Português identifica mecanismo que afecta memória dos doentes de Parkinson

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Tiago Fleming Outeiro, que liderou a investigação sobre a doneça de Parkinson Laura Haanpaa/Arquivo

A equipa do investigador português Tiago Fleming Outeiro identificou o funcionamento de uma proteína que interfere na comunicação entre os neurónios e afecta a memória dos doentes de Parkinson. A descoberta poderá permitir testar novos medicamentos para esta doença.

Liderado por Tiago Fleming Outeiro, que na altura desta investigação estava no Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, o trabalho foi publicado na revista Journal of Neuroscience.

Sabe-se que a proteína alfa-sinucleína está ligada à doença de Parkinson e há pouco tempo ela também foi detectada fora dos neurónios. Mas não se sabia quais as consequências disso ou qual o tipo de formas mais problemáticas de proteína.

Agora, a equipa do investigador, que agora se encontra na Alemanha, estudou os efeitos extracelulares de aglomerados da proteína. À agência Lusa, Tiago Outeiro explicou que a equipa viu determinados aglomerados da proteína a alterarem-se e interferirem na comunicação entre as células numa determinada área do cérebro que é muito importante para os processos de memória e aprendizagem. “Foi na zona do hipocampo, associada à formação da memória, por exemplo, que detectámos estes efeitos e foi aí que focámos este estudo para perceber de que forma esta proteína causa problemas”, explicou.

Quando os neurónios no cérebro não comunicam de forma eficiente ou normal, começam a surgir problemas relacionados com vários tipos de doença, como a Parkinson, e parte dos doentes acaba por desenvolver problemas cognitivos, de memória, de aprendizagem ou psicológicos.

A intervenção ao nível dos sintomas da doença de Parkinson “não tem sido possível porque não se conheciam estes mecanismos”, disse ainda o investigador. Por isso, este trabalho abre essa possibilidade – “quer tentando impedir a acumulação desta proteína fora das células, porque sabemos que aí está a causar estes problemas, quer utilizando fármacos que possam interferir com estas proteínas, modelando a comunicação neuronal”.

“Há uma oportunidade muito grande de se testarem novos fármacos para aspectos particulares da doença, até agora menos possíveis de ser tratados, e corrigir defeitos na comunicação neuronal e encontrar fármacos que possam evitar a acumulação destes oligómeros [agregados] de alfa-sinucleína no cérebro dos doentes de Parkinson”, resumiu Tiago Outeiro.

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