Na Internet há uma luta sem fim contra as sirenes do Estado Islâmico

Há um esforço para diminuir a margem de manobra online dos grupos jihadistas na recruta de novos membros. Especialistas dividem-se sobre a eficácia desse esforço.

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O Estado Islâmico tem usado a Internet para recrutar novos membros AFP PHOTO / HO / YOUTUBE

A administração norte-americana e os gigantes da Internet multiplicaram os esforços para contrariar a propaganda do Estado Islâmico (EI) online e nas redes sociais, mas é difícil medir os resultados.

O EI usa a Internet para recrutar combatentes para o seu “califado” no Iraque e na Síria, ou para pressionar indivíduos um pouco por todo o mundo a cometerem atentados. Para contrariar esta acção, a administração norte-americana obteve o apoio das grandes redes sociais como o Twitter e o Facebook, que se esforçaram para fechar as contas usadas pelos jihadistas.

“O Twitter disse publicamente ter fechado cerca de 200.000 contas. Mas eles fecharam muitas mais”, disse Richard Stengel, subsecretário de Estado encarregue das questões públicas, numa conferência de imprensa em Washington, nesta semana. “O YouTube apagou milhões de vídeos. O Facebook tem centenas de pessoas que trabalham sete dias por semana, 24 horas por dia, para retirar os conteúdos nocivos”, sublinhou.

“Mensagens e enganos”

O objectivo da administração norte-americana, e mais especificamente do centro de contra-propaganda do departamento do Estado, deixou de ser a produção de mensagens assinadas pelo Governo dos Estados Unidos. É antes a tentativa de “amplificar as vozes moderadas credíveis (…) através da sociedade civil”, segundo Lisa Monaco, uma representante da administração Obama.

O comando das forças americanas no Médio Oriente emprega, além de forças militares especializadas, outros profissionais para conduzir “um programa de acções sólido que esteja online”, segundo o Pentágono. “Ele é responsável por dar informações verdadeiras às audiências locais para combater as mensagens e os enganos do EI”, indicou à AFP o major Adrian Rankine-Galloway, porta-voz do Pentágono.

Para Richard Stenger, os esforços estão a dar resultados. “Há cinco vezes mais mensagens nas redes sociais que são contra o EI do que a favor do EI”, afirmou, assinalando ainda uma diminuição em “40%” da propaganda online do grupo.

Mas os especialistas estão divididos.

“Não há dúvidas, o suporte ao EI no Twitter e noutros sítios está a enfrentar uma pressão muito forte e estão com uma actividade notavelmente menor em comparação ao ano passado, ou mesmo ao início deste ano”, declarou JM Berger, co-autor em 2015 de um relatório sobre a presença do EI no Twitter. Os apoiantes do EI “têm menos seguidores e publicam menos” no Twitter.  

De facto, “eles continuam capazes de distribuir a sua propaganda a um núcleo, que é reduzido, mas têm mais dificuldade em disseminar para muitos e a veicular a sua mensagem a potenciais recrutas”, acrescentou.

Will McCants, um especialista em jihadismo do grupo de reflexão Brookings, nota igualmente que a pressão nas redes sociais deu resultado: “Os fãs do EI são obrigados a ir para plataformas mais pequenas, como o Telegram, para disseminar a sua propaganda”. Mas “eles tentam manter-se presentes nas grandes plataformas, porque é aí que os recrutas potenciais se passeiam”.   

“Tiro ao lado”

Outros estão bastante menos optimistas, como é o caso de Rita Katz, directora da empresa SITE, que é uma referência em seguir os jihadistas na Internet. A responsável é fortemente contra a ideia de que a actividade jihadista está a diminuir. “As publicações que estão em linha com o EI duplicaram pelo menos em relação ao ano passado”, diz, alarmada, lembrando-se do Constatinopla, em turco, A Fonte, em russo, e de um semanário de notícias al-Naba. “Nada é mais fácil do que encontrar estas publicações no Twitter, no Facebook, no Telegram, no Tumblr…”.

Saber se o recrutamento ou se as conversas “desviaram-se para o Telegram é atirar ao lado”, acrescentou. Para ela, os esforços de recrutamento e as conversas online “não diminuíram nada”. “Estes indivíduos e estes grupos estão diariamente online, e recrutam”.

O director do FBI James Comey mostra-se também prudente sobre a capacidade de recrutamento e de propaganda dos jihadistas nos Estados Unidos: “Há uma diminuição do número de pessoas que estão a partir [dos Estados Unidos]”, para se juntarem aos jihadistas no Médio Oriente, explica. Mas por outro lado, “a capacidade do EI em motivar e inspirar persiste dentro do país”.

“Temos mais de um milhar de casos em que estamos a avaliar” se a pessoa está a consumir conteúdo online ou está a “passar para os actos”, concluiu.

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