Google pede confiança aos utilizadores apesar dos casos da NSA

Presidente-executivo do Google questiona viabilidade da democracia quando as pessoas têm que ser protegidas do próprio governo.

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Page diz que não é possível ter uma democracia se os utilizadores da Internet têm que ser protegidos do governo Reuters/arquivo

O presidente-executivo do Google, Larry Page, quer que os utilizadores confiem dos serviços do motor de busca, apesar dos casos que envolvem a Agência Nacional de Segurança norte-americana (NSA, na sigla em inglês), acusada de espionagem a empresas tecnológicas como o Google e o Facebook.

A NSA tem sido salvo de polémica após a divulgação de documentos secretos à comunicação social pelo ex-analista informático Edward Snowden. Segundo esses documentos, a agência espiou cidadãos, acedeu aos servidores de grandes empresas como a Microsoft, Yahoo ou YouTube e a centenas de milhões de SMS.

Na TED Conference, conferência sobre tecnologia, entretenimento e design, que este ano decorre em Vancouver, Canadá, Larry Page defendeu que é importante saber os “parâmetros do que o governo está a fazer e porquê”. “Não é possível ter uma democracia se temos que proteger os nossos utilizadores do governo. O governo fez um tremendo desserviço e precisamos de debater isso”, continuou numa entrevista conduzida pelo apresentador de televisão norte-americano Charlie Rose.

O presidente-executivo do Google considera “extremamente decepcionante que o governo tenha feito tudo mais ou menos secretamente e não o tenha dito”. Apesar de compreender que elementos ligados a ameaças terroristas sejam mantidos secretos, Page não segue o mesmo raciocínio quando se fala da NSA. Para o norte-americano, o que os agentes dos serviços secretos fazem, como e porquê deve ser tornado público.

Page receia que se deixe de poder usar dados privados para fins benéficos. “O que me preocupa é que deitemos fora o bebé com a água do banho”, elaborou, exemplificando como seria produtivo se as pessoas disponibilizassem os seus dados clínicos aos cientistas para investigação, mantendo, no entanto, anónima a sua identidade. Segundo o norte-americano, isso poderia "salvar até 100 mil vidas por ano".

O responsável considera que partilhar informação com as pessoas e as empresas “certas” seria enriquecedor para a tecnologia, garantido que o Google é uma dessas empresas. “Benefícios tremendos podem vir da partilha da informação certa com as pessoas certas, na forma certa”.

Page deu o exemplo da sua doença. O norte-americano ficou rouco permanentemente depois de ter sofrido uma constipação há 15 anos. Os seus dados clínicos acabaram por ser tornados públicos e conseguiu mais informação sobre a sua doença. “Tinha medo de partilhar [a informação] mas o Sergey [Brin, co-fundador do Google] encorajou-me e obtive informações de milhares de pessoas nas mesmas condições”, contou Page.

Tal como o presidente-executivo do Google, também o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, condenou as “ameaças” dos serviços de vigilância norte-americanos à segurança e futuro da Internet. Num telefone feito directamente para o Presidente dos Estados Unidos, Zuckerberg expressou a sua “frustração pelas notícias repetidas sobre o comportamento do Governo norte-americano”.

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