Jean Schulz e estes quadradinhos da alma humana

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Charles M. Schulz deu-nos Charlie Brown e Snoopy, ofereceu-nos um mundo que enaltecia a graça das pessoas enquanto, com igual graça, lhe apontava as falhas. O Amadora BD 2011 celebra-o. Fomos ao seu encontro com a melhor guia possível. Jean Schulz, viúva de Charles Schulz, guardiã do seu legado.

Jean procura o traço que mostre o que nos quer explicar. Folheia as páginas do álbum de comic strips, as sequências de BD em três, quatro quadradinhos, historicamente publicados na imprensa, que abriu à nossa frente. Os olhos, os dela e os nossos, seguem as tiras que se sucedem. Humor puramente visual: o bébé que pega no telefone, o fio do telefone que se torna adversário difícil para o bebé, que acabará derrotado, amarrado pelo temível objecto. "Ele diria que é apenas desenho divertido. Divertia-se muito a desenhar e isso passa" para o leitor, comenta. A próxima tira em que pára não é "apenas" desenho divertido. "Não sei o que diz", lamenta. Traduzimos: "Vou-me sentar aqui à espera que o carteiro me traga a carta de Dia de Namorados". Di-lo uma cara conhecida. Cabeça redonda, uns vestígios de cabelo sobre as sobrancelhas, calções e camisola decorada com um ziguezague. Charlie Brown, no primeiro quadradinho, senta-se esperançado. Nos seguintes, nada mudará. Só o dia que se transforma em noite e Charlie Brown que, como habitualmente, não consegue o que deseja.

"Isto é uma coisa que temos por garantida", explica Jean. "Nada acontece na tira, excepto que os seus [de Charlie Brown] sentimentos mudam. E conseguimos aperceber essa mudança e a passagem do tempo." O que Jean nos está a dizer é que, hoje, os comics em que nada parece acontecer, mas que tudo dizem sem palavras, são um dado adquirido. Mas que não eram quando o seu marido, o autor do álbum que folheia, começou a desenhá-los no final da década de 1940. Mas adiantamo-nos.

Neste momento, Jean continua a procurar uma expressão facial que nos explique como, na aparente simplicidade do desenho dos Peanuts - é deles que falamos -, basta um traço para revelar o peso emocional da personagem. Continua a folhear. Pára e sorri. Não encontrou o que queria. "Tenho que me rir deste". Aponta para o último quadradinho de uma das tiras. Uma pequena rapariga que se afasta, desconcertada e encolhendo os ombros, as mãos viradas para a frente, a boca franzida num traço ondulante e os olhos bem abertos, perplexos. "Ele fazia isto a toda a hora", conta Jean, imitando o gesto do quadradinho, que imita o gesto do seu autor. "Fazia-o quando ouvia um ruído estranho. Eles eram ele mesmo, a este ponto. Quando começou a fazer aquele gesto, incluiu-o na personagem". Eles são as personagens dos Peanuts. Ele o autor que os criou, Charles M. Schulz, o homem que ofereceu ao mundo Charlie Brown, Snoopy ou Lucy Van Pelt, a rapariga a quem emprestou aquele gesto de ombros encolhidos e boca franzida.

Estamos no Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem (CNBD), na Amadora, rodeados por personalidades de História de Portugal transformadas em banda desenhada. História com Humor, é a exposição que nos rodeia, inserida na programação do Amadora BD - 22.º Festival Internacional de Banda Desenhada 2011, que teve início dia 21 e que se prolonga até 6 de Novembro. Este ano é dedicado, precisamente, ao humor.

No Fórum Luís de Camões, onde está o núcleo central do Festival (que se alarga por vários pontos da cidade e que, além das exposições de BD, inclui concertos e exibição de cinema de animação), a organização montou uma viagem pela banda desenhada humorística estrangeira e portuguesa - neste caso, evoca-se o centenário da fundação da Sociedade dos Humoristas e avança-se até ao presente - além de se destacar, por exemplo, a nova geração de autores portugueses que inclui Filipe Pina, Filipe Andrade, Nélson Martins ou Filipe Melo, que lança no festival o segundo volume do celebrado As Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy.

