Sinais de abrandamento lançam sombra sobre o negócio do Twitter

Rede social tem feito as receitas aumentarem, mas continua a dar prejuízo.

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O nível de envolvimento dos utilizadores desceu EMMANUEL DUNAND/AFP

Há sombras sobre o futuro do Twitter e sobre a sua capacidade para transformar quase 300 milhões de utilizadores num negócio viável. Ainda sem lucro e com algumas métricas a darem sinais negativos, a empresa tem-se esforçado por aplacar a ansiedade dos investidores. Recentemente, apresentou um plano de crescimento que conseguiu atenuar a queda em bolsa: entre o final de Outubro e o início de Novembro, a cotação do Twitter tinha caído cerca de 20%.

A empresa, que foi criada em 2007 e se estreou em bolsa há pouco mais de um ano, teve 175 milhões de dólares (140 milhões de euros) de prejuízo no trimestre passado. Os números mais recentes mostram crescimento, incluindo nas receitas (provenientes de várias formas de publicidade), no número de utilizadores e no acesso através de dispositivos móveis – um indicador importante dada a proliferação de tablets e smartphones nos últimos anos.

No último trimestre, o Twitter teve receitas de 361 milhões de dólares, mais do dobro do mesmo trimestre em 2013 e 40 milhões a mais do que no trimestre imediatamente anterior. Mas os custos também subiram significativamente.

Há ainda uma outra métrica importante que está em queda: o número de vezes que cada pessoa vai à sua cronologia, o nome que o Twitter dá ao fluxo de mensagens. Este valor é usado para medir o nível de envolvimento dos utilizadores e recuou 7%. 

Na semana passada, numa conferência para investidores, o presidente executivo, Dick Costolo, adiantou planos para várias novas funcionalidades: a possibilidade de gravar e editar vídeos a partir do próprio Twitter, um sistema para mostrar conteúdos relevantes que o utilizador possa ter perdido entre visitas, e um sistema melhorado para mensagens privadas. A apresentação deu resultados e a cotação em bolsa subiu 7,5% naquele dia.

Aquelas novidades juntam-se a outras apresentadas ao longo do ano, concebidas tanto para tentar aumentar o envolvimento dos utilizadores, como para dar aos anunciantes mais formas de divulgar conteúdo. O desafio do Twitter é conquistar pessoas que até aqui não se sentiram compelidas a usar a plataforma, mas sem a modificar a tal ponto que afugente quem já lá está.

Famosa pelas mensagens com limite de 140 caracteres, esta é uma rede social na qual é mais complicado entrar do que no Facebook, que tem cinco vezes mais utilizadores e que era lucrativo ainda antes de entrar em bolsa. No Twitter, a extensão máxima das mensagens obriga a uma grande concisão de linguagem e a uma profusão de siglas. Os utilizadores foram desenvolvendo uma gíria própria que pode ser opaca para quem chega. E o facto de ser possível (e habitual) seguir muitas contas leva a um fluxo de mensagens rápido e muitas vezes caótico, onde a partilha de links, fotografias e pensamentos é intercalada por diálogos públicos entre outros utilizadores.

Uma das novidades que o site pretende implementar, uma cronologia automática para quem não queira gastar tempo a seleccionar contas para seguir, pretende precisamente facilitar a vida a quem está a chegar à plataforma.

Dívida no lixo
Porém, poucos dias após a apresentação de Dick Costolo, surgiu um novo golpe para a empresa. Na sexta-feira, a agência de notação financeira Standard & Poor's (S&P) classificou a dívida do Twitter como lixo.

A empresa pedira em Setembro 1800 milhões de dólares (1400 milhões de euros) a investidores, metade dos quais deverão ser pagos – ou convertidos em acções – em 2019 e o restante em 2021. A S&P considera que a empresa tem de ultrapassar vários desafios para atingir a rentabilidade e deu à dívida da empresa uma nota de BB-, o que significa classificar o investimento como especulativo e fica três níveis abaixo do patamar que indica um investimento viável. 

O comentário da S&P ao negócio e à capacidade financeira do Twitter não é, contudo, inteiramente negativo. Por um lado, a agência de notação diz que “a empresa está a investir no crescimento de forma muito agressiva” e que “dependendo do nível de reinvestimento no negócio, poderá não gerar fluxo de caixa antes de 2016”. Por outro, refere que “o Twitter vai coninuar a ter um crescimento muito forte e não vai ter um aumento significativo de pressão da concorrência”.

A análise da agência, que coloca o Twitter numa perspectiva “estável”, diz que poderá subir a nota caso a empresa mantenha a posição de mercado e aumente as fontes de receitas, nomeadamente através de expansão internacional.

O Twitter já tem uma presença internacional significativa. Dos 284 milhões de utilizadores que recorrem ao serviço pelo menos mensalmente, 221 milhões estão fora dos EUA (não são divulgados dados específicos para outros países). Naquele país, porém, cada utilizador é muito mais rentável. Por cada mil visualizações nos EUA, a empresa factura 4,28 dólares em publicidade. No resto do mundo, fica-se pelos 84 cêntimos de dólar.

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