As escolhas do botânico

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Quai de Branly (em cima), Rue d"Alsace (em baixo) e posto de turismo de Santa Cruz de Tenerife (à direita)

Pedimos a Patrick Blanc para seleccionar obras suas em Paris, cidade onde primeiro e até agora mais interveio, juntando-lhe aquelas que mais marcaram o seu processo de internacionalização. Acabámos, já se vê, a falar da Amadora.

Pershing Hall, Paris 2001

Edifício típico do Segundo Império, antigo quartel-general das tropas americanas em Paris, o Pershing Hall foi mais recentemente convertido em hotel boutique pela mão da consagrada decoradora Andrée Putman. Foi ela quem recrutou Patrick Blanc para cobrir as paredes do seu pátio interior com uma minifloresta subasiática. Foi o projecto que realmente lançou o botânico, como ele próprio faz questão de frisar: "Até então todas as coisas que eu tinha feito caíam no domínio da arte contemporânea ou da intervenção em museus. No Persing Hall pude, pela primeira vez, intervir na arquitectura, visto que se trata de um prédio tipicamente parisiense com paredes de 30 metros de altura. Por isso foi uma intervenção marcante, que veio trazer algo de novo e mexer com a cidade. Também é curioso, e não destituído de uma certa ironia, que essa primeira intervenção urbana tivesse sido encomendada por uma decoradora e não por arquitectos."

Musée du Quai de Branly, Paris 2005

A fachada totalmente coberta de verde da sede administrativa é o cartão-de-visita e uma das atracções de pleno direito do novo museu de arte primitiva de Paris. São 15 mil plantas de 150 espécies que se conjugam para atapetar uma fachada de 800 m2, que atinge 25 metros de altura. É um dos ícones da "renovação do milénio" na Cidade das Luzes, por isso mesmo acentuada pelo autor: "A grandeza da instalação, a sua localização aos pés do Sena, perto da Torre Eiffel, numa via de grande circulação, tudo isso se conjuga para fazer deste um dos meus trabalhos mais importantes de sempre. Claro que algumas das espécies que empreguei são as mesmas do Pershing Hall, mas a parede do Quai Branly é mais exposta, de modo que houve algumas plantas mais frágeis que tiveram de ficar de fora. Em compensação, no Branly introduzi algumas pequenas coníferas que crescem ao vento sobre as rochas. É a prova de que cada muro tem a sua especificidade e que tudo depende da sua localização."

Rue d"Alsace, Paris 2007

O destaque justifica-se por duas razões pelo menos: "É a maior instalação que alguma vez realizei, ocupando as paredes a todo o comprimento da Rue de Alsace, ruela que liga as gares de Leste e do Norte. É uma ruela de paredes cegas, frente a um conjunto de antigos edifícios ferroviários, recentemente remodelados para apartamentos. Daí a segunda razão do destaque: a cobertura verde dessas paredes surgiu como uma solução para resolver um dilema urbano e acaba por ser bastante impressionante ver uma ruela antiga de Paris assim coberta de plantas."

21st Century Museum, Kanazawa, 2004

National Concert Hall &National Theatre , Taipé, 2007/9

Caixa Fórum, Madrid, 2007

O Museu do Século XXI de Arte Contemporânea de Kanazawa, no Japão, é uma peça de arquitectura excepcional, desenhada por Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa do atelier SANAA (vencedores do Pritzker, no ano passado). Não quer ser apenas um museu, mas também um parque e um espaço de lazer e é neste contexto que se insere a GreenBridge de Patrick Blanc, envolvendo o corredor de vidro que dá entrada no pátio do museu. O autor define-o como "uma espécie de túnel em vidro pelo qual as pessoas circulam com plantas de ambos os lados". "Uma das minhas peças mais artísticas".

Patrick foi também chamado a intervir por duas vezes e em curto espaço de tempo nas duas salas gémeas de Liberty Square, as maiores dedicadas a arte de palco em Taiwan. Primeiro instalou quatro mil plantas de espécies comuns em duas entradas da sala de concertos. Depois foi a vez de uma das portas do Teatro Nacional receber uma cobertura vegetal onde se destacam 230 orquídeas de 25 variedades locais. É um dos projectos preferidos do botânico, segundo as suas próprias palavras, porque "introduzir esse elemento vegetal num edifício chinês completamente fechado, coberto de telha vermelha, é único e bastante inesperado". Os chineses de Taiwan gostaram tanto que passaram a chamar-lhes Sinfonia Verde (National Concert Hall) e Valsa das Orquídeas (National Theater).

Outra intervenção na short list do botânico é a que decora a Caixa Fórum, em Madrid. A dupla de arquitectos suíços Herzog e De Meuron (também vencedores do Pritzker) assinou a conversão da centenária Central Eléctrica do Mediodía num museu e centro de artes. Mas o banco aproveitou para criar também uma nova praça pública à frente do remodelado edifício, fechada a norte pela empena de um prédio de habitação no Paseo do Prado. Foi esta parede que acabou por ser intervencionada por Patrick Blanc. São 15 mil plantas de 250 espécies que não param de causar admiração e de chamar visitantes à Caixa Fórum. O autor explica: "Entre o vermelho da fachada industrial de Herzog e De Meuron e as plantas verdes que eu coloquei na parede ao seu lado, há um jogo fantástico que atrai as pessoas e que também me agrada imenso".

Dolce Vita Tejo, Amadora 2009

O Dolce Vita Tejo integra a maior praça coberta da Europa, sendo as suas paredes revestidas a três quartos (900 m2) por um jardim vertical com assinatura de Patrick Blanc. O jardim tem a particularidade de mudar consoante as estações do ano, que são o próprio tema do centro comercial. O autor está orgulhoso, mas também um pouco preocupado com o futuro da sua obra instalada na Amadora: "É o maior muro vertical que fiz até agora em interiores. Na verdade é meio interior, meio exterior e é isso mesmo que o torna tão interessante. As plantas mais vulgares vieram de Portugal, enquanto outras mais excepcionais comprei-as em fornecedores de Paris. Não há propriamente plantas nativas de Portugal, uma vez que estamos em interiores, mas sim espécies tropicais, mais próprias a antigas colónias portuguesas, como o Brasil. Em Maio passado aproveitei ter sido convidado para uma conferência em Lisboa para voltar a esse centro comercial e conversar com o pessoal da manutenção. Fiquei sobretudo irritado por eles cortarem - supostamente por razões de segurança - as plantas, que à medida que crescem vão caindo parede abaixo. Razões de segurança? É um bocado ridículo".

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