A cegueira de Bashar mata a Síria

Em 2000, o oftalmologista Bashar tornou-se num Presidente acidental, a segunda escolha do pai para um lugar reservado ao irmão mais velho. Vestiu primeiro a pele de um arnab (coelho) mas tornou-se feroz como um Assad (leão)

Haitham al-Maleh passou oito anos e meio de mais de oito décadas de vida nas cadeias de Hafez e Bashar al-Assad. Em 1951, foi detido pela primeira vez e, em 1966, impedido de exercer a profissão de juiz, devido ao seu activismo pelos direitos humanos. Cumpriu a última sentença em 2009. Foi libertado a 8 de Março de 2011 - o mês em que começou a revolução na Síria, no dia 15. Ele conhece bem o regime e, por isso, não hesita no prognóstico: a primeira dinastia republicana árabe vai cair "como ruiu a União Soviética". O Presidente e a sua família "deveriam ser presos e ter um julgamento justo mas, prosseguindo os seus crimes, aproximam-se do destino de Khadafi na Líbia".

"Bashar cometeu os piores crimes contra o seu próprio povo - massacres, pilhagens, violações, uma destruição sistemática; seguiu o exemplo de Khadafi e suspeito que terá o mesmo fim" - capturado e assassinado pelos rebeldes disse Maleh à 2, numa entrevista por email, conduzida por intermédio do seu filho Iyas, exilado desde os 19 anos nos Estados Unidos. "Até agora, este Presidente matou mais de 20 mil cidadãos, há mais de 50 mil desaparecidos, mais de 100 mil prisioneiros e mais de um milhão de refugiados."

Em 2000, quando Hafez morreu e o filho Bashar lhe sucedeu, Maleh escreveu várias cartas ao novo chefe de Estado apelando a reformas e ao levantamento da lei de emergência, em vigor desde que Hafez ascendera ao poder em 1970. Em 2003, num discurso perante o Parlamento alemão, o homem a quem a Holanda deu a medalha Geuzen, que homenageia a resistência dos seus combatentes contra os nazis, ousou definir o clã Assad como uma "ditadura fascista". No regresso a casa, foi proibido de sair do país nos sete anos subsequentes. Durante esse período, foi submetido a várias formas de perseguição e intimidação. O seu escritório de advocacia foi demolido três vezes, e a rua onde se situava era frequentemente encerrada por dezenas de agentes secretos para "aterrorizar os clientes" que o procuravam.

A 14 de Outubro de 2009, por continuar a denunciar a inexistência de um sistema judicial independente, Maleh foi novamente encarcerado, depois de comparecer perante um tribunal militar. Em Julho de 2010, foi condenado a uma pena de três anos por "abalar o sentimento nacional". Preocupado com as revoltas populares que abalavam a Tunísia, o Egipto e o Iémen, Bashar ordenou a libertação do seu grande opositor em Março de 2011, no âmbito de uma amnistia a prisioneiros com mais de 70 anos e outros "culpados de crimes menores". Em Julho de 2011, levantou a proibição de vários destacados dissidentes saírem do país, e Maleh, com 81 anos, foi um dos beneficiados. O herdeiro de Hafez não imaginava, porém, que o inimigo do regime iria ser o fundador do principal movimento de oposição no exterior: o Conselho Nacional Sírio (CNS).

Em 2000, quando foi elevado a todos os escalões do poder - chefia do Estado, liderança do partido Baas e comando das forças armadas -, Bashar fez renascer a esperança de uma "Primavera de Damasco", ou seja, uma maior abertura política e social. Mas esta foi de curta duração. "A razão fundamental é que o seu regime não podia ser reformado", realçou Nadim Shehadi, director do Centro de Estudos Libaneses na Universidade de Oxford e investigador associado do Programa de Médio Oriente no Royal Institute of International Affairs (Chatham House), um dos mais prestigiados think tanks britânicos e europeus. "Um upgrading cosmético não é compatível com liberdade. Qualquer reforma séria significaria sempre a desintegração do regime, e Bashar jamais empreenderia reformas. Daí a decisão de usar a violência de uma forma racional."

