Os vários danos do escândalo do adiamento do aeroporto de Berlim

Quarto adiamento do aeroporto vem com factura milionária, mina credibilidade política do presidente da câmara de Berlim e dá forte machadada na imagem da eficiente Alemanha.

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Aeroporto de Brandemburgo: o sinal diz "por favor, esperar" Odd Andersen/AFP

Esta semana soube-se que o novo aeroporto internacional de Berlim não vai abrir este ano como previsto. Bom, como previsto no ano passado, como foi anunciado pouco antes da data prevista da inauguração. Que era já um adiamento.

Sim, o aeroporto devia ter começado a funcionar em Outubro de 2011. Em 2012, foi anunciado que o prazo previsto, Junho desse ano, não seria cumprido, e que o aeroporto abriria sim as portas em Outubro de 2013. Mas ainda não foi desta. O custo já subiu para uns estimados 4,3 mil milhões de euros quando inicialmente se pensava ser de 3,2 mil milhões. E não é claro que compensações haverá a pagar a companhias aéreas que investiram tendo como base a abertura do aeroporto - diz-se que a AirBerlin foi fortemente afectada; a portuguesa TAP também inaugurou o ano passado um voo Lisboa-Berlim que deveria ter como destino o novo aeroporto.

Já há peritos a dizer que quando abrir o novo aeroporto irá funcionar em plena capacidade, o que não é bom, e há quem peça que seja esquecido tudo o que foi feito até agora e que se recomece uma obra do zero.

Ambições políticas mumificadas
As consequências políticas imediatas não foram muitas: Klaus Wowerteit, o presidente da Câmara da capital (e do estado-federado que é Berlim) demitiu-se do cargo de presidente da sociedade encarregada pelo aeroporto, que foi assumido agora por Matthias Platzeck, líder do estado de Brandemburgo, onde está o novo aeroporto, e que era o “número dois” de Wowereit na sociedade.

Platzeck, um social-democrata que governa o seu estado-federado em coligação com o partido Die Linke, anunciou que vai pedir ao parlamento do estado um voto de confiança. Ao mesmo tempo, o Partido Pirata e os Verdes querem um voto semelhante no parlamento do estado de Berlim, que deverá ser votado este sábado e que Wowereit deverá conseguir passar com o apoio dos seus parceiros de coligação, a CDU.

A consequência a mais longo prazo é, como diz a revista britânica Economist, a mumificação das (grandes) expectativas políticas de Wowereit, uma figura colorida num partido social democrata algo cinzento, depois da sua obra faraónica. Wowereit deverá sobreviver à moção de desconfiança proposta no parlamento berlinense. A nível nacional, o SPD passa um mau bocado, com última sondagem publicada esta sexta-feira a mostrar que o actual líder, Peer Steibrück, tem uma popularidade de apenas 36% contra os imbatíveis 65% de Merkel, e que um em cada quatro eleitores do SPD gostariam mesmo de ter um novo candidato para as eleições legislativas de Setembro.

O que aconteceu à eficiência alemã?
Mas o fiasco não afecta só os políticos. É a imagem da Alemanha enquanto supra-sumo da eficiência que está em causa. O país tem visto uma série de problemas em grandes obras: a nova ópera de Hamburgo, o projecto de estação de ferroviária Estugarda 21, a sede da agência de espionagem. E o ponto forte do país enquanto potência exportadora, nota a Reuters, é justamente a imagem de excelência em engenharia. Os atrasos nestes projectos que seriam jóias da coroa das respectivas cidades coloca esta imagem em causa.

O que é que aconteceu à Alemanha? A pergunta é feita pela própria imprensa alemã, que apesar de ver Berlim como um caso especial (é, afinal, a menos alemã das cidades) nota as derrapagens em tempo e orçamento de outras grandes obras. A revista Der Spiegel falou com um especialista da Universidade de Oxford, Bent Flyvberg, que analisou as últimas grandes obras na Alemanha e no mundo e descobriu que custam, em média, um terço mais do que o inicialmente previsto. O problema é geral e Flyvberg propõe que os decisores contem assim sempre com um custo maior. As autoridades alemãs defendem-se dizendo que em cada projecto o problema que provocou os adiamentos e as subidas de custos foi diferente.

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