A delícia de um banho turco

Benfica está na final da Liga Europa após vencer o Fenerbahçe no Estádio da Luz por 3-1, dando a volta a uma derrota fora de 1-0. Em Amesterdão, dia 15 de Maio, terá pela frente o Chelsea.

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Francisco Leong/AFP

Definição de “banho turco”: tipo de banho que consiste em permanecer num ambiente quente e húmido, cheio de vapor. Após algum tempo nesse ambiente o banhista mergulha em água fria. O procedimento pode repetir-se várias vezes mas não é aconselhável a quem tenha tensão alta ou sofra de doenças cardíacas.

Ora, foi precisamente um delicioso banho turco que o Benfica soube tomar na segunda mão da meia-final da Liga Europa, frente ao Fenerbahçe. Os “encarnados” começaram por sentir os vapores quentes de um golo marcado cedo, depois arrepiaram-se com a água fria do empate turco, mas não se deixaram congelar e ligaram a tempo a água quente, saindo reconfortados.

O Benfica entrou um nadinha nervoso. O ambiente que se vivia na Luz no arranque da partida pareceu intimidar até os jogadores da casa. Mas foi o Fenerbahçe, sem alguns dos seus habituais titulares devido a lesão ou castigo (Meireles e Topal, por exemplo) que mais se ressentiu. A disputar a sua primeira meia-final da história, o Fenerbahçe começou cedo a perceber como seria o resto da sua noite na Luz.

Não tinham ainda passado dez minutos e Gaitán igualava a eliminatória. Veloz e prático, o argentino desviou para a baliza um cruzamento de Lima, incendiando ainda mais o estádio.

O mais difícil estava feito. Estava-se na parte do banho em que o ambiente estava escaldante e a pele parecia ferver. A sensação era a de que bastava esperar mais um pouco e surgiria o golo que colocaria o Benfica em vantagem na eliminatória.

Só que, de repente, veio a parte da água fria. Um penálti assinalado por mão de Garay, num lance que parecia controlado pela defesa “encarnada”, deu a Kuyt a hipótese de igualar o marcador e recolocar a equipa turca em Amesterdão.

O Benfica sentiu a diferença de temperatura. Ainda teve um calafrio numa iniciativa de Moussa Sow. Foi nesta altura que os benfiquistas tornaram o árbitro o seu principal adversário em campo. Muitos protestos, alguns deles com razão, mas, acima de tudo, a novela só servia para desviar as atenções do que precisavam fazer.

Foi preciso Cardozo “abrir a torneira da água quente” e recentrar o foco na baliza de Demirel, aproveitando uma falta marcada com rapidez. O paraguaio voltou aos golos na Liga Europa e colocou o Benfica na frente do resultado mas ainda fora da final da Liga Europa (na Turquia o Fenerbahçe tinha ganho por 1-0 e fazia valer o golo que Kuyt marcara na Luz).

Mas o Benfica voltava à sala de vapores. O ambiente aquecia mais uma vez e a segunda parte foi uma imersão completa. Os “encarnados” recomeçaram a partida com “fogo no rabo”. Beneficiando ainda das saídas, devido a lesão, de Sahin e Gonul, a segunda parte manteve o ascendente do clube da casa. E a temperatura atingiu o máximo quando Cardozo beneficiou de um ressalto de bola e fez o 3-1. Estava consumada a reviravolta na eliminatória e o Benfica garantia a sua nona final de uma competição europeia, regressando a um jogo decisivo 23 anos depois da última vez e após de ter estado muito perto de o conseguir há apenas dois anos, quando perdeu na meia-final com o Sporting de Braga.

Até ao último apito do árbitro, o Fenerbahçe ainda tentou reagir, mas não havia ânimo na equipa turca, que foi assumindo a derrota e a eliminação com resignação.

No final, a festa no meio do relvado com Jorge Jesus aos saltos com os jogadores foi de arromba. O treinador português, com o bilhete na mão para a final da Liga Europa, também tem um motivo muito especial para festejar, pois torna-se o treinador português com mais jogos europeus à frente de uma equipa portuguesa, ultrapassando Pedroto.

Já os jogadores tiveram direito a volta de honra, uma espécie de aperitivo para o que os “encarnados” esperam que seja o resto da época. Para já, duas finais estão garantidas (à da Liga Europa junta-se a da Taça de Portugal) e foi dado mais um passo para a época de sonho que o técnico prometeu.

A FIGURA DO JOGO: Cardozo
Antes do encontro, tinha afirmado que este era o jogo da sua vida e o avançado paraguaio fez por se tornar na figura da partida. Marcou dois golos decisivos e elevou para seis o número de remates certeiros que soma nesta edição da Liga Europa. Muitas vezes incompreendido por alguns adeptos do Benfica, que o acusam de ser muito perdulário e lento para avançado, Cardozo continua a responder às críticas que, de quando em vez surgem, com golos. Só nesta época já soma 31 em todas as provas. Há seis temporadas no clube, ciclicamente surgem dúvidas quanto à continuidade de Cardozo. Mas a marcar assim, é difícil encontrar argumentos para que o número 7 não seja mimado na Luz. É como diz a letra: “Tenham cuidado, ele é perigoso, é o Oscar “Tacuara” Cardozo.

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