Na sala do CNBD, a um dia do início do festival, Jean mergulha-nos mais profundamente numa das mais importantes histórias da história do humor no século XX. Jean é Jeannie Schulz, viúva de Charles M. Schulz, o autor que trocou as voltas ao "sonho americano", promovendo a heróis personagens que nunca eram correspondidas no amor, que falhavam no desporto, que tinham problemas de comunicação, que questionavam o mundo com um olhar sobre a vida onde o pessimismo nunca atingia o estado de neurose - era antes, talvez, uma melancolia constante, que enaltecia a graça do espírito humano enquanto lhe apontava as falhas, com igual graça. Na altura da sua morte, alguém que percebe um par de coisas sobre a dor e o pessimismo, Art Spiegelman, o criador de Maus, a banda desenhada inspirada e assombrada pelo mal absoluto do Holocausto, comentou: "Como é que os Peanuts retrataram de forma tão consistente a dor e perda genuínas ao mesmo tempo que mantinham tudo tão quente e animado?" A resposta está no próprio Schulz, homem reservado e tímido, mas de uma calorosa humanidade. E, naturalmente, conhecedor profundo das mecânicas do seu humor. É dele a frase: "Não se pode criar humor a partir da felicidade". E assim descreveu os seus Peanuts: "Nas tiras, todos os amores são não correspondidos, todos os jogos de basebol são perdidos, todos os resultados de testes [de escola] são negativos, e a bola de futebol [americano] é sempre tirada do caminho".

Rodeado de crianças (os seus cinco filhos e os dois enteados, filhos de Jean, e, obviamente, as personagens que criou) e em contraciclo com a euforia optimista, consumista, da América dos anos 1950, Charles Schulz fez os comics entrar definitivamente na idade adulta. A sua influência é imensa. Encontramo-las em sucessores como Calvin & Hobbes, de Bill Waterson, e Cul de Sac, de Richard Thompson, ou em séries televisivas como Os Simpsons, de Matt Groening, que é um fã absoluto, ou Family Guy, de Seth MacFarlane (onde até encontramos Brian, um cão antropomórfico como Snoopy). Os Peanuts influenciaram a lingua: security blanket, em referência à fralda de pano inseparável de Linus Van Pelt, uma das personagens, entrou no léxico comum americano, designando algo que confere conforto psicológico.

Estas pequenas pessoas

O destaque dado aos Peanuts no Amadora BD surge no contexto da celebração das seis décadas passadas sobre o seu nascimento, cumpridas em 2010. É essa a razão da estadia de Jean Schulz em Portugal. E é com ela que mergulhamos abaixo da superfície para descobrir Charles, o seu marido, o autor da "história mais longa jamais contada por um só ser humano", como se escreveu no New York Times no obituário a ele dedicado quando da sua morte, a 12 de Fevereiro de 2000.

Era de Charles, escrevemos acima, a expressão que Jean reconheceu em Lucy, rapariga capaz de todas as patifarias; capaz de, durante cinco décadas, afastar a bola de futebol americano do pé de um Charlie Brown correndo para a glória (a de, muito simplesmente, a chutar) que nunca chegaria. Lucy, a cruel, era Charles Schulz. Tal como Snoopy, tal como Charlie Brown, tal como Schroeder, sempre dobrado sobre o seu piano de brincar tocando as mais diversas obras-primas (como esquecê-lo e à sua devoção por Beethoven).

Jean, guardiã da memória artística de Schulz, gere o verdadeiro império que ainda são os Peanuts - as tiras, mas também o merchandising nos mais diversos formatos -, e mantém o museu Charles M. Schulz, em Santa Rosa, a pequena cidade onde o casal vivia, fiel ao seu legado. Talvez isso explique porque a ouvimos tantas vezes ao longo da entrevista falar pela voz do marido. Como quando nos explica isto de os Peanuts serem a personalidade dele dividida por todas as personagens. "Ele costumava dizer que "a Lucy sou eu quando sou chico esperto, Linus sou eu enquanto filósofo, Charlie Brown é o meu eu apagado e inseguro e o Snoppy é o que todos gostaríamos de ser."

