Na era das redes sociais, a guerra é transmitida em directo no Facebook

Reagir com gostos e emojis a uma guerra em directo é mais complexo do que parece e pode aumentar o perigo e facilidade em recrutar para o Estado Islâmico.

Foto
Vídeo foi visto por mais de 500 mil pessoas DR

Acompanhar relatos de conflitos de guerra não é uma novidade. A revista Time recorda o fotógrafo norte-americano Mathew Brady que documentou a Guerra Civil dos EUA. Durante o conflito, Mathew Brady organizou uma exposição em Nova Iorque onde foi além das tradicionais representações artísticas de guerra e colocou imagens explícitas da Batalha de Antietam, que vitimou cerca de 23 mil norte-americanos. Na altura, em 1962, o New York Times escrevia numa crítica à exposição: “se ele não trouxe corpos e os deixou à nossa porta, ao longo da rua, fez algo muito parecido com isso”.

Hoje, para além dos formatos mais tradicionais utilizados pelos media, recorre-se ao telemóvel para captar imagens em directo que, numa rede social, rapidamente chegam a milhares de utilizadores, a um play de distância. Foi isso que aconteceu, num vídeo transmitido em directo no Facebook.

A agência de notícias curda e iraquiana publicou um vídeo das forças militares enquanto as suas tropas avançavam sobre os arredores de Mossul na tentativa de expulsar o Estado Islâmico.

Em minutos, milhares de pessoas assistiram em directo aos movimentos, reagindo com emojis. Ora com um gosto, ora com uma cara zangada ou uma surpresa, milhares de pessoas reagiram em tempo real ao vídeo da agência Rudaw partilhado pela al-Jazeera e pelo canal Channel 4.

“Boa sorte a todos os que estão envolvidos nesta missão”, escreveu um dos utilizadores a acompanhar a cobertura através do Facebook do Channel 4, na quinta-feira. Nesta página, pelo menos 500 mil pessoas assistiram. Mas nem todos gostaram da ideia. Um outro comentário criticou a escolha de partilhar as imagens. “Isto não é entretenimento para conseguirem mais visualizações.”

Até agora, a actividade militar tem acontecido em zonas mais desertas, mas a ONU estima que quando chegar às zonas com população os conflitos podem deixar deslocadas, só nas primeiras semanas da ofensiva, entre 200 mil a um milhão de pessoas.

“Quem vê os vídeos streaming pode sentir a brutalidade e confusão da batalha, mas é altamente improvável que consiga compreender e captar a situação no campo de guerra”, analisa Barry McCaffrey, um general norte-americano de quatro estrelas, que liderou tropas norte-americanas no Iraque em 1991, em conversa com a revista Time. Já Daniel Bolger, um também general norte-americano, que coordenou militares no Afeganistão e Iraque avisa: “Às vezes, quanto mais alguém vê, menos entende”.

E colocam-se outros perigos, sublinha Steve Xenakis, que trabalhou durante 28 anos como militar psiquiátrico. Um dos riscos é o de aumentar a curiosidade e interesse de jovens para se juntarem ao Estado Islâmico. Com a facilidade de acompanhar a guerra "em directo" os jovens mais vulneráveis podem seguir estes vídeos e assim aumentarem o seu interesse pelo martírio. 

Sugerir correcção
Comentar