"Mais vale encerrar o interior e vai tudo para o litoral"

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O ramal da Figueira foi encerrado há ano e meio ADRIANO MIRANDA

a Há cerca de um ano e meio, a circulação de comboios na linha entre a Pampilhosa e a Figueira da Foz foi interrompida por razões de segurança, com a promessa de uma intervenção que reabilitaria o ramal. Até hoje, os autarcas dos concelhos que são atravessados pela linha aguardam a intervenção e estão já alarmados com a possibilidade de a linha encerrar de vez. "Se os critérios económicos foram os únicos tidos em conta, então mais vale encerrar o interior e vai tudo para o litoral", diz João Moura, presidente da Câmara de Cantanhede, no distrito de Coimbra.

O autarca lamenta o facto de nem a Refer nem o Ministério dos Transportes e das Obras Públicas terem dito, "preto no branco", quando é que será feita a intervenção no ramal entre a Figueira da Foz e a Pampilhosa. Lembra que há cerca de "quatro, cinco anos" foram feitos investimentos na linha e considera, por isso, "absurdo" que o encerramento definitivo possa estar a ser ponderado. "Falta visão e planeamento estratégico ao Estado, que mais parece andar a brincar com os dinheiros públicos. São milhões de euros esbanjados inutilmente", critica.

O presidente da autarquia da Mealhada, Jorge Cabral, concelho que também é servido pela linha, defende que o ramal tem ainda um papel "importantíssimo a desempenhar" no transporte de passageiros, mas, também, no sector das mercadorias. "É uma linha fundamental para o porto da Figueira da Foz e para a plataforma logística que será associada ao porto", defende.

João Moura defende mesmo que a linha ferroviária é uma peça essencial para servir o transporte de mercadorias entre a Zona Centro do país e a zona espanhola de Castela e Leão, através da plataforma logística associada ao porto da Figueira da Foz. "Para o concelho de Cantanhede, para a comunidade intermunicipal do Baixo Mondego, esta é uma matéria estruturante. É essencial que a linha ferroviária volte a funcionar", declara o autarca.

"Nada nos foi dito"

Curiosamente, nas obras de reabilitação do ramal da Pampilhosa estava previsto que seriam utilizados os carris que faziam parte do ramal da Lousã e que foram arrancados há cerca de um ano, tendo em vista a instalação do metro ligeiro de superfície entre Coimbra e Serpins. Também no ramal da Lousã, a circulação ferroviária foi interrompida com promessas de que dentro de dois anos haveria um novo sistema de transportes em circulação. Mas, por causa das restrições financeiras impostas pelo Governo às empresas públicas, a obra do Metro Mondego também foi cancelada e, à semelhança do que acontece no ramal da Pampilhosa, o transporte dos utentes está a ser assegurado por autocarros.

Neste caso, o serviço ferroviário pode até vir a ser substituído por um transporte de autocarro em canal dedicado, um Metrobus, que implicaria asfaltar a via até há pouco tempo usada pelo comboio. Mas a Refer e o Governo ainda não deram nenhuma informação aos municípios do que é que será feito no ramal.

Já na Pampilhosa, os carris que faziam parte do ramal da Lousã já estão espalhados ao longo da linha. Mas os autarcas dizem nada saber sobre as intenções da empresa e da tutela. "Oficialmente, não nos foi dito absolutamente nada. E é lamentável que assim seja", diz Jorge Cabral, para quem no país "existem estradas a mais e caminhos-de-ferro a menos".

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