A repressão sangrenta foi "uma estratégia deliberada de Bashar para não expor a sua fraqueza e tentar confundir o Ocidente", segundo disse Shehadi à 2. "Ele vê a revolta apenas como uma conspiração manipulada por americanos, israelitas e outros inimigos. Tornou-se, para ele, um mantra insistir em que a Síria não é a Tunísia, o Egipto e os outros países cujos ditadores foram escorraçados, mas creio que o regime sírio é, em determinados aspectos, muito pior do que o egípcio e o tunisino, porque nos últimos 40 anos impediu todas as alternativas políticas. Até o exército ele conseguiu fragmentar, impossibilitando-o de qualquer tentativa de conspiração."

Haithem al-Maleh faz um retrato semelhante: "Este regime tem sido capaz de suster a sua existência porque, tal como Franco, Mussolini e outros antigos ditadores da Europa de Leste, domina com mão de ferro e poder de fogo. Desde 1963 que o Baas se centrou em destruir a estrutura da sociedade, começando pela Educação, Justiça e Exército. A corrupção contaminou todo o regime e este deu rédea solta aos seus fantoches para fazerem o que lhes apetece - desde que o chefe do regime não seja destituído. A família presidencial controla 85% do PIB [Produto Interno Bruto], mais de 60% do povo vive abaixo da linha de pobreza e 30% está no desemprego. A lealdade para com o regime tornou-se na condição para ter uma vida confortável."

Eyal Zisser, académico israelita e autor de Commanding Syria, um livro no qual examina os poderes de Hafez e Bashar, diz que nunca considerou "um reformador ou um democrata" o filho do homem que dava "lições de História do Médio Oriente" a Henry Kissinger, então chefe da diplomacia americana, durante longas horas, sentado numa poltrona. Em entrevista à 2, por email, Zisser admitiu que Bashar estivesse "realmente empenhado em melhorar a situação económica da Síria, em abrir novas escolas e hospitais - mas era só isso o que, para ele, constituía reformas. Afinal de contas, ele nasceu na Síria, foi educado pelo seu pai e tinha de cumprir a herança que lhe foi deixada".

Bashar foi sempre um enigma. "Nunca o compreendemos desde o início", adiantou Zisser, Director da Faculdade de Humanidades, Cátedra "Yona e Dina Ettinger" de História Contemporânea do Médio Oriente, na Universidade de Telavive. "Pensávamos que ele, quando falava em reformas, tinha em mente uma democracia. Desde o início também que muitos na Síria odiavam o seu regime - mas havia até agora um muro de medo que impedia acções de protesto. Depois da Tunísia e do Egipto, também na Síria esse muro ruiu." Zisser nunca duvidou de que a decisão de agir violentamente contra manifestantes desarmados foi de Bashar. "Desde o seu primeiro dia na Presidência que nos dizem que não é ele, mas foi sempre Bashar quem jogou as cartas com esperteza, tentando apresentar-se como o polícia bom."

Não é muito diferente a visão de Ammar Abdulhamid, presidente da Fundação Tharwa, antigo investigador no Saban Center for Middle East Policy na Brookings Institution, nos EUA, um dissidente frequentemente ouvido pelo Presidente e pelo Congresso norte-americanos. Quando o inquirimos, por Facebook e email, sobre as razões que levaram Bashar a transformar a "Primavera de Damasco" num "Inverno de descontentamento", Abdulhamid respondeu: "Os sírios não estavam interessados em mudanças meramente decorativas, mas em verdadeiras reformas - e, quando ele [Presidente] entendeu isso, deu ordens ao seu aparelho de segurança para desencadear a repressão. Os salões onde decorriam debates políticos foram encerrados e muitas das personalidades envolvidas nesta reflexão foram presas, sob acusações idiotas, como as de "enfraquecer o moral da nação, abalar a reputação do país, ou convívio com diplomatas estrangeiros"."

"Assim que a "Primavera de Damasco" começou a ser aniquilada, a credibilidade de Bashar começou a deteriorar-se seriamente", constatou o dissidente que, em 2005, foi obrigado a transferir para Washington, na forma de fundação, o seu Tharwa Project, criado dois anos antes na Síria. Tharwa, palavra árabe muito parecida com thawra (com o significado de "revolução"), quer dizer "riqueza".

