Bush nomeia embaixador dos EUA na ONU por decreto

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Bolton é conhecido pela sua hostilidade às organizações internacionais, sendo muito crítico da acção da ONU no mundo Dennis Brack/EPA

O presidente norte-americano, George W. Bush, nomeou hoje por decreto John Bolton como embaixador dos EUA na ONU, ultrapassando a oposição do Senado à nomeação de um dos principais “falcões” da Administração republicana.

“A maioria dos senadores estão de acordo com o facto de que ele é o homem certo para o cargo. Mas devido a tácticas dilatórias partidárias utilizadas por um punhado de senadores, o John não teve a votação que merece”, afirmou Bush, ao anunciar a nomeação de Bolton, que compareceu ao seu lado na Casa Branca.

A nomeação directa é uma possibilidade constitucional raramente é usada. A figura está prevista para situações de crise, em que o Presidente precise de actuar de urgência quando a sessão legislativa do Senado está interrompida (o que acontece agora, para as férias). No entanto, o cargo nomeado através deste processo fica sujeito à duração do mandato do Congresso, o que quer dizer que John Bolton terá um mandato reduzido de 16 meses, até Janeiro de 2007, quando um novo Congresso tomar posse.

A decisão de Bush era já esperada, face à irredutível oposição do Senado em confirmar o nome proposto pelo Presidente em Março passado, um dos principais ideólogos do movimento neo-conservador, conhecido pela sua hostilidade às organizações multilaterais, sendo muito crítico da acção da ONU no mundo.

Apesar das principais críticas surgirem das organizações da sociedade civil e do Partido Democrata, também vários senadores republicanos se mostraram sensíveis aos argumentos ouvidos nas audiências, durante as quais antigos colaboradores acusaram Bolton de ser autoritário, irascível e vingativo.

Ainda assim, o Presidente manteve a sua decisão inicial, sustentando que a escolha de Bolton assenta na “sua vasta experiência em política internacional, na sua integridade e na vontade de enfrentar de forma directa as questões importantes”.

Sub-secretário de Estado para a Segurança e Controlo de Armamento, Bolton liderou as negociações para tentar convencer a Coreia do Norte a abandonar as suas ambições nucleares, tendo sido também um dos mais fervorosos adeptos da guerra contra o regime de Saddam, acusado pelos EUA de esconder armas de destruição maciça.

Bush justifica o decreto de nomeação com a impossibilidade de manter vago o lugar na ONU “numa altura em que está em curso o debate essencial sobre a reforma” da instituição e considerou que Bolton vai insistir para que este processo permita alcançar “resultados concretos”.

A iniciativa de Bush mereceu já duras críticas da oposição democrata. John Kerry, candidato derrotado nas últimas presidenciais, acusou Bush de apenas ter contribuído “para enfraquecer a posição dos EUA na ONU”. “Esta não é a forma correcta de atribuir postos diplomáticos desta importância”, lamentou o responsável.

Mais diplomático, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse estar ansioso para trabalhar com Bolton, mas alertou o novo embaixador que deve trabalhar num espírito de colaboração com os representantes dos outros países para que os resultados possam ter resultado. “Penso que é certo um embaixador tenha a iniciativa e queira concretizá-la, mas ele deve lembrar-se que existem outros 190 embaixadores que devem ser convencidos para que se possa passar à acção”.

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