Facebook admite que interfere nos temas populares

Rede social acusada por antigo trabalhador de "bloquear" histórias de direita. Zuckerberg anuncia investigação.

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A maior rede social do mundo tinha 1650 milhões de utilizadores mensais activos AFP PHOTO / KAREN BLEIER

Os temas populares (trending topics) do Facebook não espelham exactamente os assuntos que a cada momento são os mais populares. A empresa que gere a maior rede social do mundo veio a público confirmar que existe intervenção humana, depois de ter sido acusada, por antigos funcionários, de "suprimir sistematicamente notícias que interessam à direita".

A acusação foi publicada no início desta semana, no popular blogue Gizmodo, que explora temas como design e tecnologia. "Levámos estas denúncias a sério", respondeu o dono do Facebook, Mark Zuckerberg, quinta-feira. "Temos regras rigorosas que não permitem que se dê prioridade a um ponto de vista em detrimento de outro ou que se suprimam opiniões políticas. (...) Estamos a  investigar estas alegações de modo a garantir que a nossa equipa protegeu a qualidade do nosso produto", reagiu o fundador do Facebook e presidente da empresa, num post publicado na sua própria conta, três dias depois de terem sido levantadas as suspeitas de interferência humana nos chamados trending topics.

De acordo com os ex-funcionários ouvidos pelo Gizmodo, que não revelou a identidade deles, os temas que a rede social apresenta como sendo os mais populares em cada momento não espelhariam a realidade. "Trabalhadores do Facebook suprimem regularmente notícias ou histórias que teriam interesse para leitores de direita", disse um jornalista que trabalhou com o Facebook, dando exemplos de temas ligados ao Partido Conservador dos EUA. Um depoimento que seria corroborado por outros ex-funcionários, que trabalhariam como "curadores de notícias" no Facebook, e que, segundo dizem, tinham instruções para "injectarem artificialmente" determinadas histórias no módulo dos trending topics, mesmo que os temas em causa não estivessem, de facto, a ser populares naquele momento.

Além disso, estes trabalhadores externos, que seriam contratados em regime de prestação de serviço, também deveriam evitar que as próprias notícias sobre o Facebook emergissem entre as mais populares. No dia em que Zuckerberg veio tentar desmentir estas alegações, afirmando que "não foram encontradas provas" de que a notícia do Gizmodo fosse factualmente correcta, o jornal inglês The Guardian revelou publicamente o conteúdo de documentos internos daquela rede social que, por seu lado, confirmavam que os temas populares apresentados aos utilizadores não resultavam apenas de um algoritmo.

A questão não é de pormenor, quando se tem em conta que o Facebook é actualmente o maior distribuidor de conteúdo do mundo, contabilizando 1650 milhões de utilizadores mensais activos (dados de 31 de Março deste ano). Isto porque a suspeita de interferência humana põe em causa aquilo que a empresa (e o seu fundador) afirma que faz e, mais importante ainda, o eventual impacto que isso terá na percepção da realidade por parte dos utilizadores.

As suspeitas já chegaram ao Senado norte-americano, com o presidente da comissão do comércio, John Thune, a pedir um inquérito ao caso no Congresso. O que é facto é que a página em que o Facebook explica como funciona o módulo dos temas populares, nada é dito sobre a intervenção de humanos: "O separador Populares mostra-te uma lista de tópicos e hashtags que obtiveram, recentemente, muita popularidade no Facebook. Esta lista é personalizada com base em vários factores, incluindo as Páginas de que gostaste, a tua localização e o que é popular no Facebook."

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Zuckerberg diz que a empresa não encontrou provas de que as histórias que interessam à direita sejam escondidas REUTERS/Stephen Lam

Baseado nos documentos a que diz ter tido acesso, o The Guardian afirma que a rede social sediada em Menlo Park, na Califórnia, "depende fortemente da intervenção de uma pequena equipa editorial para definir o que entra e o que é apresentado no módulo dos temas populares". Uma semana antes, o mesmo Gizmodo descrevia, num outro texto publicado acerca do serviço de trending news (notícias populares), lançado em 2014, que havia dentro do Facebook equipas constituídas por jovens jornalistas, formados nas melhores universidades dos EUA, mas que trabalhariam "em condições deploráveis, no meio de uma cultura imperiosamente secreta e sujeitos a tratamento humilhante".

Porém, à semelhança de Zuckerberg, outros ex-trabalhadores do Facebook negaram, em declarações ao The Guardian, que a rede social discrimina notícias ou histórias que interessem a leitores da direita, confirmando apenas que o elemento humano "é relevante" na gestão dos temas populares.

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