"A insatisfação dos activistas políticos foi aumentando, no período 2005-2008, à medida que Bashar recusava introduzir reformas substanciais", disse Abdulhamid. "Na altura, a Síria estava isolada e muitos opositores consideraram ser uma boa oportunidade para encorajar mais participação no processo de decisões. A resposta do Presidente foi intensificar a tirania. A desilusão gerou um fenómeno de massas, entre 2008 e 2010, quando Bashar anunciou várias medidas económicas, disfarçadas de "reformas", que prejudicaram muito a classe média e só beneficiaram os familiares e lacaios de Bashar."

Abdulhamid salienta que "o facto de haver tanta corrupção na família presidencial (e de não ter sido feito qualquer esforço para acabar com isso), a ausência de uma rede de segurança social que beneficiasse as classes mais frágeis e uma persistente negligência face a problemas locais contribuíram para agravar a fúria e a frustração, há tanto tempo latentes. Uma liberalização económica sem reformas políticas e judiciais significativas, sem uma campanha contra a corrupção, sem programas para amparar os pobres e revigorar a classe média só podia acabar mal. Mas Bashar estava demasiado cego para ler o que o povo escrevia nas paredes".

A "cegueira" de Bashar é atribuída por Abdulhamid ao poder incomensurável que os Assad acumularam desde o golpe de 1970, que levou Hafez a afastar os antigos companheiros de armas Nureddin al-Atassi (Presidente) e Salah Jadid (secretário-geral do Baas), expandindo a influência dos alauitas, graças a alianças com famílias poderosas, como os Makhlouf e os Shalish.

Comecemos por Hafez. Nasceu em Qurdaha, aldeia montanhosa a sudeste de Latakia, a cidade onde iniciou a vida militar e apurou o talento político que o levaria ao poder absoluto, em 1963. Nessa caminhada, o homem cujo apelido significa "Leão" teve o apoio de Aniseh Makhlouf, uma garota por quem se apaixonou e com quem se casaria em 1958. Ela era filha de um distinto cirurgião; ele era filho de camponeses, nem ricos nem pobres mas respeitados. O pai dela não aprovava esta união, mas ele foi buscá-la a casa e levou-a para Damasco. Ela fê-lo ascender ao topo do escalão social e tornou-se na sua melhor confidente. Ainda hoje, influencia as decisões do filho Bashar.

Hafez e Aniseh tiveram cinco filhos: Bushra, única rapariga, nascida em 1960 (a primogénita, com o mesmo nome, morreu na infância); Basil, herdeiro político designado que morreu num acidente de viação em 1994; Bashar, que veio ao mundo em 11 de Setembro de 1965; Maher, comandante da Guarda Republicana e da 4.ª Divisão de Blindados (forças de elite); e Majid, que não sobreviveu a uma overdose de drogas em 2010.

Pertencem todos ao ramo xiita dos alauitas, corrente do islão que a ortodoxia sunita vê como blasfemo por atribuir uma essência divina ao seu mais venerado líder espiritual, Ali ibn Abi Talib, genro de Maomé. Muitos alauitas integram-se, por seu turno, numa de quatro grandes confederações tribais: os Haddadin, os Matawira, os Khaiyatin e os Kalbiya - os Assad estão ligados a esta última. O nome "alauita" foi cunhado durante o Mandato Francês da Síria; antes da Primeira Guerra Mundial, a comunidade era conhecida como Nusairita, designação inspirada em Muhamad ibn Nusayr, um pregador do século IX.

Segundo Abdulhamid, os verdadeiros decisores no país não eram o Governo ou o Parlamento, mas Bashar, Aniseh, Maher, Bushra e o seu marido, Assef Shawkat - um homem muito mais velho, promovido por Bashar a vice-ministro da Defesa mas de cujas ambições Basil e Hafez desconfiavam. Militar de origens humildes, Shawkat enfrentou a "Esfinge de Damasco" e foi buscar ao palácio dos Assad a "solteira mais cobiçada da Síria", de acordo com a biografia do defunto Presidente, escrita pelo jornalista britânico Patrick Seale.

Tal como a da sua mãe, a influência de Bushra, licenciada em Farmácia e conhecida como "dama de ferro", era colossal. "Partilhando com o seu pai um misto de romantismo e obstinação", notou o jornalista sírio Mohamad Daoud."Convenceu Hafez a não prender o tio Rifaat al-Assad, quando este tentou afastá-lo num golpe, em 1984, porque isso "seria a desgraça da família"."

