7 Maravilhas

Os responsáveis pelo turismo foram os primeiros a festejar nos países
que viram, no sábado, os seus monumentos nacionais eleitos como as novas sete maravilhas do mundo, numa votação à escala global. Mas irão
as novas maravilhas sobreviver a ainda maiores invasões de turistas?

a Foi o músico Falcão, do grupo O Rappa, quem anunciou às cerca de 400 mil pessoas reunidas no sábado à noite na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para um dos concertos do Live Earth, que a estátua do Cristo Redentor acabava de ser eleita uma das novas sete maravilhas do mundo numa cerimónia a decorrer no Estádio da Luz, em Lisboa. A multidão começou imediatamente a festejar. E o secretário do Turismo da cidade subiu ao palco. Não é coincidência que em todos os países que viram um monumento nacional considerado maravilha do mundo os primeiros a reagir tenham sido os responsáveis pelo Turismo. O governador do Rio, Sérgio Cabral, falou de "uma vitória que eleva ainda mais o Rio de Janeiro como um dos destinos mais desejados e admirados do mundo".
E a ministra brasileira do Turismo, Marta Suplicy, anunciou, conta a Folha Online, que daqui para a frente as campanhas de publicidade "darão ainda mais destaque ao Cristo, com peças que lembrem que vale a pena visitar uma das sete maravilhas do mundo". A aposta não é irrelevante num país que, de acordo com a Organização Mundial do Turismo, viu em 2006 o número de turistas cair em seis por cento.
Mais dramática é a situação da Jordânia, onde ontem milhares de pessoas festejaram, dançando, cantando e agitando bandeiras, a eleição de Petra. O país, incluindo a família real, empenhou grandes esforços para que a "cidade rosa" ficasse entre as sete maravilhas. Nos últimos meses, a cidade "assistiu a um frenesim de actividade como provavelmente não via desde que a vida civilizada acabou aqui no século VIII", escreveu Jon Leyne da BBC em Janeiro, enquanto assistia ali à encenação de uma luta de gladiadores.
Durante séculos Petra esteve esquecida do mundo. A partir do século XIX foi redescoberta e tornou-se gradualmente um destino turístico. Mas as tensões no Médio Oriente, sobretudo a partir de 2000 em Israel e na Palestina, mudaram tudo. "Nos bons tempos tínhamos cinco mil ou dez mil pessoas todos os dias", lamentava-se em 2003, a outro jornalista da BBC, o proprietário de dois burros de transporte de turistas. "Agora temos sorte se tivermos 15 ou 20 pessoas. E houve dias, durante a guerra no Iraque, em que não veio ninguém".
"A designação de Petra como uma das sete novas maravilhas poderá duplicar o número de turistas, calculado actualmente em 400 mil por ano, aumentar as receitas deste sector e dinamizar a economia nacional", disse ontem à AFP o secretário-geral do Ministério do Turismo e das Antiguidades jordano, Faruq Hadidi.
O templo indiano de Taj Mahal foi o último a ser anunciado na cerimónia de Lisboa. O suspiro que a actriz indiana Bipasha Basu (uma dos três apresentadores internacionais, ao lado dos actores Ben Kingsley e Hilary Swank) deu nesse momento foi significativo. Depois de ter estado bastante abaixo da lista, o Taj Mahal iniciou uma espectacular subida graças a uma enorme campanha nacional que envolveu cantores e actores de Bollywood e mobilizou os muitos milhões de indianos com telemóveis e acesso à Internet (as duas formas de votar para as sete maravilhas). Ontem, Ambika Soni, responsável pelo Turismo e Cultura da Índia, disse que a eleição "vai fazer aumentar o turismo no país".
Em Agra, a cidade mais próxima do mausoléu, houve fogo de artifício e os turistas foram recebidos com bombons e a notícia de uma redução de 20 por cento nos preços dos quartos de hotel durante um ano.
Mudança de cenário: pirâmide de Chichén Itzá, no México. Seis mil pessoas, segundo a AFP, reuniram-se para festejar com danças e cânticos maias, a escolha do seu monumento. Mas arqueólogos citados pela BBC manifestam o receio de que as ruínas maias sejam atingidas por uma avalanche de turistas que obrigue as autoridades a limitar o acesso ao local para o proteger.

A "sorte" de AngkorA mesma preocupação existe em relação a Machu Picchu, no Peru, também eleita maravilha. Os 2500 visitantes que a antiga cidade inca recebe actualmente por dia são já considerados uma ameaça ao monumento (que a Unesco está a avaliar se deve ser considerado património em perigo). "As empresas de turismo levam lá acima cerca de 2500 pessoas por dia", explicou à BBC David Ugarte, director do Instituto Cultural Nacional de Cusco, a capital regional. "E querem levar diariamente cinco mil ou mais. Se isso acontecer, em dez anos deixará de haver Machu Picchu".
Nesta perspectiva, talvez tenha sido bom para os templos de Angkor, no Camboja, não terem ficado entre as sete maravilhas. Os peritos dizem que Angkor está ameaçado pelo enorme aumento do número de visitantes: dos cerca de 7000 do início dos anos 90, passou-se para 900 mil em 2006 e esperam-se três milhões em 2010, de acordo com o Observer. John Stubbs, que trabalhou 15 anos em Angkor com o Fundo Mundial para os Monumentos, baseado em Nova Iorque, é taxativo em declarações ao jornal: "O turismo já está fora de controlo, e a menos que o Governo do Camboja tome medidas radicais agora, muita da magia de Angkor pode perder-se para sempre". Não ajudam, diz o autor do artigo, os centros comerciais estilo-Las Vegas, um parque temático sobre Angkor e os dois campos de golfe que já rodeiam os templos.
Angkor, tal como Machu Picchu, faz parte da Lista do Património Mundial da Unesco, organização que se demarcou desta eleição global (organizada por iniciativa do suíço Bernard Weber), e que ontem voltou a dizer que tem uma visão da restauração e protecção do património mundial diferente da dos organizadores do concurso.
No meio da euforia dos países vencedores das sete novas maravilhas, só um não festejou ontem a vitória. A China manteve-se tão impassível como a sua Muralha, que em 2002 o Fundo Mundial para os Monumentos colocou na sua lista dos 100 monumentos mais ameaçados do mundo.

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