Facebook sob crítica por ter negligenciado post a anunciar plano para matar soldado

Em causa mensagens trocadas numa das contas de um dos dois condenados pela morte de Lee Rigby, em 2013.

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O jovem soldado foi morto à luz do dia pelos dois homens Toby Melville/Reuters

Em Maio do ano passado, os britânicos ficaram chocados com as imagens captadas por telemóvel do homicídio em plena luz do dia do soldado britânico Lee Rigby, de 25 anos. Os dois autores do crime estão actualmente a cumprir penas de prisão pelo crime mas um relatório indica agora que um dos condenados admitiu, num post publicado no Facebook, cinco meses antes do ataque, que estava a planear matar um militar. A rede social é acusada de não ter feito o suficiente para evitar o homicídio.

Em Fevereiro deste ano, Michael Adebolajo, 29 anos, e Michael Adebowale, 22, foram condenados a prisão perpétua e a 45 anos de cadeia, respectivamente, pela morte de Rigby. Em tribunal, os dois jovens britânicos afirmaram-se inocentes e apresentaram-se como “soldados de Alá”. Justificaram o crime como vingança pelos muçulmanos mortos por militares britânicos.

Um relatório tornado público nos últimos dias revela que, cinco meses antes do homicídio - Rigby foi esfaqueado e quase decapitado -, Michael Adebowale escreveu no Facebook que queria matar um soldado e descreveu a forma como o pretendia fazer, de uma forma “muito gráfica e emotiva”, segundo o comité de segurança e serviços secretos do Reino Unido, citado pela BBC.

Durante Dezembro de 2012, Adebowale terá mantido conversas online com um extremista localizado no estrangeiro, identificado como Foxtrot, que, segundo os serviços de segurança britânicos, tinha ligações com um grupo terrorista no Iémen, que a polícia britânica desconhecia na altura. Foxtrot terá trocado ideias com o jovem sobre a melhor forma de matar o soldado.

O Facebook acabou por desactivar sete contas associadas ao nome de Adebowale antes do ataque, cinco das quais tinham conteúdo com ligações ao terrorismo, revela ainda a BBC. Activas continuaram outras contas atribuídas ao condenado, entre estas uma em que estava escrita a frase “vamos matar um soldado”.

Segundo o comité, que numa versão do documento entregue ao primeiro-ministro britânico identifica o Facebook como tendo alojado a mensagem sensível, a rede social parece não ter certezas sobre se teria a obrigação de identificar este tipo de conversações e reportá-las às autoridades.

Uma porta-voz do Facebook, citada pela BBC, admitiu que o post em causa pode ser considerado “extremista”. “Como todos, ficámos horrorizados com o terrível homicídio do soldado Lee Rigby”, afirmou, sublinhando que a rede social “não permite conteúdos terroristas no site e tem dado passos para impedir que as pessoas utilizem o seu serviço com esses propósitos”.

No documento, o comité considera que o Facebook poderia ter feito mais e se tivesse actuado talvez o soldado não tivesse morrido. “Se o MI5 [serviço britânico de informações secretas] tivesse tido acesso à conversação, a investigação a Adebowale ter-se-ia tornado uma prioridade”. “É difícil especular sobre qual teria sido o desfecho, mas há uma possibilidade significativa de o MI5 ter conseguido evitar o ataque”, continua o relatório.

Com base na aparente negligência do Facebook, o comité considera que a rede social pode tornar-se um “paraíso seguro para os terroristas comunicarem entre si”.

Empresas como o Facebook, Google, Apple, Microsoft, Twitter e Yahoo têm uma posição bem firmada sobre a protecção da privacidade dos seus utilizadores, merecendo fortes críticas das autoridades. Um dos maiores críticos da política de privacidade destes grupos é o director do FBI, que acusa algumas destas empresas de terem ido “longe de mais” na protecção dos seus utilizadores e lamenta que os poderes das autoridades estejam a ser fortemente diminuídos com a era “pós-Snowden”.

Também o próprio primeiro-ministro britânico, David Cameron, acusou as empresas com serviços online de falharem no apoio dado no combate ao terrorismo, considerando que estas têm um “dever moral” de agir, porque as suas “redes estão a ser usadas para planear homicídios e o caos”. “É sua responsabilidade social actuar nestes casos e esperamos que estejam à altura dessa responsabilidade”, reforçou Cameron.

O primeiro-ministro pretende criar novas leis que garantam o poder dos serviços de segurança vigiarem a actividade online de potenciais terroristas, mas Cameron tem enfrentado obstáculos apresentados pelos democratas-liberais.

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