Com ela, viajamos ao interior das tiras que o seu marido desenhou, infatigavelmente. Quando nos mostra Lucy a encolher os ombros como Charles, quando conta que a alcunha Sweet Baboo, aquela que Sally, a irmã mais nova de Charlie Brown, pusera a Linus, a sua paixão, lhe foi "usurpada" (era o que Jean chamava a Charles), torna-se claro o que nos dissera no início da entrevista. "[Os Peanuts] eram a sua vida. Pensava neles a toda a hora. A sua vida embrulhava-se na vida deles, porque ele observava tudo o que acontecia à sua volta com o sentido de o utilizar nas tiras."

Ainda assim, durante anos, Schulz acordava a meio da noite, questionando-se: "Minha nossa, quem são todas estas pequenas pessoas? Terei de viver com elas para o resto da minha vida?" A resposta, soube-o rapidamente, sabemo-lo nós agora, foi um claro sim.

Quem são estas pequenas pessoas? Todos as conhecem. Charlie Brown, Linus e Lucy Van Pelt, Peppermint Patty, Schroeder, Marcie, Snoopy ou Woodstock, o pequeno pássaro que apenas Snoopy, o cão, compreende. Durante cinquenta anos, um homem chamado Charles M. Schulz desenhou-os em tiras de BD que se espalharam por todo o mundo e que reflectiram esse mundo. Através das pequenas personagens daquele universo de que os adultos estavam ausentes - não passavam, no máximo, de vozes fora de cena -, Schulz não pretendia fazer comentário político (apesar de o ter feito: o segredo está nas entrelinhas), não pretendia "ensinar nada", não pretendia limitar-se ao gag que pede uma gargalhada. "Ele sempre estudou a dicotomia entre o que dizemos e o que fazemos, entre aquilo que pensamos que somos e o que somos realmente", aponta Jean. Charles Schulz, diz, pretendia apenas "mostrar as pessoas como elas são". Nem mais, nem menos.

Assim o fez até à sua morte, aos 77 anos, a meses de se cumprir o cinquentenário da publicação da primeira tira Peanuts, em Outubro de 1950. Assim: no primeiro quadradinho, um rapaz e uma rapariga, sentados em escadas, comentam um miúdo que se aproxima. "Ei! Aí vem o velho Charlie Brown". No segundo quadradinho: "O bom velho Charlie Brown, sim senhor!". No terceiro, quando o miúdo já desapareceu de cena: "O bom velho Charlie Brown...". No último, a expressão do rapaz muda. Está zangado e explode: "Como o detesto!"

Quando a publicou, amigos e colegas de Schulz, conta Jean, espantaram-se. "É chocante. Como é que o teu editor deixou passar isto? Não pensaste que isto pode afastar as pessoas?" Isto, entenda-se, aquele sentimento violento em corpos e mentes infantis. Isto, a forma como o humor emergia de uma dose certeira de inveja e ressentimento que todos, mesmo que as regras da boa convivência não permitissem verbalizá-lo, reconheceriam em si mesmos. Os colegas espantaram-se, Schulz encolheu os ombros e continuou. "Sparky [alcunha de Charles dada por um tio, retirada do cavalo Sparky das influentes tiras Barney Google] viveu uns 50 anos mágicos para os comics", analisa Jean.

Desenvolve: "Não sei se poderá acontecer novamente, porque há demasiada pressão para sermos politicamente correctos e não é permitida a violência ou temas anti-sociais, que é tudo o que a realidade, os comics e a televisão são. Vivemos uma contradição e Peanuts era, já então, essa contradição. A violência irrompia a toda a hora. Ele estava a testar os limites, para mostrar que as crianças não são coisinhas doces e adoráveis. Têm as suas emoções próprias e as suas lutas interiores". Isso fazia delas, "não doces", mas "apreciáveis" - gostávamos delas porque nos reconhecíamos nos seus defeitos e virtudes, nas suas fúrias e desesperos, nos seus egoísmos e altruísmos.

