Colecção Ellipse não vai ser vendida, diz Diogo Vaz Guedes

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A colecção tem 800 obras e 50 milhões investidos Rui Gaudêncio

Depois de mais de um ano de incerteza, Diogo Vaz Guedes, o novo presidente da Privado Holding (PH), diz que a Colecção Ellipse, a mais importante colecção privada de arte contemporânea em Portugal, não vai ser vendida, mantendo-se em Alcoitão, no espaço criado em 2006 para a acolher e mostrar ao público.

Apesar de em Janeiro do ano passado, ao concluir a sua avaliação à PH, a empresa de auditoria Deloitte ter aconselhado a única accionista do Banco Privado Português (BPP) a dispersar as cerca de 800 obras assinadas por dezenas dos mais importantes nomes a trabalhar no circuito contemporâneo internacional, Diogo Vaz Guedes acha que a colecção "merece ser preservada".

"É uma boa colecção. E enquanto colecção merece ser preservada", explicou ao PÚBLICO, acrescentando que, apesar da crise, durante o último ano, desde que o BPP entrou em insolvência, surgiram tanto pedidos para que não fosse desfeita como ofertas de compra, ambas de forma a preservar o conjunto.

Foram, diz Vaz Guedes, contactos tanto de privados como do Estado - "de ambos os lados": "Disseram que, se a quiséssemos vender, iriam procurar um grupo de investidores."

Precisamente, segundo inicialmente anunciado, a origem da colecção - como fundo de investimento - estaria num grupo de investidores - cerca de 30, de várias nacionalidades. João Rendeiro, então à frente do BPP, foi o rosto da iniciativa. Até Novembro de 2008, quando pediu ao Estado que salvasse o banco da falência e foi nomeada uma administração provisória.

Anunciado também foi que, entre o arranque das aquisições e a abertura do centro de arte contemporânea de Alcoitão, Rendeiro fora adquirindo posições aos restantes investidores (a ideia era manter o centro em actividade por um período de cinco a dez anos), mas a Deloitte concluiu que a colecção pertencia em 83 por cento ao BPP, e não ao seu ex-presidente - na versão simplificada de uma pirâmide de titularidades com vários níveis (a Holma-Serviços e Consultoria detém a totalidade da Fundação Ellipse, sendo a Holma controlada em 83 por cento pela subholding Privado Capital, por sua vez controlada pela Privado Holding, cujo activo mais emblemático e importante era o BPP).

A colecção "é da Holma, onde a PH detém a larga maioria do capital, cerca de 90 por cento", frisa Vaz Guedes. O resto, diz, "é um grupo de accionistas, cerca de oito ou dez, de raiz".

Vaz Guedes fala no plural: "A nossa perspectiva é de valorização da colecção a prazo e isso defende a nossa perspectiva de criação de valor para o accionista - que é a nossa principal obrigação."Esse valor, no actual momento de mercado, permanece incerto. No relatório de Janeiro de 2009 da Delloite, e que tinha como referência as contas da PH fechadas a 30 de Novembro de 2008, afirmava-se que a Fundação Ellipse tinha investido 50 milhões de euros na aquisição das suas mais de 800 obras de arte. Mas ainda segundo a Deloitte, uma avaliação de Março também de 2008, certificada pelo crítico e comissário independente português Delfim Sardo, dizia que valeria entre 40 e 45 milhões. Menos de três meses depois, outra avaliação, certificada pela norte-americana Susan Feidel, apontava para os 44,8 milhões. E Vaz Guedes aponta ainda uma avaliação de cerca de 23 milhões.

Dado o contexto internacional, estima-se que, desde a aquisição, obras pontuais da colecção possam ter chegado a ver o seu valor multiplicado por dez e depois cortado para metade.

"Até podemos fazer uma avaliação amanhã que nos diz que a colecção vale 15 [milhões]. Mas mesmo que valha 15 [milhões] vamos mantê-la, pois pode valer 50 daqui a cinco anos. Porque se a vendermos por 15 e ela daqui a cinco anos valer 50, vão acusar-nos de má gestão", diz. "Há uma coisa que temos como certo: é que a Colecção Ellipse, detida pela Holma, é boa."

A ser vista como simples activo, seria sempre, de qualquer forma, uma muito pequena fatia da garantia de 750 milhões de euros que Rendeiro pediu ao Estado para salvar o BPP. Como conjunto, em Alcoitão, permite ao público português conhecer artistas que, em muitos casos, não estão representados em qualquer outra colecção portuguesa.

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