Uma estranha noite de sábado

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Alva Noto foi quem atraiu mais público Fernando Veludo/nFactos

Porto, Casa da Música
Sábado

Alva Noto
Sala 2 (metade da lotação)
4 estrelas

Beak
Sala 2 (cerca de 100 pessoas)
1,5 estrelas

Cluster
Sala Suggia (cerca de 50 pessoas)
4 estrelas

Chrome Hoof
Sala Suggia (cerca de 50 pessoas)
3 estrelas

Uma dezena de membros do público percute a tralha dos Chrome Hoof no palco da Sala Suggia. Os ingleses convidaram-nos para subirem ao palco na última canção, já pelas 4h00 de domingo, no que pareceu ser um gesto desesperado de emprestar alguma animação a um concerto rock que parecia um velório. Na plateia não havia muito mais gente do que no palco. Um final estranho para uma das noites Clubbing mais bizarras de que há memória.

Com a concorrência Serralves em Festa a poucos quilómetros, para mais gratuita, o Clubbing de sábado – provavelmente o mais extremo sonicamente de sempre – ressentiu-se. Curiosamente, foi a mais radical das propostas – Alva Noto, nome de palco de Carsten Nicolai – que atraiu mais público, apesar do cancelamento da participação de Blixa Bargeld no espectáculo. Nicolai teceu um intrincado novelo de estática,
beeps e batidas, num feliz equilíbrio entre o dançável e o cerebral (é conhecido por desfigurar sons de modems, telefones e outros aparelhos electrónicos). O concerto foi tornando-se mais rítmico e físico e terminou com um imponente lençol de ruído digital. A Casa da Música presta serviço público por colocar música tão desafiante num palco destes.

Seguiram-se os Beak>, projecto de Geoff Barrow dos Portishead. Inspiram-se no krautrock, em especial nos Neu!, a que acrescentam alguma tensão claustrofóbica de algum pós-punk, mas não evitam a sensação de que é ainda cedo para o projecto, formado em Janeiro de 2009, pôr a cabeça de fora. Centram-se, sobretudo, no diálogo entre Barrow (bateria e voz) e Billy Fuller (baixo e coros), que cozinham uma base repetitiva sobre a qual o guitarrista e homem das teclas Matt Williams pode desenhar voos levemente psicadélicos ou descargas de guitarra. Pode soar bem no papel, mas ao vivo tudo parece preguiçoso, desinspirado e sem rumo.

A noite terminou com o “dois-em-um” os alemães Cluster e os Chrome Hoof, com 55 minutos de atraso. Os primeiros são históricos da música electrónica, os segundos são uma estranha orquestra que vai do metal ao funk em dois tempos, pelo que a combinação inscrita no programa intrigava. Na verdade, o que se viu foi um concerto dos Cluster, um breve momento partilhado e uma actuação dos Chrome Hoof.

Sozinhos, Hans-Joachim Roedelius e Dieter Moebius, dois terços da formação original dos Cluster, deram um belíssimo concerto, todo construído pela manipulação de fontes sonoras pré-gravadas (sons de mar e outras gravações de campo), sintetizadores esparsos e algumas batidas hipnóticas. Com a entrada dos Chrome Hoof em palco, a música dos Cluster levantou do chão, mas o momento partilhado durou pouco.

Sozinhos, os Chrome Hoof montaram o seu circo, algures entre os Parliament (a funkalhada de “Tonyte” foi particularmente eficaz) e os Secret Chiefs 3, mas o contexto – uma sala enorme deserta – não propiciou mais do que um bom concerto.

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