A nova atracção da Expo é um prédio com escamas

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Vista das obras na zona do restaurante; à direita, pormenor da fachada do Edifício do Mar e João Falcato, administrador do Oceanário

A expansão do Oceanário, equipamento por onde já passaram mais de 15 milhões de pessoas, abre em Março, para garantir que não se transforme num local de uma só visita. As tartarugas são as estrelas da primeira exposição. Por Inês Boaventura(texto) Enric Vives-Rubio(fotografias)

a Além de ter permitido regenerar e devolver aos concelhos de Lisboa e Loures uma extensa e apetecível área à beira-rio, a Expo "98 deixou uma outra herança: um conjunto de edifícios emblemáticos, que na maioria dos casos souberam moldar-se à nova vida do Parque das Nações. Hoje, nesta zona, que é também um ponto de visita turístico praticamente obrigatório, vivem mais de 18 mil pessoas e trabalham pelo menos 22.500.

Uma das excepções a essa regra é o Pavilhão de Portugal, projectado pelo arquitecto Siza Vieira e para o qual mais de 12 anos depois da exposição ainda não foi encontrada uma razão de ser, para lá de algumas utilizações pontuais. Pelo contrário, ali ao lado são vários os equipamentos culturais, como o Pavilhão Atlântico, o Pavilhão do Conhecimento ou o Oceanário, que dão provas de vitalidade.

Pelo Oceanário passam anualmente mais de um milhão de pessoas, das quais 70 por cento são estrangeiras. A popularidade deste equipamento entre os turistas internacionais comprova-se também por outros números que deixam o administrador João Falcato orgulhoso: no TripAdvisor (que se apresenta como o maior site de viagens do mundo) o aquário no Parque das Nações surge como o segundo local que mais recomendações de visita tem em Lisboa, logo depois do Mosteiro dos Jerónimos.

Âncora de pessoas

Sem problemas de notoriedade e satisfação além-fronteiras, a maior dificuldade do Oceanário tem sido convencer quem vive em Lisboa e arredores a lá regressar após uma primeira visita. Depois de olhar para os exemplos de aquários de todo o mundo, João Falcato concluiu que quase sempre se tem optado por "grandes investimentos, de 25 ou 30 milhões de euros, em mega-expansões", solução que se tem revelado "pouco sustentável" porque o número de visitantes sobe nos primeiros anos mas rapidamente estabiliza.

Em Lisboa, a opção foi por um investimento menor, de 4,8 milhões de euros, mas capaz de "criar novas atracções constantemente", como explica aquele administrador, que começou a trabalhar no Oceanário em 1997 como aquarista. É com essa filosofia que o Edifício do Mar, que está a ser construído ao lado do edifício onde hoje funcionam as bilheteiras, integra uma sala de exposições temporárias com 600 metros quadrados (ver caixa), além de um auditório com 125 lugares onde, entre outras actividades, haverá teatro infantil.

O imóvel projectado pelo arquitecto Pedro Campos Costa tem ainda um restaurante, que João Falcato acredita que "irá aumentar fortemente o conforto dos visitantes", que até aqui evitavam visitar este equipamento à hora das refeições. É também pelo novo edifício que passará a ser feito o acesso ao Oceanário, o que permitirá ganhar espaço para as actividades educativas, que no ano passado mobilizaram 54 mil participantes.

Miguel Alegria, engenheiro responsável pela expansão do Oceanário, explica que a construção do Edifício do Mar envolveu alguma complexidade, desde logo porque num espaço que não é particularmente grande (cerca de mil metros quadrados distribuídos por três pisos acima do solo e duas caves) haverá valências muito distintas.

Desde que esta expansão começou a ser pensada foi grande a preocupação em não competir com a linguagem arquitectónica do edifício principal do Oceanário, criado por Peter Chermayeff para a Expo "98, bem como em preservar o espaço público envolvente a este equipamento. "Fomos a Boston mostrar o projecto ao arquitecto e ele ficou muito satisfeito com o que íamos fazer", garante João Falcato, defendendo que se encontrou "uma solução muito adequada, que não choca com o que já existe".

Respeitar um ícone

Também o arquitecto Pedro Campos Costa salienta, na memória descritiva do novo edifício, que este foi "um desafio muito interessante, embora complexo e difícil", por se estar a intervir "num ícone da cidade, classificado como património municipal".

Um dos aspectos mais marcantes da expansão do Oceanário é o seu revestimento: a fachada ostenta cerca de sete mil peças de cerâmica em três tons de branco, da autoria do atelier de Toni Cumella Vendrell, que procuram recriar as escamas de um peixe. Lá dentro os visitantes poderão optar por ver apenas a exposição permanente, a exposição temporária ou ambas.

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