De Vigo a Amesterdão, do desastre à retoma europeia do Benfica

Os adeptos do Benfica na casa dos 20 anos não se lembram das últimas vezes em que a sua equipa foi a uma final europeia. Só terão ouvido da boca de amigos e familiares a história do penálti falhado por Veloso na final de 1988 ou do golo de Rijkaard em 1990. E se falarmos de uma conquista europeia, então só mesmo os sexagenários poderão lembrar-se das míticas finais de Berna (3-2 ao Barcelona em 1961) e de Amesterdão (5-3 ao Real Madrid em 1962), esta quando um rapaz de 20 anos chamado Eusébio se começou a mostrar ao mundo.

Estes dados mostram como o Benfica – que é ainda hoje a sétima equipa com mais finais europeias, embora só tenha dois títulos – tem andado arredado dos grandes palcos. Depois da final de 1990 (perdida para o Milan), o Benfica foi desaparecendo aos poucos das fases mais avançadas das provas europeias e bateu mesmo no fundo. Em 1999-2000, sofreu a célebre derrota por 7-0 em Vigo, curiosamente quando era comandado por Jupp Heynckes, um treinador que está perto de conquistar a Liga dos Campeões pela segunda vez. E em 2001-02 e 2002-03 nem sequer participou nas competições europeias, algo inédito na sua história.

É certo que nos últimos anos o Benfica já conseguiu resultados muito positivos na Europa, como a presença nos quartos-de-final da Liga dos Campeões (em 2005-06 e na época passada) ou nas meias-finais da Liga Europa há duas temporadas. E também é verdade que a Liga Europa é hoje uma prova muito mais aberta aos clubes dos pequenos países, graças ao facto de a Liga dos Campeões concentrar as melhores equipas. Mas parece indiscutível que a presença na final de Amesterdão marca simbolicamente o regresso do Benfica a uma certa dimensão europeia, pensamento que obviamente será reforçado se a equipa de Jorge Jesus derrotar o Chelsea a 15 de Maio.

A presença numa final, 23 anos depois, está muito longe de ser algo caído do céu. Antes de mais, o Benfica é hoje um clube estável. Ironicamente, as lideranças musculadas parecem ter sucesso no futebol. Um pouco como Pinto da Costa fez no FC Porto, Luís Filipe Vieira secou a oposição e concentrou em si a gestão do clube, acabando com a turbulência interna. A estabilidade ajudou a pôr as finanças mais em ordem (apesar de o passivo ainda ser muito elevado), a maximizar receitas e deu frutos desportivos. O clube voltou aos títulos nacionais e afirmou-se como um excelente recrutador de jogadores no mercado sul-americano. A estabilidade também gerou capacidade para resistir à tentação de despedir treinadores ao primeiro insucesso. Jorge Jesus aguentou duas épocas sem ganhar o campeonato e é na presente temporada um dos grandes responsáveis pelo sucesso da equipa.

Depois dos títulos europeus do FC Porto com Mourinho e Villas-Boas e das presenças de Sporting e Sp. Braga em finais europeias, a carreira europeia do Benfica nesta época é também mais um sinal da competitividade do futebol nacional. Mesmo com o endividamento preocupante, com salários em atraso, com dirigentes que não sabem perder e com as contantes suspeitas de corrupção, o futebol português continua a ser (surpreendentemente) competitivo na Europa. Se noutras áreas Portugal fosse tão competitivo, seríamos todos certamente menos pobres e mais felizes.

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