Inovação com norte

A inovação pode, ou deve, ser considerada como um fator de produção, como defendia Schumpeter (1883 – 1950), correspondendo, ou a uma melhoria significativa (melhoria incremental) ou a novas propostas de valor (inovação radical), para produtos ou serviços, para processos de produção, para o marketing e para a organização.

A incremental é associada a um menor impacto e a radical a um maior impacto na atividade económica (é esta a perspetiva mais consolidada, conforme Manual de Oslo de 2015, publicado pela OCDE/Eurostat).
No valor acrescentado da inovação entra certamente a intensidade de conhecimento associada ou incorporada. E esse é um desafio coletivo do presente. Como conseguir que o conhecimento produzido no sistema de investigação nacional contribua mais para a inovação na atividade económica?

Respostas a este desafio permitirão viabilizar estruturas de investigação, percursos profissionais de maior valor, conseguir um maior impacto na atividade económica e, no final, maior capacidade competitiva das empresas e dos territórios. É pois necessário que a investigação classificada como aplicada seja efetivamente aplicável.

A tipologia apresentada para inovações: de produto, processo, marketing e organização, parece ser abrangente. No entanto, outras terminologias se têm generalizado e que, no essencial, ajudam a valorizar uma determinada perspetiva: inovação nos serviços (estes podem ser incluídos nos produtos); eco-inovação (quando também há melhor desempenho em termos ambientais), inovação social (soluções sustentadas para questões sociais relevantes: alimentar, saúde, mobilidade, envelhecimento,…), inovação aberta (quando uma organização incorpora conhecimento de outras entidades nos seus processos de inovação), inovação no modelo de negócio, entre outras atribuições.

Creio que, em qualquer dos casos, será útil considerar que é possível estimular e melhorar as fases iniciais dos processos de inovação (front end innovation): serem “geridas”, incentivadas, alimentadas com informação, suportadas em metodologias e ferramentas, desenvolvidas, avaliadas, validadas…Vejam-se propostas metodológicas que se têm articulado nos últimos anos. A geração de modelos de negócio de Osterwalder e Pigneur (2010) que nos oferecem um referencial para pensarmos antes de agirmos (começar pois por gastar recursos intelectuais), quando procuramos passar das “ideias” aos negócios: melhorando negócios existentes ou criando novos negócios (strategyzer.com/canvas). Neste referencial diferentes tipo de inovação podem ser considerados na contingência contextual que as pode valorizar de forma mais relevante.Várias ferramentas podem ser utilizadas para aprofundar o pensamento sobre esses modelos de negócio. Mas é a validação por clientes, como o proposto pelo desenvolvimento de clientes de Blank e Dorf (2012), que desafia e enforma, de modo qualitativo, a evolução do desenho do modelo de negócio, da proposta de valor e, em última análise, da inovação que esteja a ser incorporada: produto, processo, marketing e organização.

Quando o desenvolvimento do produto (ou serviço) está em causa, é particularmente pertinente, neste quadro metodológico, a chamada às propostas para um desenvolvimento ágil, de Eric Ries (2011) que preconiza um desenvolvimento iterativo, com sucessivos protótipos avaliáveis de forma interativa, podendo acomodar a colaboração de diferentes stakeholders. Colaboração que pode envolver competidores que se associam no investimento e redução de risco, em determinadas fases do processo (coopetição: www.tedxucpporto.com).

Este é um bom conjunto de referências, metodologias e ferramentas, articuladas para o melhor pensamento sobre inovação em contexto e com valor.

Docente da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, no Porto. O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários