Um pequeno robot para começar a explorar o oceano

O Ziphius, desenvolvido em Portugal, deverá ser posto à venda em Março do próximo ano, sobretudo com o mercado dos EUA como alvo. Por fora é um barco telecomandado, por dentro é um computador.

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Ziphius, o drone aquático Vitor Cid
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Edmundo Nobre, o responsável pelo projecto do drone aquático Vitor Cid

O Ziphius é um pequeno drone aquático. Ganhou um concurso do blogue americano Engadget, muito popular entre os adeptos da tecnologia. No mês passado, angariou 127 mil dólares no Kickstarter, o site de financiamento colectivo de projectos. É um brinquedo, uma espécie de barco, telecomandado com um tablet ou um smartphone, que é capaz de alguns movimentos autónimos. Está a ser desenvolvido por uma empresa portuguesa chamada Azorean, que nasceu dentro da tecnológica YDreams. Mas “a visão de longo prazo”, diz o responsável pelo projecto, Edmundo Nobre, é criar tecnologia que permita uma “exploração barata” dos oceanos.

A Azorean nasceu há cerca de dois anos, na altura sem uma ideia definida do que queria fazer. A YDreams estava a trabalhar em projectos nos Açores, um para a transportadora aérea SATA e outros na área do turismo (com a crise, estes acabaram por não ser boas apostas, recorda Edmundo Nobre, que é um dos fundadores da YDreams). A ideia foi então criar algo relacionado com o mar.

A exploração dos oceanos é uma tarefa tipicamente muito cara, argumenta Nobre, numa entrevista nas instalações da YDreams, um edifício próximo do pólo que a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa tem na Caparica, na margem sul do Tejo. O objectivo da Azorean passou a ser criar tecnologia para tentar tornar esta tarefa muito mais barata. Nobre fala numa “geração de pequenos robots especializados”, tão baratos que nem sequer é relevante se por alguma razão se perderem no mar. “Se se perdeu um robot, paciência, não vamos lá buscá-lo”.

O Ziphius está muito longe de permitir uma exploração do fundo dos oceanos. A equipa até tinha planos para começar por um pequeno submarino telecomandado, mas mudou de ideias. O Ziphius tem dois motores e só se move à superfície (seria preciso um terceiro motor para controlar movimentos em todas as direcções debaixo de água). Tem uma câmara na parte frontal, que pode transmitir imagens para o tablet ou telemóvel do utilizador, bem como captá-las em fotografia ou vídeo. No interior, está um Raspeberri Pi, um pequeno computador do tamanho de um cartão de crédito, que surgiu com fins educativos e custa 25 dólares.

O robot é controlado num tablet ou num smartphone equipados com uma aplicação própria, através de uma ligação wi-fi (em condições ideais, isto significa, de acordo com os testes da Azorean, um alcance máximo de 100 metros; frequentemente, a distância conseguida é menor). Pode ter alguns comportamentos autónomos. Por exemplo, pode-lhe ser “mostrado” um objecto e, uma vez na água, o Ziphius procura-o. Ou pode seguir sozinho um trajecto que o utilizador tenha traçado previamente no ecrã do telemóvel ou tablet.

A Azorean planeava que o Ziphius estivesse equipado com mais tecnologia – giroscópios e GPS, por exemplo –, mas preferiu um aparelho mais simples, para reduzir os custos.

A parte colorida da estrutura é feita de um material leve, que um leigo confundiria com esforovite, e pode ser adaptada pelos fabricantes a várias funções. Uma das ideias, explica Edmundo Nobre, é criar um modelo cuja estrutura permita acoplar facilmente uma câmara fotográfica. Outra é usar o Ziphius como uma plataforma para uma lata de bebida, que o utilizador pode usar numa piscina, essencialmente por diversão. Uma aplicação menos lúdica seria usá-lo para inspeccionar o casco de navios, em busca de danos.

A missão do Ziphius é permitir que a empresa ganhe conhecimento e “músculo financeiro” para continuar a desenvolver tecnologia de robots marinhos até, eventualmente, chegar a tecnologia que permita a exploração do fundo dos oceanos. O plano de negócios passa por vender 20 mil unidades do Ziphius por ano. O lançamento está agendado para Março de 2014, sobretudo com o mercado dos EUA em mente. Boa parte da montagem será feita em Portugal e o aparelho será vendido por um preço entre 250 e 275 dólares (algures entre os 188 e os 207 euros).

Este modelo “é um gadget lúdico”, resume Edmundo Nobre. Mas lembra que, por dentro, “é um computador". Ou seja, faz aquilo para que for programado.
 
 
 

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