Sejam gato pardo à noite

Will Herring tem um gato que o acorda às 3h e os jogadores podem vestir-lhe a pele.

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“My Garbage Cat…” tenta emular os jogos publicados no GameBoy original DR

Os jogos não têm que ser complicados para suscitar curiosidade. E nem sempre a mensagem que os criadores querem passar tem que ser profunda. Alguns são apenas brincadeiras, pastilha elástica para ocupar alguns minutos ao fim do dia; descompressões que são jogadas uma, cinco, dez vezes e esquecidas porque apareceu outra. É claro que existem alguns fenómenos, jogos sem grande mérito que se tornam tema entre largos grupos de pessoas, watercooler talks que vivem da palavra em roda, jogos como Flappy Bird.

Will Herring tinha e ainda deve ter um problema: o seu gato acorda-o a meio da noite. Além de uma conta Instagram que dá grande destaque a Finn, o gato, resolveu criar um breve jogo que ilustra o seu problema e vale mais que mil palavras. My Garbage Cat Wakes Me Up at 3am Every Day é o nome da obra que pode ser jogada gratuitamente aqui.

Contudo, em vez de vestirmos a pele do humano de sono resgatado pelo barulho, somos convidados a jogar como o gato, fazendo o maior barulho que conseguirmos com quase tudo o que decora o quarto, assim como com o próprio corpo: existem duas teclas dedicadas a miar e a amassar com as patas, funcionalidade que pode ser usada na cara da pessoa deitada na cama.

Como provavelmente já devem ter adivinhado, o objectivo desta pequena tirada digital é acordar o humano, esgotando a barra que serve como medidor de sono. O quarto é um recreio, um parque encantando pejado de objectos que fazem barulho quando chegam ao chão: um relógio de parede, vaso com uma planta, quadros pendurados na parede; prateleiras e secretária com itens que devem uma ida ao chão, incluindo chávenas, um router e respectivo computador portátil, livros e um rádio.

No centro do ecrã, temos o gato de Herring que o acorda “literalmente às 3h todas as manhãs” a abanar o rabo, à espera de começar mais uma sessão de caos. A jogabilidade, apesar de já ter sido parcialmente descrita, recai sobre a tecla Z “para miar e chorar a toda a hora” e sobre a tecla X “para amassar com as tuas pequenas patas estúpidas”. A deslocação está entregue às quatro setas que têm no vosso teclado, incluindo a possibilidade de saltar.

No fim, quando a barra se esgotar e a paciência do dono se esgotar com o seu sono, a mensagem que qualquer gato devia ansiar ler caso o conseguisse fazer: “Ok, ganhaste. Estou acordado. Já estou acordado. Por que é que és assim? És mesmo um gato mau.”

Enquanto jogo, não é uma obra-prima, mas serve para que quem lhe dedica alguns minutos testar a sua habilidade, provando que é capaz de atirar todos os objectos ao chão, algo que em algumas sessões de jogo é mais difícil que noutras, especialmente devido às físicas dadas a cada item e aos movimentos algo rombos do gato.

Ainda assim, é uma experiência com algum charme visual, tentando emular os jogos publicados no GameBoy original, com aquele tom verde tão característico e despertador nostálgico de quem começou muitas tardes ao ritmo do Tetris, jogo que serviu como porta de entrada para tantos jogadores depois de atazanados os pais em vésperas de aniversário ou de Natal.

My Garbage Cat Wakes Me Up at 3am Every Day é uma breve dose de entretenimento, mas é também mais uma prova inocente e inofensiva de alguém que teve uma ideia. Quem cresce e vive com gatos tem uma sina de despertares contra a sua vontade, quase sempre para testemunhar um animal que não quer nada, ou que parece simplesmente querer arreliar o seu dono.

Basta uma breve visita à conta Instagram de quem criou o jogo para perceber que este jogo não é tanto um queixume mas mais uma homenagem ao seu amigo de quatro patas. É verdade que parecem ser alérgicos à noite, mais concretamente à noite dos seus donos, mas experimentar este jogo de título extenso é reviver esses momentos atrelados àqueles pelos quais cada um continua a adorar gatos ou, mais concretamente, o seu gato. E, com um sorriso, continuar a não compreendê-lo.

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