Impacto da Web Summit tem de ser avaliado em “cinco a dez anos”

Paddy Cosgrave diz que só a prazo se perceberão os efeitos na “percepção que as pessoas têm de Portugal”. Evento planeia expandir-se em 2017 para mais espaços no Parque das Nações.

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Cosgrave antecipa um evento maior no próximo ano Enric Vives-Rubio

Já próximo do final da primeira Web Summit em Lisboa, o co-fundador Paddy Cosgrave revelou alguns dos números do evento: dos cerca de 53 mil participantes, 42% são mulheres; a rede de Internet registou 67 mil aparelhos diferentes; foram trocados 1,8 milhões de mensagens na aplicação que o evento disponibiliza e que pretende facilitar o contacto entre startups, grandes empresas, clientes e investidores. De acordo com dados já revelados antes, cerca de 45 mil pessoas vieram de fora de Portugal. 

Apesar dos números, o impacto do evento em Portugal e em Lisboa não será fácil de medir para lá do pico de ocupação dos hotéis e do negócio imediato dos restaurantes, táxis e transportes públicos. Muitas das startups que vieram à Web Summit procurar investimento só daqui a vários meses poderão estar a colher frutos das conversas. E, numa altura em que se avoluma o número de novas startups portuguesas, também é cedo para perceber qual a capacidade do país para criar casos de grande sucesso, muito embora já tenham emergido nomes reconhecidos internacionalmente como o da Farfetch, Feedzai, Talkedsk, Uniplaces, entre outros. 

“Há de certeza um impacto muito directo de estímulo económico na cidade. Mas isso é só uma semana no ano. O impacto deve ser avaliado no período de cinco a dez anos”, observou Paddy Cosgrave, nesta quinta-feira, durante uma conferência de imprensa. O irlandês acrescentou que será preciso perceber então se mudou “a percepção que as pessoas têm de Portugal e de Lisboa”.

Cosgrave também disse estar satisfeito com a primeira de três edições da Web Summit em Lisboa (e também a estreia fora de Dublin), mas esquivou-se a uma questão sobre a hipótese de alargar a permanência do evento em Portugal por mais dois anos, algo de que de que o Governo tem vindo a falar recorrentemente nas últimas semanas. 

O executivo de António Costa, que herdou a Web Summit da anterior legislatura, foi o grande promotor da Web Summit e tem feito grandes esforços para tentar passar a imagem de que Portugal é um país aberto ao empreendedorismo e de que Lisboa pode ser um centro de startups, pelo menos à escala europeia. Uma campanha recente de cartazes e imagens online tinha frases como “Isto não é a nova Berlim. Isto é Portugal”. Uma variante afirmava “Isto não é o novo Silicon Valley”. 

Já nesta quinta-feira, na sequência dos resultados da eleição presidencial americana, novos cartazes, desta feita assinados pela autarquia lisboeta, afirmavam, em inglês, que “no mundo livre ainda é possível encontrar uma cidade para viver, investir e construir o seu futuro. Erguendo pontes. Não muros.” – uma referência às ideias de Donald Trump durante a campanha.

O que parece certo, no entanto, é que a próxima edição deverá ocupar um espaço maior. Ao longo dos quatro pavilhões da Feira Internacional de Lisboa, e no adjacente Meo Arena, o espaço para os participantes foi frequentemente apertado, especialmente em algumas das zonas onde as startups se acotovelavam para atrair a atenção de quem passava. Para as startups mais pequenas, o stand resumia-se a um pequeno espaço numa bancada partilhada com outras empresas, onde cabia pouco mais do que um ou dois computadores e uma descrição da empresa.

A MagniFinance, uma das muitas startups que passaram por aqueles pequenos espaços durante apenas um dia, diz que o formato funciona. "As pessoas lêem o que fazemos e se tiverem interesse, param. Era exactamente aquilo que eu queria, mas fui até um pouco surpreendido", descreve o fundador da empresa Jorge Santos, que desenvolve software para a gestão financeira de empresas.

Na Web Summit, diz Jorge Santos, as conversas acontecem "com mais foco" do que noutras conferências. E o volume de pessoas interessadas em conversar foi muito elevado: "Chegámos às 9h30 e até às 18h30 não parei de falar. Às vezes havia fila."

Na conferência de imprensa, o PÚBLICO questionou Paddy Cosgrave sobre a capacidade do evento para continuar a crescer. No ano passado, o número de participantes em Dublin tinha rondado os 42 mil, quase o dobro do registado no ano anterior. “Achamos que há limites máximos. [Mas] há espaço para crescer neste local”, respondeu Cosgrave, acrescentando que em 2017 o evento será alargado, passando a aproveitar mais das infra-estruturas do Parque das Nações que foram construídas para a Expo 98.

O evento terminou poucas horas depois, com muito menos pompa do que arrancou. No palco do Meo Arena, Paddy Cosgrave lembrou rapidamente que foi em 2014, quando a portuguesa Codacy ganhou o concurso de startups, que começou a olhar para Portugal. "Foi o primeiro momento em que Portugal entrou no mapa para mim. Estou muito, muito contente que Lisboa seja agora a nossa casa." O robô educativo Kubo, criado por uma startup dinamarquesa, foi o projecto vencedor deste ano.

A organização já aproveitou este último dia de Web Summit para pôr à venda os primeiros bilhetes para o próximo ano.

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