O pior nome de sempre

Dois dias depois da publicação da primeira tira dos Peanuts, surgiu Snoopy. Oito anos depois, estavam presentes em 355 jornais americanos e em oito no resto do mundo. Em 1965, eram capa da Time e chegavam à televisão, com a transmissão de primeiro dos muitos especiais que transportavam os comics para animação. Em 1969, chegavam à Lua - a Apolo 10 era composta pelo módulo lunar Snoopy e pelo módulo de comando Charlie Brown. Em 1975, as tiras tinham já 90 milhões de leitores, alcançados por 1480 jornais americanos e 175 outros espalhados pelo planeta - incluindo o português Diário Popular, que introduziu os Peanuts em Portugal em 1968. Em 1990, a França distingue Charles Schulz como comendador das Artes e das Letras. Em 1992 recebe a Ordem de Mérito do Ministério da Cultura italiano. Em 2000, um cancro no cólon obriga-o a despedir-se dos leitores. Quando morreu, era lido por 355 milhões de pessoas, em 2600 jornais e 21 línguas.

Os números impressionam, mas não tanto quanto a obra daquele homem que criou um universo centrado na infância para explicar aos adultos (e a si mesmo), com tanta ternura quanto sarcasmo, que o pessimismo (eis Charlie Brown) pode ser uma arma tão poderosa quanto a capacidade de sonhar (venha daí Snoopy, o cão de raça beagle que se ergueu em duas patas para desdenhar ordens, para se sentar no telhado da casota e tornar-se um escritor ou um aviador da I Guerra Mundial sonhando enfrentar o temível Barão Vermelho).

Charles Monroe Schulz nasceu a 26 de Novembro de 1922 em Minneapolis. Filho do alemão Carl Schulz, que se tornou barbeiro na Grande Depressão, e da norueguesa Dena Halverson, desde cedo demonstrou gosto pelo desenho. O cão de família, Spike, era um dos seus modelos preferidos - tornar-se-ia a inspiração para Snoopy e nome de baptismo da personagem do irmão do beagle. Rodeado de BD desde novo, dado o fascínio familiar pelo formato, gostava especialmente de Popeye ou do Príncipe Valente. Desde cedo sonhou tornar-se ele mesmo autor de cartoons. "É interessante pensar o que teria acontecido se, enquanto crescia, os pais os tivessem levado a galerias de arte", questiona Jean. "Teria ele", amante de Picasso, Andrew Wyeth ou Edward Hopper, "querido ser uma coisa diferente?". A suposição é abandonada rapidamente. "A verdade é que ele sempre quis fazer cartoons, e só cartoons. Foi aquilo que viu e que acompanhava, foram eles que lhe moldaram a imaginação."

O seu verdadeiro nascimento enquanto autor dá-se quando, em 1945, regressa de dois anos destacado na Europa, combatendo na II Guerra Mundial. À chegada, segundo um texto do jornalista e crítico de arte canadiano Jeet Heer, publicado no blogue Sans Everything, Charles Schulz deparou-se com um álbum de Krazy Kat (influente BD em circulação entre 1914 e 1944) que, pelos seus jogos de linguagem e pelas situações no limite do surreal, "alterou a sua ideia do que os comics deviam ser".

Em 1947, foi publicada a primeira tira do antecessor directo dos Peanuts, Lil" Folks. Em 1950, a United Feature Syndicate, a agência a que se juntara, obriga-o a alterar o nome, alegando a semelhança de Lil" Folks com outros dois comics em circulação. Surgiam os Peanuts, o nome que imortalizou Charles Schulz e que ele, curiosamente, sempre detestou. Citou-o Carlos Pessoa, no obituário que assinou no PÚBLICO: "É o pior título com que alguma vez foi enfeitada uma comic strip. É ridículo, não significa nada e não tem dignidade. Coisa que o meu humor tem". Mas Peanuts ficaram e Schulz caminhou com eles, lado a lado, até ao fim.

