Gémeos britânicos gastaram mais de mil euros em jogos no iPad dos pais

Caso dos Griffiths não é único. Em Março, Sharon Kitchen recebeu uma factura de 2200 euros em despesas com extras do jogo preferido do filho. Num e noutro caso, a Apple reembolsou os pais.

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A Apple reembolsou os pais Reuters

Quando Ashley Griffiths abriu o seu email no domingo e viu várias mensagens vindas da Apple detalhando quatro páginas de despesas, não percebeu logo do que se tratava. Sem saber, gastara mil libras (1250 euros) em compras digitais num jogo infantil no iPad. Os filhos gémeos tinham estado a jogar no fim-de-semana e tinham comprado dezenas de animais domésticos e de peças de roupa virtuais. Quantos mais animais coleccionassem, melhor. Foram acumulando figuras para o jogo, em extras que começavam por custar poucas libras mas podiam chegar às dezenas. Muitos jogos começam por ser gratuitos, e são apresentados como tal, mas cobram as actualizações sugeridas à medida que o jogo se prolonga e avança.

“Quem podia alguma vez pensar que um animal virtual iria custar 75 libras?”, questiona-se Ashley Griffiths, em declarações ao jornal britânico Daily Telegraph. Diz-se “chocada” por constatar que uma simples password bastava para aceder aos cartões de crédito.

Estes jogos estão desenhados para facilitar compras “inocentes” de crianças, critica, e pede novas leis que restrinjam essa possibilidade, numa altura em que o debate sobre o tema se intensifica no Reino Unido e também os pais são aconselhados a limitar o acesso dos filhos pequenos a jogos digitais.

A Apple reembolsou os pais dos gémeos da quantia gasta, num gesto de boa vontade, descreve o Daily Telegraph, como já tinha feito num caso recente também no Reino Unido.

Foi em Março que Sharon Kitchen contou aos jornais como o seu filho de cinco anos gastara inadvertidamente 1700 libras (2200 euros). Na posse de uma palavra-chave, que lhe era pedida para o Zombie vs Ninja, jogo gratuito, a criança conseguiu sozinha chegar à loja da Apple e encomendou dezenas de extras.

O Office for Free Trading (OFT, Departamento para o Comércio Livre) reagiu anunciando, pouco depois, uma investigação a uma nova geração de jogos introduzidos no mercado. Os responsáveis prometeram debruçar-se em especial sobre os jogos, cujo download em smartphones ou computadores era gratuito, mas que rapidamente implicavam gastos para prosseguir. E anunciavam possíveis restrições a ofertas apresentadas como “gratuitas”.

No fim de Setembro, o OFT avançou com uma carta de princípios que, entre outras coisas, impede pagamentos feitos ou recebidos dentro dos jogos, abrindo apenas uma excepção em caso de consentimento informado e autorizado de um encarregado de educação. Na lista dos outros princípios agora estabelecidos está também o dever de informar, de forma clara e transparente, sobre as condições dos jogos.

“Preocupa-nos o facto de pais e crianças estarem a ser submetidos a uma pressão injusta para fazer uma despesa quando estão a jogar jogos que julgavam gratuitos, mas podem afinal resultar em custos substanciais”, disse, também citado pelo Daily Telegraph, um dos directores do OFT em Abril.

Também a frequência dos casos conhecidos de crianças que reagiram de forma excessiva à impossibilidade de jogar ou à dificuldade em aceder a um universo a que se habituaram, levou a OFT a agir. 

"Dependência digital"
O caso de uma menina de quatro anos que começou a ser tratada por dependência correu os jornais britânicos em Abril, abrindo também espaço à voz de médicos e especialistas, que alertam para o uso excessivo diário a que muitas crianças estão expostas, sem supervisão parental. Neste caso, a menina tinha adquirido o vício num ano em que se tornara habitual para ela estar “ligada” entre uma a quatro horas por dia.

Especialistas britânicos, como o psiquiatra Richard Graham, alertaram então para os efeitos “perigosos” de longo prazo que podem advir do uso prolongado destes dispositivos. E estimam em 30% a percentagem de pessoas “digitalmente dependentes”. Richard Graham avisou, entre outras coisas, para a dificuldade que os jovens sentirão mais tarde em desenvolver relações sociais num quadro normal, “ávidas” que estão de “interacção constante”.

E os pais, que na maioria concordam que as crianças passam demasiado tempo ligados, “continuam a escolher entretê-los dessa maneira”, disse ao Daily Telegraph.

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