Um dia de justiça

Ninguém estava à espera. Mas aconteceu. A aprovação pelo Parlamento do direito à co-adopção pelos casais de pessoas do mesmo sexo veio pôr termo a uma situação de injustiça e abriu portas a que a discriminação dos homossexuais relativamente à adopção possa um dia acabar de vez.

Foi um dia de justiça: a razão e o respeito pelos direitos das crianças ultrapassaram o preconceito. Não será mais possível a uma criança ficar totalmente órfã por morte do pai ou mãe biológica, por não estarem reconhecidos os direitos do seu cônjuge do mesmo sexo.

Uma situação inaceitável em qualquer sociedade que se reconheça em valores mínimos de justiça e de dignidade humana.

Talvez tenha sido apenas por acaso que o voto favorável ao projecto dos socialistas Isabel Moreira e Pedro Delgado Alves passou. Isto, se foi verdade que, à direita, alguns deputados deram o sim esperando que a lei não passasse.

Também contribuiu para este voto favorável que o debate decorresse em tom sereno e que não tivesse sido precedido por radicalizações extremas e emocionais.

Chamam-lhe um debate “fracturante”, mas estão em jogo na questão da adopção por casais homossexuais valores universais básicos como os direitos das crianças a terem uma família e os dos homens e mulheres que amam pessoas do mesmo sexo a terem uma vida plena.

Neste debate, como noutros, precisamos de banir os rótulos e as abstracções morais para compreendermos que o que está em causa são direitos vitais.

Portugal ficou um pouco mais livre hoje. Essa liberdade diz respeito à vida de seres humanos concretos. Mas também a um país onde, por uma vez, o que é essencial passou à frente do que é secundário. Por isso, foi um dia de justiça.
 
 

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