Um ringue de gelo para Snoopy

A futura senhora Schulz nasceu Jean Forsyth Clyde na Alemanha, em 1939, filha de pais ingleses. É uma mulher à imagem do universo feminino prezado por Sparky. Nos Peanuts, as raparigas são muitas vezes melhores que os rapazes no desporto e as suas fortes personalidades não raras vezes ofuscam os rapazes embasbacados. Na vida, Jean Schulz foi militante da League of Women Voters (uma organização não-partidária), foi aviadora de competição, é desportista com gosto pelo ténis e, aos 60 anos, decidiu que seria trapezista - e foi, e é.

Jean conheceu Charles Schulz no ringue de hóquei no gelo que ele e a sua primeira mulher, Joyce Halverson, construíram em Santa Rosa. Schulz, desportista fervoroso que se exercitou naquele mesmo ringue até aos 70 anos, disse tê-lo erigido por uma razão prática. Não havia um na cidade e, dado que Snoopy, entre os seus muitos talentos, é também um hoquista, Schulz precisava de um sítio onde pudesse recolher ideias.

Quando se tornou proprietário do ringue, em 1969, Charles Schulz era já multimilionário. A sua vida, porém, não mudara. Avesso ao fausto da celebridade, raramente tirava férias - ficava demasiado ansioso ao fim de dez dias longe de casa. Mantinha a rotina praticamente inalterável que Jean nos descreve: "Tomava o pequeno-almoço no [seu ringue] Ice Arena. Depois ia para o seu estúdio, a dois quarteirões de distância. Lia o correio, desenhava durante uma hora e meia. Por essa altura, seriam 11h30. Saía para almoçar e regressava para desenhar mais uma hora e meia."

Desenhar era para ele um prazer rápido: "Fazia uma tira diária numa hora". Imaginar as tiras, um processo contínuo: "Anotava ideias em pequenos pedaços de papel, e registava muitas situações para utilizar posteriormente. Algumas esperavam cinco anos para serem utilizadas".

Ano após ano, manteve-se a rotina. Excluindo as adaptações para televisão - que, de resto, considerava, pelo formato e pela autoria partilhada, de uma natureza e espírito diferente das tiras -, fez o seu trabalho sem qualquer ajuda exterior. "Ele dizia "as tiras são totalmente minhas, são totalmente eu. E por isso sou eu que faço tudo"". Excepção feita à coloração das tiras de domingo, que nos últimos anos de vida a saúde debilitada obrigava a entregar a outros: "Mas era ele que dizia exactamente quais as cores a utilizar", sorri Jean.

Aqui voltamos ao início, ao momento em que Jean nos confessava que Peanuts era a vida de Charles Schulz e das suas personagens embrulhadas numa só. Porque, como nos ilustra, ele sentia-se um emissário a um mundo secreto a que ninguém mais tinha acesso directo. E por isso, Marcie, a mais inteligente da série, chamava "sir" à sua melhor amiga Peppermint Patty, a maria-rapaz brilhante no desporto e péssima na escola, e Charles Schulz ria-se com a situação: "Não sei porque é que ela diz isto. Di-lo simplesmente". É o que acontece com um romancista, compara Jean. "Começa uma história, e depois a história toma o controlo."

Charles Schulz seguiu a história daquele universo que era também a sua vida até ao fim. Em Novembro de 1999 foi-lhe diagnosticado cancro. A 14 de Dezembro anunciou a reforma. Como trabalhava habitualmente com três semanas de adiantamento face à data de publicação, a tira final tinha edição marcada para o mês seguinte.

Na noite de 12 de Janeiro de 2000, Charles M. Schulz sofreu um ataque cardíaco fatal durante o sono. Na manhã de dia 13 saía o último Peanuts. Perdemos o emissário que nos revelara um mundo inacessível. Que éramos nós. Chamamo-nos Snoopy, Charlie Brown, Pepermint Patty, Lucy, Linus, Schroeder ou Woodstock. a

mario.lopes@publico.pt

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