George W. Bush e o dia que mudou a sua presidência

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O momento em que Bush soube do ataque às Torres Gémeas Reuters

Pensou na mulher, Laura, admite que não tinha estratégia e viveu “um dia após o outro”. O 43º Presidente dos Estados Unidos contou à National Geographic como viveu o 11 de Setembro de 2001.

A imagem de George W. Bush a ler uma história a crianças de uma escola na Florida ficou na memória de milhões de pessoas, quase tanto como o momento em que milhões viram em directo o segundo avião a embater nas Torres Gémeas. Mas agora o ex-presidente norte-americano contou numa entrevista à National Geographic como viveu “um momento de viragem para a América”. Pensou que fosse um acidente e pensou na família, até que percebeu que a sua presidência tinha mudado.

“George W. Bush: The 9/11 Interview” foi exibido pela National Geographic nos Estados Unidos a 28 de Agosto, mas o canal agendou para esta segunda-feira a sua transmissão em Portugal, que será repetida na terça-feira em vários horários. Não é um documentário sobre as consequências do 11 de Setembro ou o seu impacto político. É o relato, na primeira pessoa, da forma como o então presidente norte-americano viveu aquele dia.

“Foi como estar a assistir a um filme mudo”, contou George W. Bush. “No fundo da sala, os jornalistas estavam com os telemóveis. Estavam a receber as mesmas mensagens que eu estava a receber. O que significa que muitas pessoas estavam a ver a minha reacção à crise”.

Bush quis saber se a mulher, Laura, estava bem. “Foi maravilhoso ouvir a sua voz reconfortante”. Chegou a pensar “o tempo está mesmo mau” e “algo de extraordinário aconteceu com o piloto”, estava ainda longe de imaginar como seriam as horas seguintes. “Foi um dia significativo, que mudou a minha presidência.”

Às dúvidas, recorda, seguiu-se a “raiva” e muitas perguntas. “Quem faria isto à América?” Bush tomou a decisão de não sair de imediato da sala de aulas e explica porquê: “Não quis assustar as crianças. Quis projectar uma sensação de calma”.

Quando saiu da escola onde estava, Bush foi enviado para o Air Force One e então os serviços secretos norte-americanos o avisaram de que não voltaria de imediato a Washington. Foi aí que viu as imagens de destruição, os escombros das Torres Gémeas no atentado em que morreram 3000 pessoas. Protestou.

“Estava frustrado por não estar no centro de comando em Washington. Estava frustrado por estar a sobrevoar o país. Estava frustrado por termos sido atacados, e estava frustrado por não ter o sistema de comunicações a funcionar bem”, conta

Só depois a frustração deu lugar às decisões. Aquele já não era o dia que tinha começado calmo, com o Presidente a fazer “jogging” na Florida.

O 11 de Setembro, sublinha o ex-presidente na entrevista à National Geographic, obrigou a tomar muitas decisões. “Algumas foram extremamente controversas. Todas tiveram como objectivo proteger o país. Não tinha estratégia, estava a viver um dia após o outro”.

Nove anos depois, e já com Barack Obama na Casa Branca, George W. Bush estava a jantar com a mulher num restaurante quando recebeu um telefonema do actual Presidente a dizer que Bin Laden, o líder da Al-Qaeda e mentor dos ataques, tinha sido capturado no Paquistão. Felicitou Obama, mas não terá festejado. “Não senti qualquer sentimento de felicidade, ou júbilo. Senti que havia um desfecho. E senti gratidão, que a justiça tinha sido feita.”

O 11 de Setembro “virá a ser eventualmente uma data no calendário, como Pearl Harbour”, diz Bush. Mas para os que o viveram “será um dia que nunca esquecerão”.

Foi o seu assessor, Andrew Card, quem lhe segredou ao ouvido que a América estava a ser atacada, e quem lhe contou depois sobre o segundo avião. O então Presidente olhou-o nos olhos, mas quase não reagiu. Mais tarde, a sua preocupação viria a ser não falar ao país a partir de um bunker no Nebrasca, “não iria dar ao inimigo essa vitória psicológica”.

A entrevista à National Geographic, que nesta terça-feira voltará a ser transmitida em Portugal às 5h30, 8h35, 13h30 e 18h10, foi conduzida pelo jornalista e documentarista Peter Schnall, que contou ao Huffington Post que o objectivo foi “dar ao antigo presidente George Bush a oportunidade de se sentar, de uma forma informal, e conversar sobre o 11 de Setembro e a forma como o viveu, de uma forma pessoal e profunda”.

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