Laurent Gbagbo detido em hotel de Abidjan

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Gbagbo depois de ter sido em Abidjan Reuters

Já foram divulgadas as primeiras imagens de Laurent Gbagbo, o Presidente cessante da Costa do Marfim, que se rendeu e está detido num hotel de Abidjan sob protecção das Nações Unidas.

Gbagbo, que se encontra no Hotel do Golfo, quartel-general da facção de Ouattara, aparenta cansaço mas está bem de saúde. Com ele, igualmente detidos, estão a sua mulher Simone e o filho do primeiro casamento, Michel.

O irredutível chefe de Estado – derrotado nas eleições de Novembro passado – foi detido pelas Forças Republicanas da Costa do Marfim, leais ao seu rival e Presidente eleito, Alassane Ouattara, na sua residência oficial em Abidjan.

Para a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, o destino de Gbagbo envia uma “poderosa mensagem a todos os ditadores que insistem em ignorar a vontade da população expressa em eleições livres e justas”.

A notícia da captura e rendição de Gbagbo foi comemorada efusivamente por todo o país, mas nem todos estão optimistas que a crise pós-eleitoral, que fez mais de mil mortos e cerca de um milhão de desalojados, esteja ultrapassada.

“O mais provável é que os combates prossigam em Abidjan, em Yamoussoukoro [a capital administrativa] e em toda a região oeste do país. As forças rebeldes não são exactamente pró-Ouattara: elas são fundamentalmente anti-Gbagbo”, disse à Reuters Robert Besseling, da agência Exclusive Analysis.

O especialista na Costa do Marfim diz que as dezenas de milícias organizadas na Costa do Marfim podem agora sentir-se tentadas a disputar o poder entre si. “Por exemplo, o líder dos ‘Comandos Invisíveis’, Ibrahim Coulibaly, já disse que quer concorrer à presidência”, referiu.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, acredita que a detenção de Gbagbo permitirá ultrapassar a crise política que chegou a perspectivar uma nova guerra civil na Costa do Marfim. “Este é o fim de um capítulo que nunca devia ter acontecido”, referiu.

O diplomata garantiu ajuda ao Governo de Ouattara: “Obviamente terá todo o nosso apoio para restaurar a estabilidade e resolver todos os problemas humanitários e de segurança com que se debate o país”, sublinhou.

Um responsável do Ministério da Defesa francês, garantiu que a detenção foi feita pelas forças do Presidente eleito com o apoio de capacetes azuis das Nações Unidas e tropas francesas. O representante de Gbagbo em Paris, Alain Toussaint, insistia porém que a detenção tinha sido feita por soldados franceses e das Nações Unidas, que depois entregaram o chefe de Estado às forças de Ouattara.

Fonte das Nações Unidas veio indicar, entretanto, que Gbagbo se "rendeu" às forças de Ouattara. "A missão da ONU na Costa do Marfim confirmou-nos que o antigo Presidente Laurent Gbagbo se rendeu às forças de Alassane Ouattara e está neste momento sob a sua custódia", afirmou porta-voz da ONU, Farhan Haq, detalhando que a UNOCI está a "prestar segurança e protecção [a Gbagbo] de acordo com o seu mandato".

O embaixador da Costa do Marfim nas Nações Unidas, Youssoufou Bamba, garantiu que Gbagbo se será levado à justiça "para ser julgado". Bamba afirmou ainda não poder dizer exactamente que tribunal irá julgar o antigo Presidente.

Cercado e sob ataque

Desde as primeiras horas da manhã de hoje, ao 12º dia da chamada batalha por Abidjan, uma coluna de mais de 30 veículos armados franceses avançava em direcção à residência de Gbagbo na capital, pela primeira vez em apoio aos raides aéreos das Nações Unidas, face a intransigência do chefe de Estado em ceder o poder a Ouattara.


“Os tanques estão a avançar com soldados [franceses] atrás e o apoio aéreo de helicópteros. Podem ouvir-se os disparos de espingardas automáticas”, descreveu um residente de uma das avenidas do bairro de Cocody, citado pela agência noticiosa britânica Reuters. De acordo com este testemunho, as tropas terrestres francesas – que se encontravam numa base do sul do país – seguiam em direcção da residência de Gbagbo, duramente bombardeada na véspera pelos raides aéreos da França e Nações Unidas, sob mandato emitido há semana e meia pelo Conselho de Segurança para “proteger vidas civis”.

A operação foi confirmada por um dos comandantes da base francesa – país que tem cerca de 1600 tropas no país, a par dos capacetes azuis da ONU, desde a guerra civil há mais de uma década. “Estamos armados e prontos para o combate. A missão está em curso e o objectivo é garantir que se evita um derramamento de sangue”, precisou o porta-voz da missão francesa na Costa do Marfim, Frederick Daguillon, citado pela AFP.

Desde a tarde de ontem e ao longo de toda a noite e madrugada, a casa de Gbagbo assim como o palácio presidencial foram alvos de intensos ataques por parte das forças internacionais, visando destruir o armamento pesado com que as forças leais ao Presidente cessante se continuavam a bater contra as do seu rival, reconhecido pelas Nações Unidas como o vencedor das eleições presidenciais.

O porta-voz de Gbagbo em Paris asseverou logo então que o irredutível chefe de Estado continuava vivo depois daqueles bombardeamentos à sua residência em Cocody, que “destruíram vários edifícios [do complexo], incluindo o do gabinete da primeira-dama”. “Morreram pelo menos 12 pessoas. E os bombardeamentos recomeçaram há pouco, havendo dezenas de tanques franceses e entre 300 e 400 soldados fortemente armados a tomar posição nas ruas em volta da residência”, contou ainda Alain Toussaint.

Notícia actualizada às 21h15
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