Se um homem lhe roubar a saia, isso é FashionArt Festival

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Pedro Ferreira

Estoril FashionArt Festival quer democratizar moda e artes a ela ligadas, de Paco Rabanne a Homens de Saia, passando pelo cinema e por uma feira vintage

Não serão homens de saia a fazer parar o trânsito - os outdoors de fotografia de moda que começaram a surgir há duas semanas nas vias públicas do concelho de Cascais são outra loiça. Carlos Ramos, Pedro Ferreira, Luís de Barros, Paulo Segadães e Rui Aguiar espalham mulheres fumegantes, em flor ou em disposição fashion por várias artérias no eixo Estoril-Cascais. Este é o conceito do Estoril FashionArt Festival (EFAF), primeira edição para turista (inglês, mas não só) ver, continuação de vivência moda dos moradores da Linha após a temporada que ali passou a ModaLisboa. Mas sim, também há homens de saia.

Paco Rabanne, filmes, Espanha, desfiles, instalações, um speaker"s corner com conversas vespertinas de fim-de-semana e até a feira Royal Vintage (Jardim da Parada dias 3 e 4, em Cascais) marcam o início de um festival que quer ser "uma oferta cultural turística", nas palavras de Eduarda Abbondanza, da Associação ModaLisboa e que, com Tiago Manaia, Rita Rolex e Juan Montenegro (no braço espanhol deste festival), assegura a direcção criativa do evento. São cinco dias de EFAF: "Muito da moda é perspectiva artística, mas moda e arte são chapéus [conceptuais] muito grandes e abafam-se - e daí surge a palavra FashionArt", explica Abbondanza ao P2.

O festival fragmenta-se por espaços públicos e outros com convite e/ou lotação limitada - é o caso dos desfiles de roupa de praia, noite, desportiva, dos designers da plataforma LAB da ModaLisboa e de Amaya Arzuaga na Marina de Cascais, para os quais a maior parte dos convites é distribuída pela autarquia de António Capucho. Há um país convidado e vizinho, Espanha, de onde vem uma das suas criadoras mais internacionais, Amaya Arzuaga, para mostrar uma mescla de colecções. Mas também uma exposição de fotografia de moda dos espanhóis Daniel Riera, David Urbando, Eugénio Recuenco e José Manuel Ferrater (até 11 de Julho, no antigo edifício dos bombeiros voluntários), bem como a exposição dedicada a Luis Venegas, o publisher de 31 anos que mexe com três revistas de cultura urbana e é todo um one man show madrileno (de 3 a 11 de Julho na Rua de Frederico Arouca, 404).

Basco espanhol mas radicado em França, Paco Rabanne marca o EFAF com uma exposição (Museu dos Condes de Castro) de 16 peças em retrospectiva em que está o vestido de Audrey Hepburn em Caminho para Dois (1967). Mas a grande mescla Portugal-Espanha, ultrapassado que está o jogo do Mundial de Futebol de ontem à noite, será mesmo com HombresEnFalda (Marina de Cascais de 1 a 11 de Julho), que vem de Espanha para mostrar 110 manequins masculinos de saia. A ideia é mostrar a controvérsia que uma saia põe em cima de um homem que a ousa vestir e que vai dos figurinos de Rudolf Nureyev ou Joaquín Cortés aos kilts, além de convidar sete criadores portugueses (entre os quais Ricardo Dourado, autor da saia na foto) a juntar-se a Armani ou a Missoni no desenho de saias masculinas.

Há ainda filmes na Casa de Histórias Paula Rego, a 2 e 4 de Julho, com entrada livre: os documentários The Day Before (Rykiel, Proenza Schouler, Fendi e Gaultier), Signé Chanel e Marc Jacobs & Louis Vuitton, todos de Loic Prigent, a série de TV Provas de Contacto de William Klein para o canal ARTE e os filmes September Issue e Who Are You Polly Magoo?

Com um orçamento de perto de um milhão de euros das verbas da concessão de jogo, a Associação ModaLisboa planeou um festival "abrangente" q.b.. Pensou em como eram percepcionados pelo público em geral na sua versão "desfiles-de-criadores-a-cada-estação" e criou um novo evento em que se tentam "aproximar as expressões criativas de que a moda faz parte para um público mais alargado, democratizando-as", explica Abbondanza.

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