John McAfee diz ter uma solução para a Apple e o FBI

Milionário americano oferece-se para desbloquear, em três semanas, o iPhone do terrorista de San Bernardino e preservar assim a segurança mundial.

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REUTERS/Jorge Dan Lopez

John McAfee, fundador da empresa que vende um dos mais usados programas antivírus para computadores em todo o mundo, ofereceu-se para ajudar a desbloquear o iPhone de um dos terroristas que mataram 14 pessoas em Dezembro nos Estados Unidos. A Apple recusou-se a fazê-lo, contrariando a ordem de um tribunal, e o FBI queria ajuda para aceder aos dados daquele equipamento. Numa carta divulgou online, McAfee propõe uma solução que preserva as garantias de cibersegurança da Apple, a privacidade dos utilizadores e poderia satisfazer a necessidade do FBI.

“E, finalmente, chegámos a isto”, alerta McAfee. “Após anos sucessivos de alertas, por parte de todos os especialistas desta indústria, de que criar uma porta das traseiras seria uma benesse para os terroristas, ainda maior do que dar os nossos códigos nucleares e as chaves das armas aos russos e chineses, apesar disso tudo, mais uma vez o nosso Governo decidiu ignorar aqueles que criaram a cola que mantém este mundo unido”, escreve, considerando “risível e bizarro” o argumento do FBI de que a ajuda da Apple neste caso seria usada uma única vez.

Em causa está o acesso a dados gravados no telemóvel de Syed Rizwan Farook, o norte-americano que levou a cabo o ataque com a sua mulher, Tashfeen Malik, uma paquistanesa que passou a maior parte da vida na Arábia Saudita. Os atacantes tinham jurado fidelidade ao Estado Islâmico (EI), mas não há indícios de que a operação tenha sido montada com ajuda externa – à semelhança de outros ataques, principalmente na Europa, terá sido planeado e organizado pelos próprios executantes, sob a influência da ideologia extremista do EI.

Recurso do Departamento de Justiça

O Departamento de Justiça apresentou um recurso na sexta-feira à noite para obrigar a Apple a cumprir a ordem da juíza Sheri Pym, do Tribunal Distrital para o Distrito Central da Califórnia, e criar um programa para que o FBI possa desbloquear o iPhone usado por Syed Rizwan Farook. Com isto, o FBI queria fazer três coisas: desactivar a função que permite apagar todo o conteúdo após dez tentativas de introduzir o código (errado); ligar esse telemóvel a um computador rápido que envie milhares e milhares de combinações possíveis até acertar; e que essas combinações possam ser enviadas sem qualquer intervalo de tempo entre elas, como acontece na versão normal do sistema operativo – entre a 1.ª e a 2.ª tentativa há um segundo de intervalo, mas essa espera vai aumentando até que da 9.ª para a 10.ª já é preciso esperar uma hora.

No recurso, o Departamento de Justiça diz que a recusa da Apple “parece ser baseada na preocupação de defender o seu modelo de negócio e na estratégia de marketing da sua marca”, apesar de Tim Cook, o patrão da Apple, ter colocado a questão de uma maneira bastante diferente. 

"O Governo dos EUA pediu-nos uma coisa que não temos, e cuja criação consideramos demasiado perigosa. Pediram-nos para construir uma porta das traseiras para o iPhone. Mais precisamente, o FBI quer que façamos uma nova versão do sistema operativo do iPhone, contornando várias características de segurança, e que a instalemos num telemóvel encontrado durante a investigação. Nas mãos erradas, este programa – que não existe hoje em dia – teria o potencial para desbloquear qualquer iPhone que esteja nas mãos de qualquer pessoa", escreveu o patrão da Apple.

"O Governo sugere que esta ferramenta só poderia ser usada uma vez, num único telemóvel. Mas isso não é verdade. Uma vez criada, a técnica poderia ser usada uma e outra vez, em qualquer telemóvel. No mundo físico, seria o equivalente a fazer uma chave mestra, capaz de abrir centenas de milhões de fechaduras – de restaurantes a bancos, de lojas a casas. Nenhuma pessoa de bom senso acharia isso aceitável", argumentou Tim Cook

Assim que foi conhecida a ordem do tribunal, houve muita discussão sobre se a Apple pode, tecnicamente, fazer o que lhe é ordenado. Mas essa não é a questão, como se depreende da resposta assinada pelo patrão da empresa, Tim Cook – como está em causa um modelo mais antigo, isso até seria possível, mas a empresa considera que iria abrir um precedente perigoso.

"Desta vez, oGgoverno dos EUA pediu-nos uma coisa que não temos, e cuja criação consideramos ser demasiadamente perigosa. Pediram-nos para construir uma porta das traseiras para o iPhone. Mais precisamente, o FBI quer que façamos uma nova versão do sistema operativo do iPhone, contornando várias características de segurança, e que a instalemos num telemóvel encontrado durante a investigação. Nas mãos erradas, este programa – que não existe hoje em dia – teria o potencial para desbloquear qualquer iPhone que esteja nas mãos de qualquer pessoa", escreveu o patrão da Apple.

"Seja como for, se o Governo tiver sucesso nesta tentativa de usar uma porta das traseiras, acabarão por conseguir ter acesso a toda a encriptação e o nosso mundo, tal como o conhecemos, chegaria ao fim”, concorda McAfee.

Este milionário, que já não tem nada a ver com a McAfee, empresa que foi vendida à Intel em 2010, que se assumiu candidato à Presidência dos EUA pelo Partido Libertário, alerta que “a questão fundamental é outra”, nesta carta aberta publicada no site Business Insider: “Por que é que o FBI não consegue deslindar por si a encriptação [do telemóvel do terrorista]? Eles têm os melhores e maiores recursos que o Governo norte-americano consegue disponibilizar.”

Aparentemente, tentaram fazer isso e falharam, diz a Reuters. Dois executivos da Apple, não identificados, criticaram tentativas do FBI de tentar alterar a password na conta de iCloud associada ao iPhone em causa. O Governo reconheceu que o tinha feito numa nota de rodapé do recurso apresentado na sexta-feira.

Antes de anunciar a sua proposta de solução, McAfee sublinha que trabalha “com os melhores hackers do planeta. (…) Cerca de 75% deles são engenheiros sociais. Os restantes são programadores hardcore”. E atira: “Comerei os meus sapatos no show do Neil Cavuto [apresentador da Fox News] se nós não conseguirmos entrar no telemóvel [do terrorista] de San Bernardino.”

E depois de responder à sua própria pergunta sobre a incapacidade do FBI, alegando que esta agência federal não tem os melhores hackers do mundo porque se recusa “a contratar alguém que tenha uma crista roxa no cabelo, use piercings, tatuagens na cara, fume erva e não trabalha por menos de 500 mil euros por ano (…), gente que russos e chineses estão a contratar, aposto”, McAfee enuncia a sua “oferta”: “Farei, gratuitamente, a desencriptação da informação deste telemóvel com a minha equipa. Usaremos primeiro engenharia social, e isto demorará três semanas. Se aceitarem a minha proposta, não precisarão de pedir à Apple que coloque uma porta das traseiras no iPhone, o que seria o início do fim da América”.

 

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