, consegue derrubar algumas. Grupos de agentes a pé entram pelas vielas. A luta é quase corpo-a-corpo.

Os canhões de água apontam em todas as direcções, atiram tudo pelo ar. Cocktails molotov atingem os carros da polícia, envolvendo-os em chamas.

Não conseguindo atacar os polícias directamente, alguns activistas correm pelas ruas com paus, machados e pedregulhos, partindo montras, destruindo entradas de hotéis. Um grupo quebra o vidro de um banco, e entra nas instalações, lançando fogo a mobília e papelada.

“Nós não queremos lutar. Somos manifestantes pacíficos”, diz um rapaz com os olhos inchados, desfigurado pelo efeito do gás. “A polícia atacou-nos antes de fazermos qualquer coisa. Só estamos a defender-nos”. Outro jovem, entre ataques de tosse, diz apenas: “Erdogan não é bom. Not good, not good”.

Está tudo alagado de água, o ar cheio de fumo, não se consegue respirar. Há corpos no chão, gente a ser levada em braços. Nalguns umbrais há piquetes com limões, sprays e outros produtos estranhos, em garrafas, para prestar assistência aos atingidos. Ouvem-se estrondos, disparos, gritos. Há um cheiro azedo e uma espécie de fuligem à nossa volta. O gás lacrimogéneo chega em baforadas transparentes, quando menos se espera. O efeito é progressivo. Um ardor nos olhos, uma nuvem, cegueira, tosse, tontura, vontade de vomitar.

Polícia não entrou no parque
Os combates espalham-se por todas as ruas à volta de Taksim, mas no parque Gezi, onde se encontra a grande maioria das tendas e dos manifestantes, a polícia não entrou. As ordens que têm, disse um dos agentes a um manifestante que conseguiu aproximar-se, são para limpar a praça de todas as faixas e bandeiras. O parque Gezi não faz parte da operação.

“Às cinco da manhã começou tudo aos gritos no parque”, diz Ahsen, uma manifestante que dormiu lá. “‘A polícia vem aí! A polícia vem aí!’, alguém gritou. E foi o pânico. Toda a gente aos gritos, todos a fugir, mas sem saber para onde. Não sabíamos o que fazer. Não temos armas, nem sequer, na maioria, máscaras de gás”.

Alguns manifestantes tinham estado no hotel Mármara, em frente do parque, numa reunião. É neste hotel que decorre a maior parte dos encontros entre os vários grupos de ocupantes. E foi lá que viram polícias a tomar posições. Correram a avisar os companheiros.

“No parque, os manifestantes não saíram para combater a polícia”, diz Ahsen. “Somos pacíficos. Não sabemos lutar com a polícia. Só alguns provocadores foram para o combate. Há, no parque, muitos elementos de grupos extremistas, terroristas. Esses sabem como lutar”.

Ahsen conseguiu sair do parque por volta das 8 horas, já em pleno ataque policial. Ainda viu um grupo dos seus amigos tentar aproximar-se da polícia para dialogar, diz ela. “Queriam dizer que iriam falar com os provocadores, para demovê-los de lutar contra a polícia. Mas quando se aproximavam foram recebidos com uma bomba de gás e um canhão de água”.

Na praça sempre se soube que um ataque da polícia era possível. Mas não se esperava que fosse hoje, na véspera das conversações com o primeiro-ministro marcadas para amanhã. Uma delegação de representantes da manifestação vai encontrar-se com Erdogan, embora na praça ninguém saiba quem são. “Na segunda-feira passámos o dia a discutir isso. Sabemos que há um grupo, mas não sabemos quem vai”. O que se espera dessa reunião, acrescenta Ahsen, é que o primeiro-ministro não prometa nada a um grupo que não representa ninguém.


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