Irá o fiasco do Note 7 deixar uma mancha na reputação da Samsung?

A recolher milhões de Galaxy Note 7 na sequência do problema com as baterias, o fabricante sul-coreano está a tentar recuperar a confianças dos seus clientes

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Custos com recolha de milhões de aparelhos são "penosos", diz a Samsung Kim Hong-Ji/Reuters

Nem tudo está a correr bem para o maior fabricante de smartphones do mundo. A Samsung continua a ser alvo de críticas e a proceder à recolha de milhões de unidades da sua última estrela, o smartphone Galaxy Note 7, após relatos de baterias a pegarem fogo e a explodirem.

O Note 7 deveria constituir um triunfo para a Samsung. Desencadeou uma onda de críticas que pareciam particularmente favoráveis, ao mesmo tempo que analistas e especialistas advertiam que os iPhones, da Apple, iriam ser um pouco menos espectaculares este ano.

Neste momento, o nome do telefone tornou-se sinónimo de perigo, levando a Samsung a trabalhar em conjunto com a autoridade americana de supervisão de segurança dos produtos de consumo, a Consumer Product Safety Commission. Esta agência aconselhou os consumidores a deixarem de usar os telefones. Além disso, houve também a recomendação da Federal Aviation Administration para que os aparelhos não fossem usados - ou sequer ligados - durante os voos, o que significa que, diariamente nas ligações aéreas efectuadas nos EUA, pelo menos um milhão de pessoas ouvem um aviso de segurança relativo ao Galaxy Note 7.

Com uma substituição sem precedentes de smartphones potencialmente defeituosos, surge a pergunta: até que ponto a recolha do Note 7 resultará numa mancha para a reputação da empresa?

Apesar do timing inconveniente e da má imprensa, não deverá resultar em grande dano para a empresa, desde que a Samsung continue a ser sensível aos problemas dos consumidores, defende Robert Cuthbertson, vice-presidente na consultora Boston Retail Partners. Segundo conta, as empresas já ultrapassaram este tipo de problemas antes, chamando a atenção para o facto de a Tylenol – que teve de recolher todas as suas pilhas em 1982 – e outras organizações terem recuperado desses contratempos agindo com rapidez e fazendo tudo para demonstrar que os clientes estão em primeiro lugar.

Na segunda-feira, por exemplo, a Samsung disse à comunicação social sul-coreana que passará a comprar as suas baterias à empresa chinesa ATL, o principal fornecedor de baterias para o iPhone.

"A Samsung está a tentar corrigir a situação e a envidar todos os esforços no sentido de controlar os danos e garantir que tal não volte a acontecer", disse Cuthbertson. “Desde que não haja mais problemas com os novos telefones, a Samsung conseguirá seguramente recuperar”, acrescentou.

A Samsung, que é o maior fabricante mundial de smartphones, luta há anos com a Apple pelo domínio do mercado destes telemóveis. Há cerca de cinco anos, tentou posicionar-se como a melhor fabricante de smartphones, com equipamentos capazes de competir com o iPhone.

Na verdade, num inquérito sobre telecomunicações (o Índice de Satisfação dos Consumidores Americanos), o Galaxy Note 5 ficou à frente do iPhone 6s Plus na categoria de melhor telefone, mostrando que a Samsung tinha conseguido atingir, pelo menos, alguns dos seus objectivos. E embora um abrandamento no mercado global de smartphones tenha prejudicado as vendas, a Samsung anunciou no último trimestre que estava muito bem posicionada para 2016, uma vez que as vendas dos Galaxy S7 e S7 Edge deram à empresa os lucros mais elevados dos últimos dois anos.

Cuthbertson duvida que a Samsung perca demasiados clientes para outros fabricantes rivais de smartphones com Android, pois os seus produtos continuam a ter características únicas, como os ecrãs e o software que os fizeram vender. Cuthbertson disse também não acreditar que a Apple venha a beneficiar muito desta controvérsia, porque muita gente escolhe a Samsung, principalmente, como alternativa à Apple. "A Samsung posicionou-se como anti-iPhone e tem defensores fiéis da plataforma Android. E, definitivamente, também há os fiéis ao Galaxy em particular”, disse Cuthbertson.

Sondagens online mostraram que, entre os fãs da plataforma Android, a lealdade à marca não sofreu grande golpe. O Android Police, um site noticioso dedicado ao sistema operativo, fez um inquérito aos seus leitores e concluiu que a maior parte dos inquiridos, 39%, disse que a sua percepção da Samsung não se alterara minimamente por causa desta substituição de telemóveis.

Por seu lado, o analista Peter Yu comentou, que, até ao momento, os sinais apontavam no sentido de a empresa ficar bem apesar dos custos da recolha, que a Samsung reconhece que são "penosos". “Pelo menos a Telcos comprou mais Galaxy S7 e S7 Edge para substituir a procura do Note 7 em vez de optar por outros vendedores de smartphones. Consequentemente, a Samsung manteve a sua previsão de encomendas para o terceiro trimestre de 2016 apesar do impacto esperado nas vendas", escreveu Peter Yu numa nota a que a CNBC teve acesso.

As ações da empresa estão já a recuperar, aliviando parte do prejuízo de 22 mil milhões de dólares que a empresa sofreu imediatamente após os relatos de explosões terem sido notícia. As acções da Samsung negociadas na Bolsa de Seul fecharam a subir 4,23% na terça-feira, [14 de Setembro]; na quarta-feira, foi feriado na actividade bolsista da Coreia do Sul.

The Washington Post /PÚBLICO Traduzido por Ana Isabel Palma da Silva

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