De uma tacada na Suécia para uma start-up em Portugal

Aplicação de golfe conseguiu investimento do fundo europeu Seedcamp, está à venda em oito países da Europa e prepara-se para entrar no mercado americano.

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A aplicação está disponível para aparelhos da Apple e Android José Fernandes
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Douglas investiu 15 mil euros e pediu o resto a amigos e família José Fernandes

Anthony Douglas tinha 25 anos em 2007 quando recusou uma promoção na Sony sueca, onde trabalhava como gestor de marketing e era responsável por uma divisão que facturava 40 milhões de euros anuais. Era um emprego “muito bem pago”, mas preferiu outro caminho.

Depois de se demitir, passou um ano a jogar póquer online para pagar as despesas e a jogar golfe por diversão – na Suécia, é muito mais barato do que em Portugal. Foi entre tacadas que teve a ideia que o levaria, quatro anos depois, a criar uma empresa em Portugal.

A Stat Track Technologies tem sede em Évora, a cidade natal da mãe de Douglas, mas funciona na incubadora de empresas Start-up Lisboa. O pai de Douglas é americano e este cresceu na Áustria. Foi para Inglaterra tirar um curso de Gestão, Alemão e Espanhol. “Coisas de que já não me lembro bem”, diz despreocupadamente. Trabalhou de seguida na BMW na Alemanha e depois na Sony em Viena e em Estocolmo.

Depois de voltas várias, entra as quais uma participação no programa Inov Contacto que o levou para os escritórios de uma empresa portuguesa no México e para um trabalho não-remunerado em Portugal na start-up de um amigo, decidiu avançar com a ideia que tivera poucos anos antes.

Trabalhava então em part-time numa empresa de informática e viu um artigo no conhecido blogue TechCrunch sobre uma aplicação de golfe que recebera um milhão de dólares de investimento. O conceito era o mesmo que Douglas imaginara enquanto treinava tacadas na Suécia: um assistente pessoal de bolso, capaz de armazenar estatísticas, dar informações úteis durante um jogo e ajudar o praticante a melhorar o desempenho. Nessa altura, a empresa onde trabalhava decidiu contratá-lo a tempo inteiro. Novamente, Douglas recusou a promoção e apresentou-lhes o conceito da aplicação, sugerindo que o ajudassem a desenvolvê-la. Aceitaram.

A Hole19 está hoje disponível para Android e iPhone e está na forja uma versão Web, acessível através do browser. Inclui mapas de campos de golfe, com as distâncias para elementos importantes: o buraco, um obstáculo, uma curva. Os mapas são obtidos com recurso às imagens de satélite do Google e depois trabalhados por uma equipa na Universidade de Évora. Graças ao GPS dos telemóveis, a aplicação determina a posição do jogador, mostra-a no mapa e actualiza as distâncias em tempo real.

Para além disto, o golfista pode introduzir as distâncias que obtém com cada taco e a aplicação usa estes dados para aconselhar tacos – uma espécie de caddie digital. As estatísticas introduzidas ficam disponíveis para consulta numa multiplicidade de gráficos coloridos, que ajudam a perceber, por exemplo, se é mais frequente falhar tacadas de curta ou de longa distância.

No ano passado, a ideia ganhou 25 mil euros no prémio Indústrias Criativas Super Bock/Serralves. Douglas investiu mais 15 mil euros do próprio bolso e o resto dos 130 mil euros investidos vieram de amigos e família. Para além do fundador, a Stat Track Technologies emprega quatro pessoas. Uma trabalha em Évora e tem a tarefa de coordenar a cartografia dos campos de golfe, ao passo que as outras estão em Lisboa.

No mês passado, a Stat Track Technologies foi uma das três empresas portuguesas que conseguiram capital do fundo Seedcamp, um dos maiores fundos de investimento na Europa do chamado “capital-semente” (ou, mais frequentemente, seed capital), destinado a empresas em fase de arranque. “O Seedcamp vai ajudar-nos a dar o salto de que precisamos”, observa Douglas, que diz não poder revelar o montante conseguido.

A aplicação foi lançada, no início do ano, apenas para o mercado português. Começou por custar 30 euros, desceu para os dez e está agora nos 20. Portugal serve sobretudo como mercado de testes e a Hole19 tinha sido descarregada até ao início de Setembro apenas 550 vezes.

Agora, porém, está já à venda em vários países europeus e, no próximo trimestre, chegará ao mercado americano. O facto de a empresa ter agora investidores externos impede o fundador de divulgar quantas vezes a Hole19 foi descarregada. O objectivo, porém, é chegar aos dez mil downloads já no final deste ano. “Estamos no bom caminho. E temos um objectivo muito mais agressivo para 2013”, garante Douglas.

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