The Times e The Sunday Times dizem adeus à notícia de última hora

Abrandar o ritmo noticioso e permitir que os leitores digiram a informação com mais tempo. É a nova fórmula que os jornais britânicos vão testar, num momento em que muitos dos concorrentes ainda não conseguiram tornar rentáveis as suas edições online.

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A imprensa britânica continua a ensaiar novas fórmulas. Este mês, o Independent abandonou a edição em papel Alessia Pierdomenico/Reuters

Os jornais britânicos The Times e The Sunday Times vão fundir as suas presenças online com um site comum, à semelhança do que já ocorria com a aplicação móvel partilhada pelas duas publicações, e adoptar um novo modelo editorial que passa pelo abandono da cobertura noticiosa ao minuto e pela aposta no tratamento aprofundado das histórias do dia. Os títulos da News Corp, empresa detida pelo multimilionário Rupert Murdoch, passam a actualizar a sua edição online em apenas três momentos diários: às 9h da manhã, ao meio-dia e às 17h.

A decisão surge em contraciclo face à tendência das edições online dos órgãos de comunicação mundiais de difundirem cada vez mais informação ao minuto, auxiliadas no esforço de distribuição pelas redes sociais e por ferramentas de notificações. Os dois jornais foram dos primeiros títulos britânicos a vedar, em 2010, os seus conteúdos online com uma paywall. Rivais como o Guardian ou o Independent, que também disponibilizam subscrições online, não fecharam a totalidade dos conteúdos a não-assinantes.

Desde a implementação da paywall, The Times e The Sunday Times têm apostado na conquista de assinantes e anunciantes com a publicação de conteúdos desenvolvidos e tirado o pé do acelerador na corrida pela notícia de última hora, habitual geradora de picos de tráfego na imprensa online. Agora, os dois jornais decidem abdicar por completo da cobertura ao minuto e actualizar o site comum apenas três vezes por dia. Os momentos de actualização foram definidos após uma análise dos volumes de tráfego e do comportamento dos leitores.

“Reconhecemos que as pessoas olham para os seus smartphones centenas de vezes por dia, mas que não estão a ver se há notícias centenas de vezes por dia”, justificou Alan Hunter, responsável dos dois títulos para a área digital, citado pelo blogue do Nieman Lab, um observatório da Fundação Nieman para o Jornalismo, da Universidade de Harvard.

Hunter explicou ainda a decisão com o modelo de negócio adoptado pelos dois títulos. “Apresentamos uma proposta paga num mercado onde praticamente tudo é gratuito. Pensamos que as notícias de última hora perderam o seu valor. É muito difícil fazermos as pessoas pagar por notícias de última hora, e cremos enfaticamente que o jornalismo de qualidade é algo que tem de ser pago", disse.

Outra das novidades reveladas na quarta-feira é o fim da tradicional divisão do site em secções temáticas. Os conteúdos da edição online passam a ser apresentados apenas na homepage (a página de entrada).

De acordo com o Financial Times, os dois jornais geram um lucro operacional de 21 milhões de libras (26,5 milhões de euros) em 2015. O número de assinantes da edição online do título diário caiu 6% para 147 mil no mesmo período, com a circulação em papel a subir 1% para 394.000.

No mesmo ano, o conjunto das edições em papel da imprensa britânica perdeu 112 milhões de libras (141 milhões de euros) em receitas publicitárias. Este mês, o Independent abandonou a edição impressa. No entanto, e no mercado britânico, a transição para o online ainda não veio solucionar o quebra-cabeças financeiro da imprensa. O MailOnline, título líder de audiências no digital, com 13,2 milhões de visitantes diários, é tido como uma operação deficitária, apesar de não quantificar as perdas. Em Janeiro, o Guardian, o segundo jornal online britânico mais lido e um dos mais influentes títulos do mundo, anunciou perdas de 50 milhões de libras (63,1 milhões de euros) e o despedimento de 20% dos seus trabalhadores.

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