Volkswagen aceita não enviar emails a funcionários fora do horário de trabalho

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O cansaço por excesso de trabalho resulta em mais de dez milhões de dias de baixa por ano na Alemanha Foto: Nacho Doce/Reuters

Mais de mil funcionários das fábricas da Volkswagen na Alemanha que têm telemóvel de serviço vão deixar de receber mensagens de correio electrónico da empresa fora das horas de trabalho. O gigante do sector automóvel aceitou desligar os seus servidores BlackBerry meia hora após o fim do dia de trabalho, voltando a ligá-los apenas 30 minutos depois do regresso à actividade, no dia seguinte.

O acordo, alcançado no início deste ano mas só agora reconhecido publicamente pelos responsáveis da empresa, surgiu depois de os funcionários se terem queixado de estarem 24 horas por dia disponíveis para trabalhar devido ao facto de terem um telemóvel entregue pela empresa, avança o diário alemão "Wolfsburger Allgemeine".

O acordo abrange apenas 1154 trabalhadores sindicalizados de seis empresas da Volkswagen na Alemanha e deixa de fora os funcionários com cargos de gestão. Todos os trabalhadores que têm telemóvel de serviço podem continuar a fazer e a receber chamadas 24 horas por dia.

Citado pelo site da revista "BusinessWeek", o porta-voz da Volkswagen na cidade de Wolfsburg, Markus Schlesag, admitiu a existência do acordo e explicou que a empresa avaliou o benefício de ter um funcionário disponível 24 horas por dia e a protecção da sua vida privada.

De acordo com a notícia do "Wolfsburger Allgemeine", o cansaço mental devido a excesso de trabalho na Alemanha resulta em mais de dez milhões de dias de baixa por ano.

Cada vez mais empresas na Alemanha têm mostrado a sua preocupação com este problema. No mês passado, o fabricante de detergente para máquinas de lavar roupa Persil anunciou que iria interromper o envio de mensagens de correio electrónico para os seus funcionários durante o Natal e a passagem de ano, admitindo apenas contactar os seus colaboradores em caso de emergência.

O presidente do Centro de Inovação da organização não-governamental britânica The Work Foundation, Will Hutton, disse à BBC online que "é mau para o desempenho profissional que uma pessoa esteja disponível 24 horas por dia. É preciso ter tempo para reflectir sobre uma determinada situação sem se estar obrigado a reagir instantaneamente".

"Em segundo lugar, tem um impacto negativo no bem-estar de uma pessoa. Penso que temos de gerir com muito cuidado a fronteira entre o trabalho e o tempo em que não se está a trabalhar", considera. O problema, segundo Will Hutton, é que "é impossível implementar uma solução universal", já que nem todas as empresas funcionam da mesma forma nem têm as mesmas necessidades.

Síndrome de exaustão começa a preocupar na Alemanha

Nos últimos meses têm sido publicadas várias notícias na Alemanha sobre casos de pessoas que se queixam de exaustão por excesso de trabalho, na sequência da demissão do treinador da equipa de futebol Shalke 04, do principal campeonato alemão. Aos 53 anos de idade, Ralf Rangnik pediu a demissão do cargo no dia 22 de Setembro, alegando cansaço mental ao fim de apenas seis meses no cargo.

São conhecidos vários casos na Alemanha de personalidades do mundo do desporto que têm desistido ou pedido um afastamento temporário das suas actividades devido à síndrome de exaustão (do inglês burnout), que se traduz num enfraquecimento das capacidades mentais, físicas e emocionais.

Em 2004, Sven Hannawald abandonou a sua carreira de saltador de esqui alegando cansaço mental e procurou voluntariamente ajuda psicológica, apenas um ano depois de se ter tornado no terceiro saltador da história da modalidade a receber pontuação máxima de todos os juízes, numa etapa do Mundial disputada em Willingen.

Já este ano, o guarda-redes do Hannover 96, Markus Millar, esteve três meses em tratamento depois de se ter afastado do futebol, também por síndrome de exaustão. Millar, de 29 anos de idade, regressou ao seu clube na semana passada, num jogo da Liga Europa frente à equipa ucraniana do Worskla Poltava.

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