Polémica na Turquia com a aprovação de lei que limita o consumo de álcool

O Governo quer islamizar a sociedade e impor as suas crenças e o seu modo de vida, acusou a oposição.

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Recep Erdogan: "Não queremos os nossos jovens bêbados dia e noite" Umit Bekta/Reuters

A oposição turca acusou o partido islamico no poder de violar as liberdades individuais ao aprovar, no Parlamento, uma lei que limita o consumo de álcool, a sua venda e a publicidade a bebida alcoólicas.

O documento, proposto pelo Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, na sigla original), foi votado na noite de quinta-feira, depois de um debate aceso mas muito rápido. A lei foi aprovada em nome da saúde dos cidadãos, a oposição argumentou que os motivos são religiosos.

"Este texto foi-nos imposto por motivos religiosos e ideológicos", disse o deputado da Musa Cam, citado pela AFP. “Este não é um combate contra os malefícios do álcool mas uma tentativa do [partido no poder] impor as suas crenças e o seu modo de vida à sociedade".

A lei, transcrita pela agência noticiosa francesa, determina que a venda de álcool é proibida entre as dez da noite e as seis da manhã – em Istambul e nas zonas turísticas a vida nocturna, frequentada por turcos e estrangeiros, avança até de madrugada – e proibe a venda nos arredores de escolas e mesquitas.

A Turquia, de que Recep Erdogan é o actual primeiro-ministro, é um país de maioria islâmica mas considerado moderado. Esta lei sobre o álcool é vista pela oposição como um sinal de que essa moderação pode começar a ser apagada e que o Governo e a maioria no Parlamento estão dispostos a islamizar a sociedade turca.

Além das proibições já mencionadas, a nova lei do álcool proibe o consumo deste em recintos desportivos e bane imagens explícitas que sejam consideradas de incitamento ao consumo em filmes, séries de televisão e videoclips.

Há multas para os infractores e as coimas para a condução sob o efeito de álcool foram agravadas. Um condutor apanhado com uma taxa de alcolémia de 0,05 perde a carta durante seis meses; o que chegar ao 0,1 vai dois anos para a prisão e a pena é obrigatória.

"Enquanto Estado, temos o dever de combater os maus hábitos. Não queremos que a nossa juventude ande bêbada dia e noite", disse Erdogan.

O Governo já tinha apoiado a proibição do consumo de álcool a bordo dos aviões da Turkish Airlines, de que o Estado turco detém 49%, e o primeiro-ministro envolveu-se pessoalmente numa polémica ao dizer, há um mês, que o ayran (um iorgurte líquido azedo) é a bebida nacional e deveria ser preferido à cerveja ou ao raki anisado.
 

 

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