Os puzzles de Typoman são resolvidos manipulando palavras

O jogo da Wii U consegue destacar-se graças a puzzles alimentados pela manipulação de palavras, contudo falha consecutivamente nos trechos com plataformas.

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Resolver os puzzles de Typoman é como moldar barro, ajustando, ajustando, ajustando até exultarmos com as soluções, vitórias temporárias da inteligência de quem joga sobre o jogado. E o barro do jogo da Brainseed Factory são letras, a sua ordenação e reordenação para formar palavras que têm um impacto imediato no cenário da obra, desimpedindo-o à progressão.

São anagramas que servem de testemunho à criatividade da produtora e que são, indubitavelmente, a melhor forma de expressão de todo o jogo desde os minutos iniciais em que interagimos com esta mecânica: se à letra "O" juntarmos um "N" formamos a palavra "ON" e activamos uma plataforma. Contudo, é também possível chegarmos à mesma solução se invertermos a ordenação da palavra "NO".

O primeiro terço de Typoman é um tónico criativo que faz mover várias engrenagens desafiantes da psique. Compete-nos conduzir um protagonista, apropriadamente composto pelas letras "H-E-R-O", por um traçado que é uma mescla deste tipo de puzzles com secções que podem facilmente ser catalogadas como pertença ao género de plataformas.

Mesmo quando o desafio que temos pela frente é uma criatura que não se ensaia para nos devorar, é possível aniquilá-la usando o poder gramatical. No seu corpo podem ler a palavra "GORGE" e se a fizermos comer a letra "D" passa a estar "GORGED", ou seja, a sua fome é saciada e o caminho desimpedido. São pormenores que nos permitem, além de contemplar a criatividade dos produtores, alumiar a nossa.

Existem incontáveis exemplos como este: posteriormente, quando precisamos de arranjar uma distracção para outro impedimento podemos formar a palavra "TARGET"; e há palavras que assumem o seu significado quando interagem com a jogabilidade, como é exemplo a resistência da palavra "SOLID".

Apesar de não poder parecer, Typoman só se torna verdadeiramente complicado quando na parte final do jogo somos confrontados com máquinas que dispensam letras, ou seja, em vez de termos apenas que alterar a sua ordem para formar palavras, somos obrigados a criar palavras de raiz, o que inevitavelmente leva a um abrandar no ritmo da progressão e a alguns “será que é isto?”.

Felizmente, a produtora sabia que seria o caso, pelo que podemos usar o ecrã do GamePad da Nintendo Wii U para recorrer a várias funcionalidades que salvam qualquer jogador encalhado. A primeira dá pelo nome de “Scrambler” e permite ordenar as letras sem ser necessário que o nosso personagem agarre e atire cada uma no cenário.

Na prática, se activarmos esta funcionalidade, as letras que estão no cenário aparecem no ecrã do comando e podemos reordená-las deslizando o Stylus. Esta possibilidade tem uma utilidade proporcional ao tamanho da palavra que temos que formar. A outra mecânica foi pensada para usada em último recurso. Podemos pressionar um “?” proeminente no ecrã do comando para recebermos dicas sobre o puzzle que temos à nossa frente, sendo que se for requisitado o jogo indica a palavra que temos que formar. Não é batotice per se, porém passar os desafios todos recorrendo à revelação da solução acaba por retirar brilho à conquista de vermos os créditos finais graças ao nosso suor e lágrimas – o seu uso ficará sempre com a consciência de cada um.

Seria então de esperar que Typoman  fosse um dos títulos independentes do ano, capaz de usar estas mecânicas originais – ainda que relativamente pouco intuitivas na parte final da obra – para se pregar com uma compra recomendadíssima. Infelizmente, não é o caso. Tal como foi mencionado, além dos anagramas a obra mistura secções de plataformas para complementar a progressão pelos cenários, algo que não teve uma implementação à altura.

É um exercício díspar, então. Ainda a brilhar com a solução do último puzzle somos confrontados com a inequívoca frustração de tentar ultrapassar trechos com plataformas que simplesmente não têm argumentos para manter a dinâmica. A maior falência é o sistema de controlos não ser suficiente responsivo para atacar estas secções, que nem sequer são complicadíssimas.

Há alguns jogos de plataformas que são complicados por natureza, como Super Meat Boy, e não há nenhum problema, porque são também desafiantes, o que faz com que o jogador volte novamente as vezes necessárias para exercer a sua vontade de suplantar o jogo. Typoman é simplesmente frustrante, o que em último caso acaba por ser uma nódoa no progresso e por fazer sombra aos processos descritos nos parágrafos anteriores.

Foi uma decisão errónea da produtora que acaba por sabotar a sua própria criação. De notar também que em raras ocasiões temos que formar palavras enquanto estamos a ser pressionados por criaturas nefastas no ecrã, algo que não tem o desfecho idealizado pela casa alemã, sendo necessária uma cabeça fria para não sermos dominados pela atrapalhação.

No departamento técnico, Typoman[ volta à boa forma. O grafismo, ainda que seja impossível não tecer comparações com Limbo, é eficaz na atmosfera que cria. Sempre em tons escuros, é uma composição sombria e atemorizadora. Assente num 2D falso – ou seja, com várias camadas sobrepostas no fundo – a produtora consegue provocar alguns arrepios na espinha de quem joga, sendo que alguns efeitos, como o fogo numa secção em que somos perseguidos por ele, surtem o efeito de urgência.

Tudo isto é complementado por uma sonoplastia assinalável, que serve também para sublinhar os encontros com as criaturas pouco amistosas. Ainda assim, olhando para o cômputo geral do técnico, impera dois apontamentos: a framerate mostrou-se permeável a algumas quebras notórias, e alguns tempos de carregamento são mais longos que o desejável.

Typoman parecia destinado a ser um jogo melhor do que acaba por ser. Os puzzles permitem um diálogo estimulante com a obra – obviamente proibitivo a quem não tiver um conhecimento básico de inglês –, porém é na decisão de pincelar a sua criação com plataformas que a produtora inadvertidamente induz laivos de frustração que dominam porções significativas do título e que lavram a paciência de quem joga.

Produtora: Brainseed Factory
Plataformas: Nintendo Wii U

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