Megaupload, o site "ilegal" apoiado pelas maiores estrelas da música

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Homepage do Megaupload quando o vídeo foi difundido Imagem: DR

O que levou o FBI a pedir o encerramento e a querer levar a tribunal, sob a acusação de partilha ilegal de ficheiros, o site Megaupload, utilizado e promovido publicamente por grandes nomes da música pop mundial como Kanye West, Snoop Dogg, Alicia Keys ou Will.i.am?

Antes de mais, tiremos do caminho as ligações entre alguns dos envolvidos nesta questão, que podem causar estupefacção aos mais desatentos: Alicia Keys, a multipremiada estrela do R&B e confessa utilizadora do Megaupload, é casada com Kasseem Dean – nada mais nada menos do que o famoso produtor de hip-hop conhecido como Swizz Beatz, responsável por êxitos de Beyoncé e Busta Rhymes, entre outros. O mais interessante nesta história é que, segundo uma notícia de quarta-feira do jornal norte-americano “New York Post”, Swizz Beat é o presidente executivo do Megaupload.

A acusação oficial contra o site de partilha de ficheiros não faz referência a qualquer Swizz Beat ou Kasseem Dean, mas não se conhece, até ao momento, nenhum desmentido à notícia do “Post” – o site da cadeia de televisão de música MTV escrevia na quarta-feira que o nome de Swizz Beat surgia mesmo na página de informação do Megaupload.

Vídeo de apoio provoca ira da Universal

A ligação entre todas aquelas estrelas da música pop e o Megaupload atingiu o seu ponto mais alto com a produção e publicação de um vídeo, no final do ano passado, em que uma série de personalidades da música e de outras áreas do espectáculo e do desporto norte-americanas elogiavam o serviço de partilha, ao som de uma canção com o refrão “M-E-G-A, upload to me today/ Send me a file/Make a upload”.

Entre as personalidades que dão a cara estão Kanye West, Alicia Keys, P. Diddy, Will.i.am, Snoop Dogg, Chris Brown ou Mary J. Blige, o que enfureceu a Universal Music Group (UMG), patroa de muitos destes artistas.

A pressão da UMG foi tal que o YouTube retirou o vídeo do site, apesar de a Megaupload garantir que não usou nenhuma imagem ou música que não fosse sua. Apesar disso – e tal como é hábito neste tipo de situações –, é possível encontrar o vídeo no YouTube facilmente (basta pesquisar “Megaupload song”), porque os utilizadores costumam ser mais persistentes do que a monitorização feita pelo YouTube.

Para além das ligações contratuais com a Universal Music Group, alguns dos artistas que participaram no vídeo de promoção ao Megaupload têm trabalhado com outras empresas que já defenderam publicamente as propostas de lei Stop Online Piracy Act e Protect IP Act, que estão em discussão no Congresso dos Estados Unidos: por exemplo, Will.i.am, vocalista dos Black Eyed Peas, interpretou o papel do teletransportador "John Wraith" no filme “X-Men Origines: Wolverine”, produzido pela Marvel Entertainment, e já cantou em discos produzidos pela Warner Sunsent Records, uma subsidiária da Time Warner.

Megaupload: um império de sites de armazenamento e partilha

A empresa Megaupload foi fundada em 2005 e tem sede em Hong Kong. Ao longo destes sete anos de existência, tem expandido o serviço de armazenamento e partilha de ficheiros online com a criação de sites como o Megavideo, o Megalive, o Megapix, o Megabox e Cum.com, este último dedicado ao armazenamento de pornografia. Antes do encerramento do Megaupload, nas últimas horas, estavam também em desenvolvimento outros dois sites: o Megabackup e o Megamovie.

Através do principal site da empresa, o Megaupload.com, os utilizadores podiam enviar ficheiros de duas formas – até 200MB na versão gratuita para utilizadores registados e espaço ilimitado para os utilizadores que quisessem pagar.

Segundo a ferramenta de estatísticas DoubleClick Ad Planer, da Google, o Megaupload tinha 82 milhões de visitantes únicos e 440 milhões de visualizações em todo o mundo. Num relatório de Janeiro de 2011 da MarkMonitor – uma empresa a cujos serviços recorrem empresas como o Facebook, a Google e a Wikipedia –, o Megaupload surge como “um dos três maiores sites dedicados à pirataria digital”, juntamente com o Megavideo e o RapidShare.

Em resposta, a Megaupload afirmou que “qualquer actividade que viole os termos de serviço ou a política de armazenamento não é tolerada e vamos até às últimas consequências para cumprir os pedidos legítimos de retirada de ficheiros ao abrigo do Digital Millennium Copyright Act”.

Encerramento provoca maior retaliação de sempre na Internet

O FBI mandou fechar esta quinta-feira o popular site de partilha de ficheiros e deteve quatro suspeitos de infracções relacionadas com direitos de autor e lavagem de dinheiro, entre os quais o seu fundador, o alemão Kim Schmitz.

De acordo com uma nota emitida pelo Departamento de Justiça dos EUA, o Megaupload gerou de forma criminosa mais de 175 milhões de dólares (135 milhões de euros), “causando mais de 500 milhões em prejuízos para os detentores de direitos de autor”.

O encerramento do site desencadeou a maior retaliação online de sempre, de acordo com o grupo Anonymous: mais de 5600 pessoas estiveram na noite de quinta-feira para sexta-feira envolvidos num ataque concertado a sites de entidades governamentais norte-americanas e da indústria da música e do cinema. Um "bombardeamento" de pedidos de serviço que bloqueou sites como o do próprio FBI.

Notícia corrigida às 15h40:

Armazenamento alterado de 200GB para 200MB

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