Abdulhamid, o presidente da Fundação Tharwa, adiantou que no círculo de Bashar estavam ainda Muhammad Makhlouf (irmão de Aniseh) e o seu filho, o muito contestado Rami, que se tornou tesoureiro da família na última década, detendo o monopólio de negócios lucrativos, como o dos telemóveis - ou, como especificou o israelita Eyal Zisser, tinha na sua posse "60% da economia síria". Neste anel incluíam-se também os filhos de Jamil al-Assad (tio paterno já falecido), Asma Akhraz (a mulher de Bashar) e o seu pai, um famoso cardiologista; e um grupo de generais e oficiais alauitas.

"A partir de 2005, as opções de Bashar tornaram-se mais e mais uma decisão colectiva, com ele a consultar a sua pequena rede familiar, ou pelo menos o gabinete restrito que formou à sua volta - Maher, Bushra, Assef, Rami, a sua mãe e, ocasionalmente, Asma. Não interessa saber quem advogava as políticas mais extremas porque, no final, era uma decisão conjunta, e Bashar fazia parte dela", acusou o dissidente sírio Maleh.

Bashar tinha 29 anos quando o pai o foi buscar a Londres, onde estudava Oftalmologia, para ocupar o lugar do irmão Basil, morto misteriosamente num acidente de viação na estrada que liga as capitais da Síria e do Líbano, em 1994. O funeral do filho favorito foi a única vez que os sírios viram chorar o homem a quem chamavam a "Esfinge de Damasco".

Apesar da imagem de jovem moderno e interessado nas novas tecnologias, um estudo do Centro Herzliya, do qual faz parte a elite política e de segurança de Israel, nota que "a assimilação dos valores ocidentais" por parte do filho de Hafez "não podia ter sido profunda", porque ele frequentou as escolas sírias no início do regime do Baas, e o conhecimento que adquiriu sobre história, relações internacionais e política regional "evidencia um mundo bidimensional" em que "árabes nobres e corajosos" enfrentam "judeus e potências coloniais conspiradoras". Quando foi "exposto ao pensamento ocidental, os seus ideais e valores políticos já haviam sido previamente moldados".

Na Síria, ninguém conhecia Bashar até à morte de Basil - as ruas só começaram a ser ornamentadas com as fotos dos dois irmãos quando o herdeiro de Hafez morreu. Até assumir a chefia do Estado (a Constituição teve de ser mudada porque ele tinha apenas 35 anos), em 2000, o único cargo oficial que se conhecia a Bashar era o de presidente da Sociedade de Computação Síria.

Bashar cativou figuras como Ammar Waqqaf, presidente de uma empresa de consultoria de negócios com sede no Reino Unido, um dos membros fundadores do Syrian Social Club em Londres - ou como ele o definiu, em declarações à 2, "uma organização livre formada pelos que pretendem reformar o regime, não derrubá-lo".

"Nunca me encontrei com o Presidente, mas estive presente em eventos nos quais ele também esteve. A imagem desta pessoa foi sempre a de um reformista racional na política interna, e de um tipo duro nas questões externas. Não considero que tenha sido o arquitecto da "Primavera de Damasco", embora esta tenha começado quando ele subiu ao poder. Creio que ele tentou institucionalizar o regime que herdou do seu predecessor e muitos sírios, eu incluído, votaram nele em 2000 tendo esse objectivo em mente."

"A juventude, a educação no Ocidente e o seu casamento com uma londrina reforçaram a imagem de Bashar como um modernizador", adiantou o consultor. "O facto de ele estar sempre sob ataque desde a última década, de prosseguirem as tentativas de o demonizar, a ele e à sua mulher, e de uma parte dos sírios e muita gente fora da Síria o verem como responsável pelo banho de sangue faz com que na Síria muitos olhem para ele como a pessoa que, contra todas as adversidades, tem suportado uma pressão sem precedentes do mundo inteiro. Esta firmeza é a principal razão por que a Síria ainda não se desintegrou numa guerra civil. O regime mantém-se de pé e o Presidente é muito estimado."

