Plataforma quer leitores a financiarem trabalhos jornalísticos

I Fund News pretende dar um espaço a jornalistas independentes e sem emprego.

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As redacções têm vindo a encolher Eva Carasol/arquivo

Os jornalistas apresentam uma ideia para um artigo, os interessados contribuem com um mínimo de um euro e meio, o artigo é escrito e publicado online — é este o objectivo da plataforma I Fund News, que será lançada em Novembro por uma empresa portuguesa.

A ideia surgiu numa empresa de consultoria informática chamada Edge Innovation, com sede em Lisboa e, até aqui, sem ligações a projectos editoriais. Entre os serviços listados pela Edge Innovation no seu site estão “consultoria estratégica” e serviços de outsourcing na área das tecnologias de informação.

O objectivo, diz a empresa, é colmatar as falhas dos órgãos de comunicação existentes e dar um espaço de publicação a jornalistas independentes. O I Fund News (que se pode traduzir por "eu financio notícias") “surge porque se sente um bocadinho a perda do papel que os jornais sempre fizeram”, explica Sara Gomes, ex-editora de livros e que agora colabora no projecto. Além disso, pretende servir de espaço para “a quantidade de jornalistas que estão no desemprego” e “dar hipótese a quem não tem emprego”.

O valor do financiamento é definido pelo jornalista, mas uma pessoa ou entidade não poderá contribuir com mais do que 20% do valor pedido. O pagamento é feito através do sistema de pagamentos electrónicos PayPal e a Edge Innovation ficará com 15% do montante angariado.

Para se inscrever na plataforma, o jornalista terá de ter carteira profissional. Mas a verificação deste documento é o único ponto em que a empresa intervém — uma vez inscrito, o jornalista poderá propor e aceitar financiamento para qualquer tema.

O processo de publicação também é inteiramente controlado por quem escreve e não há ninguém para a edição e revisão dos textos, contrariamente ao que habitualmente acontece num órgão de comunicação. Uma vez publicados, os textos estarão “dois ou três meses” disponíveis apenas para quem os financiou, diz Sara Gomes. Depois disso, tornam-se de acesso livre.

“Se a informação não é veiculada de forma fluida, clara e transparente, a divulgação não acontece, a pluralidade de ideias e posições deixa de estar patente, o debate não é estimulado, o confronto de ideias desaparece. E a democracia perde a sua essência”, lê-se num “manifesto de intenções” do projecto, enviado ao PÚBLICO.

A ideia não é nova. Numa altura em que as redacções estão a encolher e os jornais estão à procura de novos modelos de negócio para a era digital, vários sites, criados noutros países, permitem já a jornalistas pedirem financiamento para os seus trabalhos ou, num modelo diferente, venderem-nos directamente ao público interessado. Quando questionada sobre a razão de um nome inglês para um projecto em Portugal, Sara Gomes adiantou que há a “perspectiva, numa fase posterior, de internacionalizar o negócio”.

Numa altura de crise — financeira e também do negócio do jornalismo —, Sara Gomes diz não haver uma “meta quantificada” para avaliar o sucesso do I Fund News. “Queremos ter o mecanismo bem oleado e a funcionar bem daqui a poucos meses”.

O lançamento está agendado para 12 de Novembro, na Torre do Tombo.

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