"É muito fácil acusar a "família presidencial" de corrupção quando esta questão é muito mais profunda", lamentou Waqqaf. "Resolver o problema da corrupção tem muito pouco a ver com a mudança de Presidente e mais com uma mudança de cultura, o que não é fácil. Há muitas razões para o descontentamento na Síria - de identidade, económicas ou de liberdades políticas. O elemento da identidade [a maioria sunita querer impor-se às minorias], por exemplo, é um componente-chave que alimenta a crise actual e tem sido explorado, ao máximo, por forças estrangeiras."

Joshua Landis, académico norte-americano considerado um dos maiores especialistas na Síria, diz que a guerra em curso "é, simultaneamente, uma batalha pela democracia e um confronto étnico", com os alauitas tentando escapar ao destino marginal dos cristãos no Líbano e dos sunitas no Iraque, países maioritariamente xiitas. Ammar Waqqaf comenta: "Precisamos de nos lembrar que muitos sunitas se recusaram a participar na insurreição e isso só pode ser entendido no contexto de uma luta pela identidade síria e não apenas na perspectiva de uma guerra confessional."

"A ideia de armar a "sublevação" é o principal motivo para a carnificina a que estamos a assistir", convenceu-se Waqqaf. "Cerca de metade do total das vítimas desta crise são homens e mulheres que apoiam o Governo, sejam eles membros da Polícia e do Exército ou civis, que têm sido mortos a sangue frio. Tem havido manifestações em várias regiões da Síria e o Exército só foi colocado onde grupos armados estão activos e assumiram o controlo local. Nenhum Estado pode permitir o precedente de um punhado de pessoas controlar partes do seu território, seja qual for a razão! Todos os sírios que ficaram sob o domínio de grupos armados têm o direito a ser "libertados" pelo Estado."

Haitham al-Maleh reagiu deste modo: "Esta não é uma guerra étnica mas pelos direitos dos cidadãos. Desde que o Baas se impôs que várias revoltas foram tentadas mas fracassaram porque não eram populares nem tinham dimensão nacional. Há mais de quatro anos que eu esperava por esta revolução. Eu próprio disse, na época, ao chefe dos serviços de segurança, Hisham Ekhtiar, durante um interrogatório: "Vejo o sangue derramado nas ruas." Deixei um aviso mas ninguém me ouviu, Estamos a assistir ao que eu previa."

Maleh não culpa os alauitas, "muitos dos quais não apoiam Assad, mas sim o regime, que usa as diversas comunidades para não morrer. Hafez e Bashar transformaram um exército do povo num exército ideológico que pertence ao Baas". Sobre o vaticínio de Landis de que embora o regime "esteja condenado no longo prazo ainda vai durar por mais tempo do que alguns antecipam", o antigo juiz lembra: "Quem previa o colapso da URSS? Era uma das superpotências mas a sua derrocada foi fácil porque estava corrompida no interior. O regime sírio é muito parecido."

Uma prova? "O Exército demorou um mês a entrar em Baba Amro, bairro da cidade de Homs, ainda que tenha usado armas pesadas: carros de combate, rockets e bombardeamentos aéreos", indicou. "Como é que pode controlar uma nação se teve dificuldade em subjugar Baba Amro? O chefe da Força Aérea reconheceu que precisou de ajuda externa e que não autorizou os soldados a terem férias. Isto mostra fraqueza e medo. A queda deste regime é previsível. Vai desabar como um castelo de cartas."

"Não consigo prever uma saída para isto", lastima-se o consultor Waqqaf, num email enviado de Londres. "A única solução sensível seria um novo cenário político que abrisse espaço a movimentos e figuras da oposição, de modo a que pudessem formar-se, crescer e ganhar maturidade e influência. Essa esperança é ténue porque há mais figuras da oposição do que oposição. E estão demasiado influenciadas por jogadores regionais e internacionais para terem qualquer poder de decidir e sentarem-se à mesa com o actual Governo. Este, por seu lado, tem de chegar a um acordo com a oposição "disponível", mas continuar a ser implacável com a insurreição armada até que ela seja totalmente derrotada."

Haitham Maleh conclui: "A degradada situação económica, as crescentes deserções no Exército e a desobediência civil que se avizinha, em conjunto com a pressão externa, vão acabar com este regime."

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